Jornal Estado de Minas

Tempo oprime a Sabará do poeta

Em 1929, o itabirano Carlos Drummond de Andrade publicava o relato de uma encantada viagem à cidade histórica e já percebia os malefícios do tempo e da mão do homem. Oitenta e cinco anos depois, o município vive entre a necessidade de preservar valores culturais e a relutância de quem a vê apenas como mais um lugar para se viver

Tiago de Holanda
A tricentenária Sabará, concebida por bandeirantes sedentos de riquezas, um exemplo do estilo colonial de construir e de viver - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press

Se o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) pudesse visitar Sabará em 2014, sentiria o mesmo impacto de quando esteve lá há quase um século? “Esta viagem é uma revelação”, escreveu em uma crônica publicada em 1929 em um jornal carioca. A cidade vizinha a Belo Horizonte “nos espreita como uma cilada colonial”. Com “olhos ainda cheios de presente”, ele se impressionou com “linhas, cores e volumes de outrora, tão brutalmente distintos dos de hoje”. No entanto, o escritor já atentava para “certas formas de beleza que o homem e o tempo criaram e vão destruindo de parceria”.

Leia a crônica 'Viagem de Sabará', de Carlos Drummond de Andrade, publicada no livro Confissões de Minas

A destruição continua desde então e não foi interrompida nem após o Centro Histórico de Sabará ser tombado em 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O município, cresceu muito, assim como o restante da Região Metropolitana de BH, e chegou a 133 mil habitantes em 2013, segundo o IBGE. Isso dificulta a preservação do que resta dos séculos 18 e 19. Para piorar, os órgãos responsáveis por zelar pela valiosa herança têm dificuldade para agir em parceria. O Iphan critica a prefeitura, que rebate as queixas.
E as atuações de ambas as partes são reprovadas por promotora do Ministério Público Estadual na cidade.

Os moradores, por sua vez, se dividem. Muitos prezam a manutenção do patrimônio, mas há quem defenda que as regras de proteção sejam menos rigorosas. Alguns ressaltam que Sabará é pouco mais que dormitório para grande parte da população, que vai cedo à capital, onde estuda ou trabalha, e volta para casa à noite. Acreditam que essa rotina afrouxa os laços de afeto – e, portanto, cuidado – entre habitantes e cidade. Sabará é o tema de hoje da seção Ontem e hoje, que já retratou Ouro Preto, Conceição do Mato Dentro, Lagoa Santa e Confins em ocasiões anteriores.

Encanto e romantismo
Na crônica “Viagem de Sabará”, publicada em 1929 em O Jornal, do Rio de Janeiro, e depois incluída na coletânea Confissões de Minas, de 1944, Carlos Drummond de Andrade conta que visitou a cidade por duas vezes, mas não revela quando. Ficou encantado com “certas igrejas que envelheceram caladas e orgulhosas no seu incomparável silêncio”. Uma delas é a de Nossa Senhora do Carmo, construída na segunda metade do século 18 e tombada pelo Iphan. O poeta exaltou o “frontispício famoso, em que o Aleijadinho pôs todos os recursos de uma técnica extremamente apurada”, mencionando o pseudônimo do escultor Antônio Francisco Lisboa.

Rua Direita, em Sabará - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PressAs obras atribuídas a Aleijadinho continuam à disposição de boquiabertos visitantes. Também está lá “a cruz entre as duas torres”. Fixado em uma delas, o “relógio inútil, sem corda, não marcando nenhuma hora”, está funcionando, mas com apenas um ponteiro, o das horas – observando sua posição, é difícil adivinhar os minutos. O que mudou foi o largo da igreja, que a separa de um cemitério em frente. Ele deixou de ser “uma nesga de terra” e ganhou calçamento de pedra. E perdeu o “inesgotável silêncio”, atravessado o dia inteiro por carros e, o que é proibido, e até por caminhões, como o de placa de Contagem (Grande BH) flagrado pelo Estado de Minas na manhã de uma sexta-feira.

