Jornal Estado de Minas

'Puxadinho' do Iate pode impedir que Complexo da Lagoa da Pampulha ganhe título da Unesco

Alterações feitas ao longo dos anos no clube ameaçam reconhecimento do complexo como patrimônio mundial. Adequação exige demolições e obras de alto custo

Mateus Parreiras

Visto da igrejinha de São Francisco de Assis, "anexo" do clube obstrui toda a visão da estrutura projetada por Niemeyer - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press


Modificado nos últimos 40 anos por construções que obstruem a conexão visual entre as obras de Oscar Niemeyer, o Iate Tênis Clube (ITC) pode impedir que o título de Patrimônio Cultural da Humanidade seja concedido ao Complexo da Lagoa da Pampulha. Para que isso não ocorra, o Iate precisa passar por obras de demolição e restauro de grande porte, até o ano que vem. A informação era tratada reservadamente, em negociações que envolvem a diretoria do clube, a Fundação Municipal de Cultura (FMC), o Itamaraty e os institutos estadual (Iepha) e nacional (Iphan) do Patrimônio Histórico e Artístico.

A própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que acompanha o processo junto ao Centro do Patrimônio Mundial – órgão que concede o título –, informou desconhecer a situação. A FMC reconhece que os entendimentos têm de ser acelerados, já que em setembro ocorrerá uma visita técnica da missão da Unesco, e a solução precisa estar em andamento. Contudo, grande parte das decisões depende do clube.

O problema mais grave do Iate é a edificação que a Fundação de Cultura classifica como “anexo”, mas que, nas tratativas do Iphan e do Iepha, já é chamado informalmente de “puxadinho”: trata-se do prédio de dois andares não previsto na planta original de Oscar Niemeyer, onde funciona atualmente uma garagem, um salão de festas e uma academia. “Há um termo de cooperação assinado pelo ITC para solucionar as estruturas impactantes. Na última visita de um consultor uruguaio para a candidatura do complexo, ele avaliou que a Pampulha tem tudo para se tornar patrimônio da humanidade, mas há um grave elemento impactante, que é o anexo”, afirma a diretora de Museus e Centros de Referência da fundação municipal, Luciana Seres.

Demolição

Uma das soluções apontadas por arquitetos consultados pelos órgãos de patrimônio seria a demolição do segundo andar do anexo.

“A questão é de permeabilidade visual. O argumento arquitetônico prevê a articulação do espelho d’água com os monumentos, de forma que da igrejinha e do Museu de Arte da Pampulha se possa ver o Iate Tênis Clube e vice-versa, o que esse anexo tem atrapalhado”, aponta a diretora da fundação.

Mas a demolição não é tudo. Pelos relatórios da consultoria, é preciso ainda que outras intervenções que descaracterizam o clube sejam sanadas, como o muro da entrada, a portaria que antecede o edifício principal, a varanda anexa ao restaurante, uma das piscinas e duas torres de caixa-d’água que obstruem os jardins de Burlemarx. Resolvidas essas questões, ainda é necessário que os edifícios originais passem por restauração.

.