Coloridos e divertidos, eles fazem a alegria da criançada. Mas, apesar de parecerem inofensivos, brinquedos infantis instalados em praças e parquinhos podem representar risco para a segurança na hora da brincadeira. Quedas e outros acidentes em playgrounds resultaram, somente em Minas, em 624 casos de internações hospitalares de meninos e meninas, entre janeiro de 2008 e junho deste ano. Os dados são do Departamento de Informática do SUS (DataSUS), do Ministério da Saúde, e mostram que, dos acidentes registrados entre 1996 e 2012, 73 terminaram em morte. Os óbitos representam 25,6% dos 285 ocorridos no Brasil no período, e colocam Minas em primeiro lugar em número de casos no país. De olho nas estatísticas, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) quer criar regras para implantação desses espaços de lazer e, durante os próximos dois meses, vai ouvir a opinião da sociedade sobre os perigos na hora de usar as estruturas.
A consulta pública, lançada para verificar a segurança e viabilidade dos equipamentos, servirá de base para a elaboração de um dossiê que deve regulamentar a criação dos playgrounds. Chefe da Divisão de Articulação Externa e Desenvolvimento de Projetos Especiais do Inmetro, Gustavo Kuster afirma que todas as fontes de pesquisa usadas para abertura do processo “apontam para riscos derivados do uso inadequado e da falta de manutenção dos aparelhos, e não dos produtos em si”. Além dos dados do DataSUS, segundo Gustavo, foram avaliadas informações de uma pesquisa feita junto a creches e pré-escolas sobre acidentes em áreas de lazer, além de informações da Ouvidoria do Inmetro, do Sistema Inmetro de Monitoramento e Acidente de Consumo (Sinmac) e do site Reclame Aqui.
Qualquer cidadão pode contribuir com o envio de relatos de acidentes, críticas e sugestões para que, a partir daí, o instituto possa propor um regulamento técnico.
Exemplos de perigo citados por Gustavo se escondem em alguns dos brinquedos considerados prediletos pela meninada: o balanço e o escorregador. “Os dois são usados por crianças de todas as idades, quando deveriam ter como limite determinada faixa etária”, alerta.
O gerente de operações Marco Antônio Ferreira, de 43, permite que o filho Marcos Paulo Lopes Ferreira, de 3 anos, se divirta no escorregador – indicado para crianças de 4 a 12 anos –, apesar da pouca idade, mas não tira os olhos do menino. Frequentemente, os dois visitam o playground da Praça Juscelino Kubitschek, também conhecida como Parque JK, na Região Centro-Sul, onde o pequeno aproveita os brinquedos. “Todas as crianças gostam do escorregador e, como o Marcos pede, eu deixo. Mas fico atento”, diz.
O gerente de operações, entretanto, faz ressalvas sobre a segurança dos equipamentos. “O balanço, que está ao lado de aparelhos para faixas etárias mais novas, é alto e não tem um cinto para prender a criança. Acho perigoso”, diz. Ele ainda chama a atenção para a necessidade de manutenção: “Tem brinquedo quebrado, com ponta de ferro exposta. Além de adequados, os equipamentos precisam passar por reparos frequentes”.
Acostumada a levar o filho Arthur Onnis Tanure, também de 3 anos, ao playground da Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia (Centro-Sul), a estudante Paula Barroso Onnis, de 22, critica a altura de alguns brinquedos. “Mesmo para a faixa etária indicada, acho que aparelhos como o trepa-trepa (5 a 12 anos) ou o escorregador são altos demais para as crianças. Uma queda de um metro, por exemplo, pode resultar em fratura.”
Na mesma praça, o funcionário público Vanderlei de Matos, de 33, se desdobrava para cuidar dos dois filhos, Heitor, de 3, e Bernardo, de 1 ano e 8 meses, enquanto eles brincavam. “Não me descuido um minuto, porque eles querem ir em todos os aparelhos.
Prefeitura sem diretriz
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, o município não tem diretrizes específicas para a implantação de playgrounds e, por isso, a regulação do Inmetro será muito bem-vinda. Segundo a PBH, a instalação dos equipamentos segue “normas brasileiras pertinentes à engenharia, bem como as diretrizes e critérios que constam na Norma ABNT de Playgrounds (NBR 16071/2012)”.
De acordo com a assessoria de imprensa da administração municipal, parquinhos têm sido prioritariamente instalados por meio do Orçamento Participativo e nos projetos de urbanização das vilas e favelas, como parte do programa Vila Viva. “As estruturas estão recebendo equipamentos, principalmente, para a faixa etária de 2 a 6 anos, atendendo a demandas da comunidade”, informou a PBH em nota.
Palavra de especialista
Eliane de Souza, Coordenadora da Clínica Pediátrica do Hospital João XXIII
A importância da prevenção
É preciso acabar com a cultura de que acidentes acontecem. Acidentes são evitáveis e, para isso, pais, babás e responsáveis pelas crianças devem estar sempre por perto. As pessoas têm que entender que a curiosidade faz parte do desenvolvimento da criança e que ela faz coisas cujo risco não tem capacidade intelectual para avaliar. Por isso, o adulto deve estar sempre atento.