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Estado de Minas

Com temperatura recorde, BH fica envolta em estufa de fumaça favorecida por incêndios

Capital está em uma bolha de calor. Clima de deserto agrava sensação térmica e situação piora em ilhas quentes, como o Centro


postado em 15/10/2014 06:00 / atualizado em 15/10/2014 07:05

Mateus Parreiras

A capital vista do alto das mangabeiras: névoa seca e pontos mais quentes que a medição oficial, devido à remoção de áreas verdes, proliferação de prédios e impermeabilização do solo(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
A capital vista do alto das mangabeiras: névoa seca e pontos mais quentes que a medição oficial, devido à remoção de áreas verdes, proliferação de prédios e impermeabilização do solo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)

A massa de ar seco que dominou a maior parte do Brasil tornou Belo Horizonte prisioneira de uma névoa seca e cinzenta, agravada pelos vários incêndios na região metropolitana. Encoberta, a cidade viveu ontem o dia mais quente do ano, chegando a 36°C, e de menor umidade, com 12% – os desertos registram até 15% – segundo medição da estação meteorológica da UFMG. Mas o clima sufocante foi ainda pior para quem circulou pelos principais corredores de tráfego, como a Avenida Antônio Carlos, na Lagoinha, Região Nordeste, ou pelo hipercentro, onde se concentram serviços e repartições públicas. Com um termo-higrômetro, aparelho que quantifica a temperatura e a umidade de um ambiente, a equipe de reportagem do Estado de Minas mediu temperaturas acima da máxima registrada nas estações oficiais, chegando a 37,7°C na Praça Sete e a 37,4°C na Lagoinha, sendo que a umidade nos dois locais ficou em 16%.

Para se ter uma ideia do castigo fora de época que pesa sobre os belo-horizontinos, as médias históricas do mês de outubro projetam temperaturas de 28°C e umidade de 69%. A mudança é culpa da urbanização e da impermeabilização do solo, segundo especialistas. As temperaturas só devem baixar no fim do mês, com a ocorrência de chuvas, de acordo com o 5º Distrito de Meteorologia. O climatologista Wellington Lopes de Assis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que o clima da capital mineira tem se tornado mais quente e seco devido ao desmatamento e à expansão da cidade. “Removemos muita cobertura vegetal e impermeabilizamos o solo com asfalto e concreto. Por isso, temos menos evaporação e umidade no ar. A verticalização também modifica a dinâmica dos ventos e influi diretamente no clima. Tudo isso pode ser sentido em áreas recém-urbanizadas, como o Belvedere e o Buritis, que eram mais amenas quando havia matas”, afirma.

Clique e veja as temperaturas medidas em diferentes regiões de BH(foto: Arte/D.A Press)
Clique e veja as temperaturas medidas em diferentes regiões de BH (foto: Arte/D.A Press)
Os últimos dias têm sido sofridos para a estudante de administração Raquel Vieira Nunes, de 22 anos. O ar seco a deixou rouca, com tosse, a garganta inflamada e as narinas ressecadas. Na tarde de ontem, ela se deslocou pelos lugares mais quentes da cidade: a Praça Sete e a Avenida Antônio Carlos. Encarou um calor acima dos 37°C, de ônibus, para passear com o namorado no Parque das Mangabeiras. “Estou até tomando antibióticos, mas a secura e o calor estão insuportáveis. Não adianta ficar em casa, na sombra, sentar perto da janela do ônibus. A gente bebe água, se abana e nada tira essa quentura”, reclamou a estudante, que tentava se esconder sob uma fraca sombra projetada no passeio de concreto pelo abrigo de ônibus da Antônio Carlos.

Na avenida, o calor forte e a baixa umidade são resultado das últimas operações de duplicação da via e de concretamento do complexo viário implantado com o sistema BRT/Move, de acordo com avaliação do climatologista Wellington de Assis. “O mesmo corre na Praça Sete e no hipercentro de BH, onde predominam os edifícios altos e quase não se encontra mais vegetação”, afirma.

Em Venda Nova, a temperatura registrada pelo EM foi a mesma medida pela estação meteorológica da UFMG: 36°C. Mesmo com a umidade um pouco mais alta que o pior registro, chegando a 23%, por todo lado pessoas procuravam sombras, debaixo de sombrinhas e longe da fumaça quente dos canos de descarga de ônibus e carros que congestionam o corredor. As irmãs Jaqueline e Junia Leandro, de 35 e 30 anos, levaram os filhos pequenos para tomar picolé e fugir do calor dentro de casa, no Bairro Minas Caixa. Para andar pelas ruas debaixo do sol forte, cada criança ganhou uma garrafinha de suco ou água. “Estamos sem água há quatro dias e meus meninos estão sofrendo demais com o calor. Ficam em uma moleza danada, tossindo sem parar. Ninguém aguenta ficar dentro de casa”, disse Jaqueline.

Um dos filhos dela, Ezequiel Leandro, de 12 anos, sofre ainda mais, porque tem asma. “Em casa, a gente ainda ajuda ele a usar a bombinha (medicamento) quando tem crise. Mas na escola os funcionários não ajudam, porque têm medo de dar algum problema. Aí, ele fica sofrendo, sem poder respirar direito e tossindo sem parar”, reclama.

 


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