Jornal Estado de Minas

Degradação e sujeira consomem igreja na Avenida Alfredo Balena

Não há recurso para restauração da igreja, que é de 1901. Situação piorou com a perda da renda do estacionamento

Junia Oliveira
Um retrato da BH do início do século passado, em área nobre da cidade, cercada de sujeira e marcada pelo tempo - Foto: Leandro Couri/EM/DA Press

A história está escancarada para quem quiser conhecê-la. A pedra fundamental do templo imponente, em região movimentada de Belo Horizonte, em plena Avenida Alfredo Balena, na área hospitalar, mostra a data de início da construção: 1901. Hoje, 89 anos depois de terminada, a Igreja Sagrado Coração de Jesus, a segunda daquela capital recém-construída e que preserva uma parte das origens da cidade, pede socorro. Com sérios problemas estruturais e de segurança, a esperança é conseguir patrocínio do setor privado para a restauração do monumento tombado pelo patrimônio histórico em 1979.

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Por dentro, paredes descascadas e um aviso pedindo aos fiéis para não pôr os pés na parede, cujo barrado é de gesso, dão ideia da situação. Por fora, pichações na fachada de tijolos aparentes. A sujeira se espalha. O mato cresce nos jardins ocupados por moradores de rua e viciados em drogas.

As portas de madeira estão queimadas, sinais de um incêndio que quase tomou conta da igreja. Pelas escadas, fezes humanas e de animais são comuns.

Padre George Rateb Massis mostra o mau estado de portas e paredes - Foto: Leandro Couri/EM/DA PressO projeto da reforma da foi enviado há dois meses ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, assim que aprovado, o padre responsável pela igreja, George Rateb Massis, vai recorrer à Lei Rouanet de Incentivo à Cultura para tentar captar recursos. A Sagrado Coração foi a primeira paróquia católica árabe fora do Oriente. Desde a criação, congrega a comunidade sírio-libanesa cristã.

Muito procurada para casamentos, por causa da beleza e localização, a igreja entrou em decadência depois que o Conselho do Patrimônio da Prefeitura, em 2012, decidiu acabar com o serviço de estacionamento que era explorado no local por empresa privada. Além de renda para o templo, a atividade representava segurança, de acordo com o padre George. “A igreja não é uma empresa que põe guarda 24 horas. Com o estacionamento, havia quatro funcionários que trabalhavam das 5h às 24h e impunham respeito. Além disso, tinham a obrigação de limpar a área e cuidar do jardim.”

Segundo ele, na época a prefeitura e o Ministério Público se comprometeram a tomar conta do local e até a repassar recursos para a manutenção. “Não veio qualquer benefício. Estamos esperando e numa situação crítica”, diz. Padre George afirma ainda que a prefeitura, na época da Copa do Mundo, fez uma única poda de grama e não voltou. “Somos obrigados a conviver com o ônus deixado aqui pelas pessoas que frequentam a área externa, seja uma garrafa de água vazia ou um mamitex sujo.”

Infiltração também é problema por causa do sistema de escoamento da água de chuva danificado - Foto: Leandro Couri/EM/DA PressForro e altar

O conservador e restaurador de obras de arte Sílvio Luiz Rocha Vianna de Oliveira explica que o projeto está dividido em duas partes: restauração arquitetônica e dos elementos artísticos.

Serão contemplados o forro de estuque, o altar principal feito de madeira (único em BH e tomado por cupins) e o retábulo. As tintas das paredes da nave e da fachada serão removidas. “Descobrimos que elas escondem uma pintura marmorizada e, do lado de fora, além de imitar mármore, a tinta original tinha aspecto de granito. A igreja terá, depois de restaurada, detalhes em mármore e granito em tom cinza. Queremos criar a ambientação original da construção”, diz. A rede elétrica também será refeita.

Padre George se agarra à possibilidade de patrocínio para salvar a casa de Deus, que impressiona quem a visita pela beleza e harmonia da composição. “Queremos recuperar os ambientes internos e externos, para que a igreja não seja mais um hotel nem motel público, o gramado não seja campo de futebol para estudantes e as portas não sejam ponto de encontro de namorados.”

 

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