Jornal Estado de Minas

São Sebastião do Maranhão se une no luto

Velórios dos 6 mortos em acidente entre van e caminhão na Fernão Dias reúnem multidão no pequeno município São Sebastião do Maranhão. prefeitura decretou luto de três dias

Mateus Parreiras - Enviado especial

Caixões não puderam ser abertos e parentes se emocionaram na última despedida - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press


São Sebastião do Maranhão – O dia nem tinha raiado ainda e uma vigília de religiosos percorria as ruas de São Sebastião do Maranhão com velas nas mãos e repetindo preces. Na madrugada mesmo, começou a despedida dos seis cidadãos dessa pequena cidade, de 10 mil habitantes, no Vale do Rio Doce, mortos num acidente ocorrido na quinta-feira, na BR-381, em Oliveira, na Região Central de Minas. Todos eram ocupantes de uma van que vinha de São Paulo e bateu numa carreta. O motorista do veículo de carga também morreu. A Matriz de São Sebastião e o Sindicato Rural, locais escolhidos para os velórios, ficaram apinhados de gente que se emocionou quando os seis caixões lacrados chegaram do Instituto Médico Legal de Campo Belo. Parentes se desesperaram por não poder ver seus entes nessa última despedida, mas, devido à gravidade do acidente, os caixões ficaram fechados.

Morreram o motorista da carreta, Dejair Coelho de Souza, morador de Santa Gertrudes (SP), um dos motoristas da van e dono do veículo, Ivanildo Alves Shimith, de 30 anos, e as passageiras Ana Rodrigues Carneiro, de 75, Aparecida Carneiro Morais Costa, de 32, Ana Guedes Gomes dos Santos, Maria Aparecida Fonseca Pires e Rita Ferreira de Souza Alves, de 48. O segundo motorista que estava ao volante da van, Adriano José da Silva, sobreviveu e está internado com traumatismo craniano na Unidade Regional de Pronto Atendimento de Lavras, no Sul de Minas.

A lembrança da tragédia antecedeu a chegada dos corpos e uniu em luto a cidade. Vários edifícios estenderam faixas pretas nas janelas e varandas em solidariedade.
A prefeitura decretou luto oficial de três dias e feriado nessa sexta-feira. O comércio baixou as portas e os lojistas pregaram avisos de condolências nas paredes dos estabelecimentos. Uma moto com equipamento de som circulou pelas ruas de calçamento de paralelepípedos emitindo avisos de luto e informando sobre o velório.

Entre a multidão que tomou a praça central e a igreja para prestar suas homenagens estavam familiares de vítimas ainda atordoados. Muitos choraram a morte de mais de um ente, como a auxiliar de produção Marcielle Teixeira dos Santos Shimith, de 21, que perdeu o marido, Ivanildo, e a irmã, Rita. “Ainda estamos sem ação. Sem saber o que fazer ao certo. É como se tivessem arrancado um pedaço do meu coração”, disse.

A filha do casal, Yasmim Vitória de Souza Shimith, de 5, ainda não entendia bem o que ocorreu. Triste, repetia ter saudades do pai, chorava, e se via perdida entre a multidão consternada na porta da igreja, sem saber com quem conversar e até se corria com as outras crianças pequenas que brincavam de pique entre as árvores.

O irmão de Ivanildo, José Alves dos Santos, de 35, lembra que o caçula comentou ter muitos planos antes de viajar. “Ele queria ampliar a empresa de transportes, porque estava atendendo muita gente que precisa ir a São Paulo para trabalhar ou visitar parentes”, conta. A viúva, Marcielle, lembra de ter comentado sobre os perigos da estrada. “O movimento de carretas é pesado demais (na Fernão Dias). Mas o Ivanildo dizia estar sempre com Deus ao seu lado. Era um homem guerreiro, um ótimo pai e marido”, afirma.

Outra irmã de Rita, Maria da Penha Teixeira dos Santos, de 39, conta que a passageira da van estava fazendo tratamento de saúde em São Paulo.
“Ela estava com problemas nos rins e na coluna. A morte dela deixou todo mundo atordoado, porque era uma pessoa que ajudava muito as pessoas. Acompanhava os doentes, alegrava quem estava triste e aconselhava quem tinha problemas”, afirma.

VIDAS MARCADAS

Cada uma das vítimas era membro ativo de uma comunidade pequena e unida onde praticamente todos se conheciam. Entre eles estavam, por exemplo, uma professora, a funcionária do único restaurante, a cunhada de um vereador e o dono de uma transportadora. “As pessoas estão muito solidárias e tristes também. Nunca tínhamos enfrentado uma tragédia como essa por aqui e isso vai nos deixar marcados”, disse a secretária municipal de Saúde, Renessa Alves Damasceno. Segundo ela, muitos parentes das vítimas precisaram ser medicados no posto de saúde por problemas de pressão e emocionais desencadeados pela perda.

Auxiliando nos preparativos e também no conforto dos parentes, o padre Amarildo Dias da Silva, que está na cidade há apenas 10 meses, também disse ter sentido o desafio. “Nossa formação como sacerdote nos prepara para muitas situações e para ajudar a comunidade, mas qualquer pessoa que vê o desespero de uma filha em saber que a mãe que estava voltando de viagem não vai mais chegar é muito triste e marca nossa vida”, disse.

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