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Estado de Minas

Reportagem do EM percorre a capital de Norte a Sul de bicicleta

EM apresenta o 1º trecho de um teste de resistência por caminhos cada vez mais usados por ciclistas na capital: um roteiro de riscos, desafios e ameaças de Norte a Sul, sobre duas rodas


postado em 28/12/2014 06:00 / atualizado em 28/12/2014 18:55

Nesse desafio, foram 60 quilômetros pedalando entre estradas de terra, vias calçadas com paralelepípedo, ruas, avenidas, rodovias e apenas oito segmentos de ciclovias(foto: Mateus Parreiras e Leandro Couri)
Nesse desafio, foram 60 quilômetros pedalando entre estradas de terra, vias calçadas com paralelepípedo, ruas, avenidas, rodovias e apenas oito segmentos de ciclovias (foto: Mateus Parreiras e Leandro Couri)


Do sossego cercado de verde e do clima de interior nos extremos de Belo Horizonte à animosidade de um tráfego feroz, que disputa cada centímetro de asfalto – a ponto de a estupidez provocar acidentes –, os contrastes da capital mineira são ainda mais marcantes vistos por quem se equilibra sobre as duas rodas de uma bicicleta. O veículo mais vulnerável nas ruas, segundo define o próprio Código de Trânsito Brasileiro (CTB), sofre com a falta de prioridade, de estrutura e com a intolerância dos motoristas. Foi o que comprovou a equipe do Estado de Minas, pedalando do Sul ao Norte e do Leste ao Oeste da capital mineira, em uma verdadeira corrida de obstáculos. A maratona revelou perspectivas diferentes da cidade: ilhas de tranquilidade sitiadas pelo ritmo acelerado das áreas mais densamente povoadas e pela guerra do asfalto, tudo observado sob a ótica do mais fraco, muitas vezes tratado como um intruso.

Veja o vídeo:



Nesse desafio, foram 60 quilômetros pedalando entre estradas de terra, vias calçadas com paralelepípedo, ruas, avenidas, rodovias e apenas oito segmentos de ciclovias, que somam não mais que 13,5 quilômetros. Palco de raras cenas de respeito, mas também de ataques e fechadas que por pouco não terminaram em acidentes, a travessia ciclística entre os extremos de BH revela um roteiro de contemplação e perigos.

Nossa jornada começa aproveitando as ladeiras onde brotam nascentes rumo à topografia plana do curso do Ribeirão Arrudas, a partir da Serra do Rola Moça, no extremo Sul de BH. Pelas trilhas de terra escavadas em um terreno onde o minério de ferro aflora, os arbustos do cerrado vão sendo suplantados por árvores na transição para a mata atlântica. Ao fundo, entre os morros, a cidade se alastra no horizonte para o Norte, como uma mancha cinza distante o suficiente para não interferir nos sons de pássaros e insetos. A tranquilidade e a segurança são aproveitadas por atletas do Barreiro, que chegam pedalando em busca de saúde. Do lado de fora, até a portaria do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, enfrentam uma estrada íngreme, de curvas fechadas, sem acostamento ou estruturas de segurança, como guard rails e muretas no viaduto sobre a linha férrea, que tem ainda tráfego de caminhões e ônibus velozes.

Esportistas de ponta, como Willian Carvalho, de 55 anos, conhecido como Japão, que numa manhã sobe 10 vezes os morros da estrada para o Rola Moça, se refugiam nesse santuário para ganhar preparo para provas ciclísticas no Brasil e no exterior. “Aqui encontro paz para me concentrar. Mas não me arrisco no trânsito, porque não há lugar para pedalar”, afirma. Mas por lá há também pessoas em bicicletas mais simples, buscando o mesmo efeito, como o segurança patrimonial Fernando Fernandes, de 58, que reforça o condicionamento para maratonas. “No trânsito, só de carro. Aqui é tanta liberdade para pedalar que nem parece Belo Horizonte. Tem até cachoeiras”, afirma. “O principal para mim é o verde e as surpresas de encontrar pássaros, micos e outros animais silvestres”, diz o funileiro Jefferson Oliveira Silva, de 36.

PERIGOS As ruas da porção Sul do Barreiro ainda desfrutam de uma rotina lenta, com relativamente poucos veículos e um clima interiorano. Nas padarias, sacolões e quitandas, moradores se encontram e demonstram intimidade raramente observada em áreas mais adensadas. Mas tudo isso desaparece depois dos morros da Via do Minério, quando as bicicletas atravessam o elevado sobre o Anel Rodoviário, o corredor mais movimentado da capital, que figura ano após ano entre os campeões de acidentes e mortes. Mesmo fora de suas pistas, a rodovia exerce uma influência visível na região, não apenas pelos veículos que seguem para ela ou que vêm de lá, mas também pelas estruturas de galpões, oficinas, borracharias e comércio de movimento intenso que orbitam a estrada.

Sem acostamento, a travessia do Anel para a Via 210, no Bairro Betânia, na Região Oeste de BH, deve ser feita pela passarela, carregando a bicicleta, uma vez que os veículos desenvolvem alta velocidade e ocupam todas as três faixas disponíveis no asfalto. Mesmo vendo as bicicletas de longe, motoristas protestam quando precisam reduzir a velocidade e esperar oportunidade para ultrapassar os ciclistas. Em nossa jornada, por várias vezes carros, motocicletas e até ônibus passaram a poucos centímetros das bikes, alguns nitidamente tentando assustar os ciclistas – como se fosse preciso, em uma travessia que por si só é suficientemente tensa. A velocidade e a proximidade com o tráfego eram tamanhas nesse percurso que parecia que a cada deslocamento de ar de carretas e carros a bicicleta seria derrubada. Evitar acidentes nesse trecho de alto risco era só mais uma missão na nossa jornada.


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