O poeta se alegraria, porém, se soubesse que o largo continua a abrigar “as mil coisas misteriosas que nele se agitam”.
Ainda acolhe “todas as melancolias, todas as delinquências, tudo o que não chegou a realizar-se”. Em uma manhã de quinta-feira, um casal se sentava em um banquinho à beira de um barranco, sob a sombra de uma árvore. A doméstica Nilza Pereira, de 63 anos, punha timidamente uma mão sobre outra do metalúrgico aposentado Milton Freitas, da mesma idade. O gesto simples, de aparência banal, era impulsionado por uma história rara e delicada, que, após ser bruscamente interrompida, retomava a intensidade de outrora.

Nilza e Milton tinham 14 ou 15 anos quando descobriram o amor. Não sabiam direito se era amor, mas estreavam como namorados. Conheceram-se em uma barraquinha de comida ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, também erguida no século 18 e tombada pelo Iphan. “Ele bateu o olho em mim e falou: ‘É aquela mesmo’”, conta a mulher, rindo. Os adolescentes ficaram juntos por dois anos, para desgosto do pai da moça. “Ele não gostava porque a gente era muito criança. Aquele tempo era muito certinho”, explica Nilza.

Um dia, ela se mudou para São Paulo para ver se a vida melhorava.
“Foi muito duro. Eu estava apaixonado”, lembra Milton. Nilza se casou na capital paulista; Milton também trocou alianças em Sabará. Depois, ambos se divorciaram. Há cerca de 25 anos, a mulher retornou a Minas e se fixou na capital. Vez por outra, ao visitar uma irmã que mora em Sabará, deparava-se com a antiga paixão. Os encontros, inicialmente furtivos, reanimaram o sentimento que parecia morto. O namoro recomeçou há um mês. Namorados, sim, mesmo Nilza tendo quatro filhos e 11 netos, e Milton, três filhos e cinco netos. Talvez decidam viver juntos, quem sabe? A mulher considera a possibilidade de voltar a morar em Sabará. “Em BH, tenho casa e trabalho, mas... Pode ser que alguém me chame para casar de novo”, disse, rindo e cutucando o aposentado.

'Tem uns 10 ou 12 anos que estamos tentando reformar a capela junto à prefeitura, mas não conseguimos', Maurílio Antônio Mateus, que ajuda a cuidar da Capela do Senhor Bom Jesus - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PressO conflito da arquitetura
Sabará é a menos “violenta” das “cidades tradicionais”, em comparação a Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei e Diamantina, escreveu Carlos Drummond de Andrade. O poeta não se referia a casos policiais, mas ao fato de ali estar “o passado ao alcance da mão, o passado acessível”, sem a imensa e incontornável bagagem histórica dos outros lugares. “Sabará vale assim como uma introdução ao passado mineiro”, concluiu, a nos espreitar “como uma cilada colonial”. Ao chegar a ela, o choque com o que resistia ao tempo produzia uma “sensação de queda no abismo, talvez o abismo dos séculos”.

Sabará perdeu muitas das riquezas que impressionaram Drummond, mas ainda é possível ter aquela sensação brusca de queda. Quem chega à cidade pela asfaltada Avenida Prefeito Vitor Fantini, que se estende à margem do Rio Sabará, cheia de edificações atuais, pode se surpreender ao se deparar com o calçamento de pedra da Rua Dom Pedro II, a antiga Rua Direita, tombada pelo Iphan. O logradouro, implantado no início do século 18, tem o conjunto mais significativo do acervo arquitetônico local, com expressivo número de edificações remanescentes do período colonial, informa o Iphan.

