“Estudos mostram que 90% dos óbitos durante a prática de exercícios físicos são de pessoas que tinham algum tipo de doença do coração silenciosa, que não se manifestava e não foi detectada a tempo. O esforço próprio da atividade física pode contribuir para precipitar uma arritmia – quando o coração bate de forma irregular – e levar à morte.” Segundo o médico, outras causas podem resultar em morte súbita durante a prática de esportes, como quadros de hipertermia (elevação abrupta da temperatura corporal), crises de asma, acidente vascular cerebral (AVC), mas eles não são compatíveis com o quadro apresentado pelo adolescente Luiz Gustavo quando desmaiou na academia. O especialista ressalta, no entanto, que somente o laudo de necropsia poderá identificar a causa da morte do estudante.
Assim como o cardiologista, o clínico-geral Edilson Corrêa de Moura, referência técnica da Secretaria Municipal de Sáude, alerta que o caso de Luiz Gustavo deve repercutir para melhoria dos procedimentos internos em academias, no sentido de atestar a saúde e aptidão do aluno antes das atividades. Mas Edílson alerta: “A morte dele é uma exceção. A atividade física regular promove a longevidade e a qualidade de vida”.
Estudos médicos apontam que três em cada 1 mil atletas de até 35 anos têm algum tipo de doença cardíaca grave, que pode resultar em morte. Segundo Haroldo Aleixo, os exercícios físicos, principalmente os intensos e de alta performance, podem precipitar arritmias nessas pessoas, já suscetíveis. “O que mais preocupa é que nestes casos a primeira manifestação muitas vezes é a própria morte súbita”, afirmou, lembrando que são raros os casos em que a arritmia resulta em parada cardíaca e o paciente é reanimado. Apesar de considerar baixa a incidência de 3 casos a cada grupo de mil pessoas , o médico faz um alerta: “Ao submeter-se a uma avaliação médica, disfunções podem ser identificadas e o tratamento, clínico ou cirúrgico, adotado. Além disso, o médico vai avaliar se o paciente pode ou não praticar atividades físicas, e determinar a intensidade”, explica.
Na opinião do especialista, ainda há quem entenda essa exigência como mera formalidade. “Há academias que pedem o atestado médico, especialmente as maiores e de maior destaque na cidade. Mas, atualmente, o número desse tipo de estabelecimento é muito grande e não é possível dizer se essa é uma prática global. Como muitas não são nem mesmo registradas, esse pode ser um fator para desistirem da exigência”, afirma Haroldo, apontando também a concorrência como outro fator para que o exame médico não seja cobrado. Ainda segundo o cardiologista, a desinformação pode pesar. “Acreditar que é raro alguém morrer praticando exercícios pode fazer as pessoas pensarem que isso vai não acontecer. Mas todo mundo está suscetível”, alerta.
Apesar de o caso de Gustavo não estar relacionado ao uso de substâncias para melhorar a performance o treino, o especialista faz ressalvas sobre o o uso de termogênicos – produtos à base de cafeína para melhorar a performance no treino e acelerar o metabolismo. “Alunos com o coração saudável, mas que fazem uso de termogênicos, podem desenvolver doenças cardíacas que levam à morte. Esses produtos são perigosos e não devem ser consumidos”, adverte.
FISCALIZAÇÃO Em relação à afirmação do Conselho Regional de Educação Física (Cref6-MG), de que a maioria das academias não pede atestado médico, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a exigência de apresentação do exame pelo frequentador é um dos itens cobrados dos estabelecimentos na fiscalização. A secretaria afirma ainda que as vistorias são feitas a partir do momento em que a academia entra no banco de dados da Vigilância Sanitária, depois de iniciado o processo de obtenção do alvará sanitário, documento que a Gym não tinha. Nesse caso, sustenta, a fiscalização só ocorreria se houvesse denúncia.
Antes de conceder o alvará sanitário, fiscais visitam o local e verificam se cumpre todos os pré-requisitos exigidos. A secretaria admite que a academia não foi vistoriada. “Trata-se de uma academia que até o presente momento não atendeu aos quesitos para o funcionamento regular, não possuindo sequer requerimento de alvará sanitário e, por isso, não estava no roteiro pré-definido de vistoria.”..