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Estado de Minas EPIDEMIA

Especialistas começam a treinar médicos para lidar com a febre chikungunya

Treinamento começa diante da constatação de que as condições são favoráveis à explosão no número de casos


postado em 21/10/2014 06:00 / atualizado em 21/10/2014 07:57

Principal forma de enfrentar a ameaça é eliminar criatórios dos mosquitos transmissores. Dificuldade de testes para diagnóstico do vírus é outro desafio para a saúde pública(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Principal forma de enfrentar a ameaça é eliminar criatórios dos mosquitos transmissores. Dificuldade de testes para diagnóstico do vírus é outro desafio para a saúde pública (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


O início do período chuvoso, previsto para fim de outubro e início de novembro, traz alívio para a seca, mas aumenta o risco de uma epidemia da febre chikungunya. O verão é ideal para reprodução do Aedes aegypti , mosquito que transmite tanto a enfermidade como a febre amarela e a dengue. “Temos o vetor, o vírus circulando e a população que é suscetível”, afirmou o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Vitor Laerte. Na tarde de ontem, quando o estado confirmava o segundo caso de contágio em Minas, ele iniciou treinamento para 300 médicos e enfermeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) e da rede complementar. À reportagem do Estado de Minas, o especialista afirmou que não se pode falar em termos de probabilidade, mas há confluência de muitos fatores para que ocorra um elevado número de casos. “É quase certeza que haverá uma epidemia”, disse.

A maior preocupação dos especialistas é de que a doença se alastre de forma rápida e coloque em risco as parcelas mais suscetíveis da população – gestantes, crianças com menos de 2 anos, maiores de 65 anos, pessoas com outras doenças associadas e alcoólatras. Um agravante é que o vírus pode ser transmitido verticalmente, da mãe para o bebê, no momento do parto. A criança pode desenvolver encefalite, com alto risco de morte, explicou o pesquisador da Fiocruz. Em Minas, foram registrados 16 casos suspeitos até o momento, nos municípios de Montes Claros, Contagem, Viçosa, Pitangui, Ipatinga, Lavras, Varginha e Belo Horizonte.

Dois casos foram o confirmados, o primeiro de uma mulher de 38 anos em Matozinhos (Grande BH), e o segundo, divulgado ontem pela Secretaria de Estado da Saúde, de outra paciente, de 34 anos, em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. “É um caso importado. A mulher vive na Venezuela e veio encontrar o marido”, informou a coordenadora do Programa Estadual do Controle Permanente da Dengue, Geane Andrade. Como há semelhança dos sintomas com outras doenças e é preciso aprimorar o diagnóstico, ela não descarta que haja subnotificação de casos. “Não podemos esperar a confirmação dos casos para começar a agir”, alertou. Em Feira de Santana, na Bahia, já foram registrados mais de 200 casos. De acordo com o assessor do Ministério da Saúde Rodrigo Said, é um fator de preocupação, uma vez que se trata de uma cidade com intensa circulação de pessoas, cortada por duas rodovias federais. “Fica a duas horas de Salvador, que é uma cidade turística. É uma rota de disseminação”, disse.

O pesquisador Vitor Laerte alertou para a importância de se fazer um diagnóstico correto, uma vez que os sintomas da dengue e da chikungunya são bem parecidos, mas o tratamento é diferente. Não bastasse o risco iminente de uma epidemia, o especialista da Fiocruz alerta para o fato de que há escassez de kits de exames de sorologia. Por isso, em caso de um aumento no número de casos, o diagnóstico deverá ser clínico-epidemiológico. “Em um situação de epidemia, não dá para pedir exame para todo mundo”, afirma. Vitor Laerte reportou a experiência na Martinica, onde esteve para tentar combater a epidemia da doença. “A transmissão é tão intensa e rápida que havia a crença de que a febre se transmitia de uma pessoa para outra. As pessoas não acreditavam que era por meio do mosquito.”

A maior preocupação dos médicos que participaram do treinamento é com a falta de estrutura para atender ao grande número de casos que podem surgir com o verão. “A epidemia está para ocorrer. Quando vier o período de chuva, a proliferação do mosquito será muito grande”, afirmou o médico da família Deiber Costa Silva, do município de Luz. O infectologista Ronald Roland, de Juiz de Fora, afirmou que, a partir de agora, a rede de saúde precisa se preparar para atender um número grande de pacientes. Segundo ele, é preciso de estrutura para dar respostas rápidas aos pacientes que chegarem desde a identificação dos sintomas, passando pela medicação, até se ter a certeza do diagnóstico.
 
EXAMES Para o diagnóstico preciso da chikungunya, podem ser realizados dois exames laboratoriais: o de biologia molecular e o de sorologia, com pesquisa de anticorpos IgM e de anticorpos IgG. Por ser muito caro, o primeiro não pode ser feito em larga escala. O segundo também não poderá, mas porque não há disponibilidade no mercado de substância necessária. Um dos insumos só é produzido no Centro de Controle de Doenças de Atlanta, nos Estados Unidos. “Como há epidemia em vários locais do mundo, não é só pedir. Para conseguirmos, o Ministério de Saúde teve que entrar em contato com o embaixador do Brasil nos Estados Unidos”, informou a bióloga responsável pela febre chikungunya na Fundação Ezequiel Dias (Funed), Elisa de Souza Lopes.


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