“Para mim, essa é a rua mais bonita de Sabará”, elogia Gabriela Marques, de 25 anos, auxiliar administrativa. Ela lamenta que a maioria dos jovens que conhece dê pouco valor à preservação do patrimônio, mais interessados nos atrativos de BH. “O pessoal da minha idade não está nem aí. Tem gente que nunca foi ao Museu do Ouro”, diz, referindo-se à instituição que funciona em um prédio do século 18, com móveis e outros objetos da época colonial, incluindo alguns ligados à prática da mineração. Nem é preciso sair da Rua Direita para avistar edificações que destoam do conjunto centenário. Na Praça Santa Rita, por exemplo, há uma agência bancária que parece uma grande caixa branca ao lado de uma casa de feições modernas, com uma larga garagem.

A aposentada Amália Rocha, de 74, gostaria de construir uma garagem na casa onde mora, na antiga Rua Direita. “Eu faria no lugar de um quarto, não seria problema, mas não adianta insistir com o patrimônio. A falta de garagem desvaloriza a imóvel.” Ela conta que já reformou o interior da residência. Na década de 1970 – a Rua Direita foi tombada em 1965 –, abriu um corredor com porta para a rua. Com a mudança, alguns aposentos foram reduzidos e passaram a ter janelas. “Os quartos mofavam por falta de ventilação, eram escuros.” Apesar dos desentendimentos com o Iphan, ela defende a preservação. “A cidade tem que manter sua história.”

A palavra patrimônio desperta sentimentos ambíguos em moradores. “Há benfeitoria que não é feita por causa do patrimônio. Essa rua, por exemplo, poderia ser asfaltada”, diz o metalúrgico aposentado Milton Freitas, de 63, apontando o calçamento de pedra em frente à Igreja de Nossa Senhora do Carmo. “Nas casas do Centro, não se podem tirar as janelas de madeira e pôr de ferro. Há quem tire as paredes de adobe para pôr de tijolo, mas a obra é embargada. Tem gente revoltada com isso”, diz ele, que mora perto da Igreja de São Francisco de Assis, tombada pelo Iphan. “É importante preservar, mas o patrimônio deveria ser mais flexível.”

História que o jovem não vê
“A água do Kakende, afirma o povo com absoluta certeza, prende como visgo”, relata Carlos Drummond. Essa não é a única crença popular envolvendo o Chafariz do Caquende, como é chamado oficialmente – sem os dois “Ks”. Outra afirma que o líquido cristalino, que brota espontaneamente do chão e segue canalizado até as duas bicas, secará se alguém tentar restringir ou controlar seu uso. O chafariz, em uma movimentada rua do Centro Histórico de Sabará, continua sendo um generoso bebedouro onde, diariamente, centenas de pessoas param para se refrescar e encher garrafas.

Em uma manhã de sexta-feira, o professor de geografia Gladstone Cássio, de 40 anos, juntou nas mãos um bocado de água e jogou no rosto, no pescoço, na nuca. Depois, encheu uma garrafa de 20 litros em uma bica. “Isso aqui é uma bênção! Temos que agradecer todos os dias”, alegrou-se, mas também fez um lamento. “Aqui ao redor do Caquende quase sempre tem cheiro de urina. Há pessoas sem noção de que o chafariz é importante.” Ele acredita que o descuido seja maior entre aqueles que se mudam para Sabará apenas para ficar perto da capital. “Pessoas com uma relação muito distante com a cidade.”

Quando se fala que Sabará é cidade-dormitório, moradores parecem não gostar. Por 20 anos, Gladstone trabalhou em BH. Saía de casa cedo e retornava à noite. “Pegava trânsito todos os dias. Era extremamente cansativo.” O dentista Hélcio Costa, de 75, cumpre essa rotina há 49 anos. Percorre 21 quilômetros entre sua casa, no Centro Histórico, e o consultório, na capital. Na tentativa de evitar engarrafamentos, decidiu adiantar os horários em que inicia a viagem, por volta 6h40, e em que encerra o expediente no fim da tarde. Apesar das idas e vindas, não cogita se mudar para BH. “Aqui, a vida é mais tranquila.”

