Jornal Estado de Minas

Crianças reforçam campanha pela economia de água em BH

Para o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, a situação está sob controle

Jorge Macedo - especial para o EM

Junia Oliveira

Com seus cartazes, Bárbara Barbosa alerta vizinhos, colegas, parentes e conhecidos - Foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press

Elas são apenas crianças, mas têm consciência de quem quer viver muito. Em tempos nos quais a escassez de água deixou de ser ameaça para bater à porta de casas de todo o país, o exemplo da luta contra o desperdício vem justamente de quem é considerado “o futuro do Brasil”. Para garantir esse amanhã, a meninada está mostrando que não há idade e adotando uma conscientização sem a qual, segundo especialistas, a situação pode se agravar ainda mais.

Aluna do 6º ano do ensino fundamental, Bárbara Martins Barbosa começou uma verdadeira luta para chamar a atenção das pessoas do bairro onde mora, o Anchieta, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para o problema. Em ação totalmente espontânea, há cerca de 45 dias a menina começou a escrever e a desenhar cartazes, que distribui pela vizinhança. Quem lê se impressiona: “Uma gota salva uma vida. Contribua para a campanha de racionamento de água e energia”. A iniciativa nasceu em um dia em que, escovando os dentes, a menina pensou que, se fechasse a torneira, aquela economia poderia salvar alguém.

Estava lançada a ideia.

A garota pôs cartazes debaixo das portas dos vizinhos e, aos mais chegados, entregou em mãos, com direito a discurso. Depois, foi a vez de outros lugares: curso de inglês, padaria, oficina, sacolão, restaurante, salão de beleza, consultórios de psicologia e lojas. Ironicamente, o único local para onde não conseguiu levar a campanha foi o colégio onde estuda. Embora aprovada por professores e tendo conquistado a simpatia dos colegas, a coordenação pedagógica informou que era uma atitude individual e que, por isso, não poderia ser implementada na escola.

Já a coordenadora do curso de engenharia ambiental do Centro Universitário Newton Paiva, Érika Fabri, relata a importância dessas pequenas atitudes. “A Copasa tem que bombear água da represa e, depois, para os domicílios. Quanto menos água as pessoas gastarem, menor a quantidade a ser bombeada e menos o nível baixará”, diz.

Ontem, o Estado de Minas mostrou que a seca reduziu a vazão do Rio das Velhas à metade do previsto para esta época. Ao mesmo tempo, a Copasa foi obrigada a ampliar a captação em cerca de 8,5% para a Grande BH. A concessionária afirma que não tem atribuição legal para multar o desperdício, ação que depende de lei específica. Em BH, o Projeto 1.332/2014, apresentado na Câmara pelo vereador Jorge Santos (PRB), propõe a proibição do uso de mangueiras e de água pressurizada para limpar calçadas na cidade. Porém, apenas a partir de decreto da prefeitura.

A situação inédita na história de muitas cidades chamou a atenção também de alunos do Colégio ICJ, no Bairro Nova Suíça, Oeste de BH.
Desenvolvido entre alunos do 6º ano, o projeto “Água, nosso tesouro” estimula o uso consciente entre os estudantes. Exemplo de como o aprendizado extrapolou os muros da escola é da aluna Sofia Albuquerque, também de 11 anos, que pediu à mãe que parasse o carro para chamar a atenção de uma dona de casa que lavava o automóvel e a calçada com uma mangueira.

Para a coordenadora do ensino fundamental da escola, Érica Macedo, essa conscientização é fundamental. E os resultados aparecem rápido: tanto que os pais relatam que atitudes em casa já mudaram.

Controle

Para o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, a cidade, servida por três bacias hidrográficas, não chegou ao nível de uma crise de abastecimento. Ele sugere à Copasa que divulgue a situação do controle dos mananciais, interligados e monitorados on-line. “Felizmente, estamos no início da recarga do sistema. Esperamos que o volume de chuvas o mantenha em nível adequado. Evidentemente, o apelo para que a população economize água é sempre necessário”, disse Lacerda, ontem.

(Com Carolina Braga)

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