Jornal Estado de Minas

'Estamos nas mãos de Deus', diz secretario de Agricultura de Francisco Sá sobre a seca

O município, onde foi decretado estado de emergência em 25 de setembro, continua sofrendo com a herança da estiagem, com racionamento na área urbana e milhares de famílias da zona rural abastecidas por caminhões-pipa

Luiz Ribeiro
Quem chega hoje a Francisco Sá, cidade de 23,4 mil habitantes, a 485 quilômetros de Belo Horizonte, não encontra mais aquele aspecto desolador, com vegetação esturricada e carcaças de animais no meio do pasto, verificado ao longo de quase oito meses, quando a região enfrentou uma das piores secas da história.
O verde voltou e os agricultores começaram a se animar, plantando suas roças. Mas é falsa a impressão de que está tudo bem. O município, onde foi decretado estado de emergência em 25 de setembro, continua sofrendo com a herança da estiagem, com racionamento na área urbana e milhares de famílias da zona rural abastecidas por caminhões-pipa.


O secretário municipal de Agricultura, Sérgio Murilo Marques, salienta que o fato mais preocupante é que a barragem do Rio São Domingos, que fornece água para a cidade, está com apenas 13% de sua capacidade. “Nesta época, a barragem deveria estar com pelo menos 40%, como se encontrava no ano passado. A situação é muito preocupante”, enfatiza. “Neste mês, choveu apenas 44 milímetros na área da barragem, sendo que em dezembro de 2013 foram cerca de 550 milímetros de precipitação.”
Como medida para evitar o pior em 2015, a prefeitura decidiu manter o racionamento mesmo na época das chuvas. Mas a limitação do abastecimento na área urbana ao período de 9h às 18h é apenas um paliativo.

“Estamos nas mãos de Deus. Não temos alternativa para resolver o problema da água se não chover”, diz o secretário.


Da barragem do São Domingos também é retirada a água transportada em caminhões-pipa para a zona rural. Segundo a prefeitura, cerca de 7 mil famílias de 100 comunidades continuam sendo abastecidas por 12 veículos, como em pleno período seca.


Morador da comunidade de Traçadal, José de Aguiar Neto recebe água do caminhão que visita o lugar a cada 15 dias. Na localidade há poço tubular, mas a água é salobra – imprópria para o consumo humano. Não existe água de superfície, pois o Córrego Traçadal, completamente assoreado, permanece seco mesmo após as últimas chuvas. O agricultor lamenta os prejuízos, pois quase perdeu seu gado. “Vendi 60 cabeças pela metade do preço, para não deixar morrer de fome”, relata.


Os efeitos da estiagem prolongada são sentidos também em cidades como Monte Azul, no extremo Norte de Minas. O prefeito José Edvaldo de Souza (PP) disse que a chuva do fim de outubro elevou para 60% o nível da barragem que abastece a área urbana. Porém, mais de 600 famílias da zona rural continuam recebendo água por caminhão-pipa. “Choveu no fim de outubro e no início de novembro. Depois, faltou chuva e o pessoal perdeu tudo o que plantou. Continuamos precisando de muita chuva”, resume o prefeito.

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