Marília Viana de Paula, de 50, trabalhou em BH por cerca de 20 anos. Há um ano, aceitou o convite para ser recepcionista da Igreja de Nossa Senhora do Ó, construída no século 18 e tombada pelo Iphan. Em sua crônica sobre Sabará, Drummond aponta a “impressionante velhice dessa capelinha” e chega a reproduzir o texto de um ex-voto, que, emoldurado, continua exposto em uma parede do templo. Também observa “em suas decorações um pouco de chinesice (pinturas com traços e motivos chineses)”.

Gentil, Marília mostra as chinesices para o visitante curioso e “traduz” com facilidade o português peculiar do ex-voto. Em Sabará, ela mora com um filho e o marido, que há 30 anos trabalha como torneiro mecânico em Contagem, na Grande BH. “Ele sai por volta das 4h e volta à noite. Para vê-lo ao Sol só em fins de semana”, resigna-se, aos risos. Ela não sente saudade das idas e vindas à capital. “Gosto da minha cidade. Daqui (da igreja), eu vou para casa a pé. Vou parando, conversando com um e outro. As senhoras abrem a janela, a gente bate um papo.” Mas reconhece: “Sabará tem poucas opções de emprego, é quase uma cidade-dormitório”.

As poucas opções fazem com que os estudantes Harley Cândido e Gabrielle Bretas, ambos de 17, sonhem se mudar em breve. “Quero ir para BH ou outra cidade, para trabalhar”, diz o rapaz, namorado de Gabrielle. “Gosto de morar em Sabará, mas não quero ficar aqui para sempre. Quero ir para BH, fazer faculdade”, diz a moça. Ela não mostra muito apego pelo lugar: “Há outras cidades históricas mais bonitinhas. É bacana preservar, chama a atenção de pessoas de fora, mas a maioria do pessoal mais novo não está nem aí para isso”.

Relógio da Igreja de Nossa Senhora do Carmo: relíquia que não funciona - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PressHerança desfigurada
Em uma manhã de sexta-feira, no alto de um dos morros de Sabará, homens instalavam lâmpadas no lado de fora da Capela do Senhor Bom Jesus, tombada pela prefeitura municipal em 1999. Agendado para o dia seguinte, um casamento teria de ocorrer a céu aberto, em um espaço em frente ao templo, interditado desde o ano passado, à espera de uma reforma que nunca chega. A noiva havia feito a promessa de se casar ali, e, como ninguém conseguia dissuadir a devota, o jeito foi improvisar.

“Tem uns 10 ou 12 anos que estamos tentando reformar a capela junto à prefeitura, mas não conseguimos”, relata Maurílio Antônio Mateus, de 58 anos, voluntário que ajuda a cuidar do templo. Os cupins fizeram buracos no piso e corroeram o interior do altar de madeira, que tem peças se desprendendo. O homem mostra um emblema que ficava preso entre o altar e o teto. “Caiu há uns três anos.” O forro do teto tem tábuas meio soltas. Nas paredes, infiltrações e trincas. Em um banheiro, nos fundos, a porta foi quebrada e no chão há latas de alumínio, que foram usadas para consumo de crack. “Não mudou nada desde o tombamento.”

A capela “está para cair”, nas palavras do secretário municipal de Cultura, Kiko Vieira, também presidente do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural e Natural de Sabará. “O projeto de restauração está pronto, mas não conseguimos recursos.” Ele admite que, a cada ano, a cidade perde parte de sua herança histórica. Ele cita duas grandes perdas, ambas no antigo Largo do Rosário, atual Praça Mello Viana. Entre as décadas de 1960 e 1970, um solar colonial foi destruído por um incêndio e outro foi simplesmente derrubado. “Eles deram lugar a prédios modernos, que destoam completamente do entorno.”

Gladstone e a 'benção' da água que jorra do Chafariz do Caquende - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PressVieira diz que o ritmo de destruição de prédios antigos diminuiu, mas continua preocupante. “A situação se complica por causa da crescente urbanização da região metropolitana. Sabará virou dormitório e moradores perderam o sentimento de pertencimento à cidade. Não há cuidado com a memória do povo. Muitos deixam imóveis tombados se acabarem pela ação do tempo. Outros começam a derrubá-los pelos fundos, para não dar na vista. Em algumas casas, são mantidas apenas as fachadas.” Ele diz que, quando uma denúncia chega à prefeitura, obras não autorizadas são embargadas e o Iphan é comunicado. “Mas o instituto age tardiamente. Falta fiscalização.”

