Como vivemos em Belo Horizonte? Vivemos alegres ou, quem sabe, “meio nostálgicos, achando o presente sem sentido”, como definiu o psicanalista Evaristo, vasculhando antigos LPs no Edifício Maletta, na Região Central da cidade.
Desde que começou a ser publicado o Assim vivemos, em agosto, foi possível perceber que o cotidiano dos moradores de Belo Horizonte é mais sutil, vanguardista e variado do que se imagina. Em seis meses da coluna, reproduzida na fan page do EM no Facebook e no Instagram, com cliques inspirados da equipe de fotografia, surgiram depoimentos que emocionam. Já outros são tão humildes que dão vontade de chorar, como o do gari Glauro, que retira as luvas da SLU para mostrar as mãos tremendo e o coração disparado: “Não sou muito de falar, não. Sou meio fechado. É que o mundo anda muito maldoso e violento. Às vezes, vou recolher o lixo na casa das pessoas e sou xingado”.
Há quem viva exclusivamente de vender palha italiana, como o doce José Alvim, de 63 anos.
RECORDE DE COMENTÁRIOS Na capital mineira, é possível flagrar mulheres que trabalham como carteiras, porteiras e lixeiras. Há também aquelas que se recusam a depilar as axilas, desafiando as convenções e provocando recorde de comentários da seção. E há também homens barbados que usam batom e vestem maiô de bolinhas no evento da Praia da Estação, caso do ator e performer Ed Marte. Ele apareceu de soslaio na coluna da ambulante Denice, que afirmou gostar de conviver com os jovens da classe média para aprender. “A Denice é muito querida pelo povo da Praia. Ela tem um astral bacana e uma alegria que encanta”, elogia o artista, que já lotou um perfil no Facebook, com 5 mil amigos.
Basta ter olhos para enxergar o jovem André, de 25, com seu quipá, ajoelhado em direção a Meca em plena Praça da Liberdade.
Não há regras para escolher quais personagens vão se destacar na multidão da metrópole. A beleza pode estar nas freiras paramentadas que não se importam em gentilmente conceder entrevistas, seguidas de modelos de salto alto que imploraram para não ser fotografadas. Na mesma página, pintam indígenas, a poderosa grafiteira Criolla e até um skatista de 35 anos, chamado de ‘tio’ pela galera mais nova do esporte.
A seção é inspirada no Humans of New York, que surgiu no verão de 2010 na metrópole nova-iorquina, com a intenção de criar um catálogo exaustivo de 10 mil moradores da Big Apple. Seu idealizador é Brandon, que assina só com o primeiro nome, sem apresentar idade ou sobrenome. É assim também que ele identifica as pessoas retratadas no blog, que já coleciona 8 milhões de seguidores e se multiplicou por diversas capitais, como Paris, Amsterdã, Roma e Teerã.
Com uma câmera na mão e um bloco de notas, Brandon capta flagrantes e histórias incríveis de anônimos da cidade. Até agora, já concluiu 5 mil perfis e diz ter conhecido algumas pessoas incríveis ao longo do caminho.
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