Mateus Parreiras
A massa de ar seco que dominou a maior parte do Brasil tornou Belo Horizonte prisioneira de uma névoa seca e cinzenta, agravada pelos vários incêndios na região metropolitana. Encoberta, a cidade viveu ontem o dia mais quente do ano, chegando a 36°C, e de menor umidade, com 12% – os desertos registram até 15% – segundo medição da estação meteorológica da UFMG. Mas o clima sufocante foi ainda pior para quem circulou pelos principais corredores de tráfego, como a Avenida Antônio Carlos, na Lagoinha, Região Nordeste, ou pelo hipercentro, onde se concentram serviços e repartições públicas. Com um termo-higrômetro, aparelho que quantifica a temperatura e a umidade de um ambiente, a equipe de reportagem do Estado de Minas mediu temperaturas acima da máxima registrada nas estações oficiais, chegando a 37,7°C na Praça Sete e a 37,4°C na Lagoinha, sendo que a umidade nos dois locais ficou em 16%.
Para se ter uma ideia do castigo fora de época que pesa sobre os belo-horizontinos, as médias históricas do mês de outubro projetam temperaturas de 28°C e umidade de 69%. A mudança é culpa da urbanização e da impermeabilização do solo, segundo especialistas. As temperaturas só devem baixar no fim do mês, com a ocorrência de chuvas, de acordo com o 5º Distrito de Meteorologia. O climatologista Wellington Lopes de Assis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que o clima da capital mineira tem se tornado mais quente e seco devido ao desmatamento e à expansão da cidade. “Removemos muita cobertura vegetal e impermeabilizamos o solo com asfalto e concreto.
Na avenida, o calor forte e a baixa umidade são resultado das últimas operações de duplicação da via e de concretamento do complexo viário implantado com o sistema BRT/Move, de acordo com avaliação do climatologista Wellington de Assis. “O mesmo corre na Praça Sete e no hipercentro de BH, onde predominam os edifícios altos e quase não se encontra mais vegetação”, afirma.
Em Venda Nova, a temperatura registrada pelo EM foi a mesma medida pela estação meteorológica da UFMG: 36°C. Mesmo com a umidade um pouco mais alta que o pior registro, chegando a 23%, por todo lado pessoas procuravam sombras, debaixo de sombrinhas e longe da fumaça quente dos canos de descarga de ônibus e carros que congestionam o corredor. As irmãs Jaqueline e Junia Leandro, de 35 e 30 anos, levaram os filhos pequenos para tomar picolé e fugir do calor dentro de casa, no Bairro Minas Caixa. Para andar pelas ruas debaixo do sol forte, cada criança ganhou uma garrafinha de suco ou água.
Um dos filhos dela, Ezequiel Leandro, de 12 anos, sofre ainda mais, porque tem asma. “Em casa, a gente ainda ajuda ele a usar a bombinha (medicamento) quando tem crise. Mas na escola os funcionários não ajudam, porque têm medo de dar algum problema. Aí, ele fica sofrendo, sem poder respirar direito e tossindo sem parar”, reclama.
.