A superintendente do Iphan em Minas, Michele Arroyo, rebate as acusações de Vieira. Ela afirma que a prefeitura não cumpre o papel de fiscal do patrimônio. “O Iphan faz uma fiscalização regular nas cidades protegidas, mas não tem corpo técnico para um trabalho diário. A fiscalização diária, de rotina, é tarefa das administrações municipais. Em Sabará, toda a área tombada pelo Iphan também é protegida pela prefeitura. Ainda que não fosse, ela deveria fazer o monitoramento. O município de Sabará não tem uma estrutura formal de análise de projetos, não tem um corpo de fiscais.”

Apesar das dificuldades, Michele afirma que pouco do patrimônio protegido pelo Iphan se perdeu. “As características fundamentais dos tombamentos são preservadas, mas se limitam ao eixo da Rua Dom Pedro II. A área de proteção poderia ser maior se a cidade já não estivesse tão descaracterizada.” Ela analisa que, a partir das décadas de 1980 e 1990, o crescimento de BH estimulou a ocupação de Sabará, o que impôs novos desafios ao cuidado com a memória. “O Centro continua sendo a referência para os moradores. Por um lado, isso é bom porque mantém a vitalidade dessa área, mas resulta em maior circulação de veículos e pessoas.”

Falta diálogo para proteger
O Iphan e a prefeitura não conseguem garantir a sobrevivência da herança colonial, na avaliação da promotora Marise Alves da Silva, da 2ª Promotoria de Justiça de Sabará, que, entre outras atribuições, deve zelar pelo patrimônio histórico. “Entre as cidades históricas mineiras, esta está em pior situação.” No dia 12, a pedido do MP, a juíza Luciana Nardoni deferiu liminar embargando obras não autorizadas em um imóvel tombado no número 146 da Rua Dom Pedro II. A decisão obriga o Executivo municipal a fazer uma fiscalização. “Mandamos um ofício à prefeitura pedindo o embargo. Como nada aconteceu, recorremos à Justiça”, diz. “A casa fica a poucos metros da prefeitura, que foi omissa. Isso é revoltante.”

Além de modificações não autorizadas em imóveis, a área tombada de Sabará sofre com outras práticas proibidas, como o comércio ambulante, denuncia Marise. “Na Praça Mello Viana, há gente vendendo meias, cadarços, roupas íntimas. Também há muita poluição visual, com placas gigantescas de escritórios de advocacia.” Segundo ela, a prefeitura modernizou a praça em 2005 sem autorização do Iphan. A promotora afirma que o instituto federal abandonou a cidade: “Eu mando e-mails pedindo a vinda de técnicos, mas não recebo resposta”. Ela prevê um futuro sombrio para o patrimônio local: “A tendência é a cidade ficar totalmente descaracterizada. Aqui, há uma cultura de desleixo. Já ouvi dizer que o patrimônio só atrapalha, que gera pouca receita para o município”.

A superintendente do Iphan em Minas nega que o órgão tenha abandonado Sabará. “Temos ido lá pelo menos duas ou três vezes por mês. Normalmente, atendemos todas as solicitações de vistoria enviadas pelo MP”, afirma Michele. O município é um dos oito mineiros que receberão recursos federais do PAC Cidades Históricas. Ao todo, R$ 18,52 milhões estão destinados a nove ações, como a restauração do casarão do Museu do Ouro. “Como a prefeitura não tinha uma equipe que pudesse dar conta de todas as ações, o Iphan ficou com uma parte”, explica Michele. “Estamos com todos os projetos executivos prontos. Vamos abrir as licitações para as obras até o fim de outubro”, promete o secretário de Cultura, Kiko Vieira..