Sentada no sofá da sala, Marihana já está com saudade do período de efervescência vivido na capital, que recebeu cerca de 355 mil turistas – 200 mil visitantes de outros países e 155 mil de outros estados brasileiros, conforme os dados oficiais. “A gente andava nas ruas e escutava idiomas diferentes. Na Savassi, ouvimos música de todos os cantos e não sai da cabeça o grito ritmado das torcidas. Sempre havia algo para se fazer, enfim, foi a celebração da vida”, afirma ao lado a mãe, a professora aposentada Maride Santos.
De diferente para os visitantes, só mesmo o momento das refeições. “No Chile, quem cozinha serve a comida aos que estão à mesa, acho que se trata de um costume passado pelas mães. E, geralmente, as pessoas fazem só uma carne e o acompanhamento, tipo salada. Não existe tanta variedade como a nossa, nem o self-service. Mas deu tudo certo e até trouxeram a bebida favorita, o pisco. Pena que as minhas amigas não puderam vir”, afirma a advogada.
Marihana diz que a amizade começou em 2012, quando morou no Chile. Fez muitos amigos, entre eles Hernán, que lhe ofereceu ingresso para o jogo Brasil x Chile, no Mineirão, em troca da hospedagem. “Foi curioso, pois, no estádio, naquele jogo de prorrogação e pênaltis, sentei no meio da torcida chilena com a camisa amarela. Mas ficamos unidos e vi que o futebol não pode atrapalhar a amizade.”
Hora da partida
Ana Clara e Adam se conheceram pela internet e desde então ficaram “grudados”. A trajetória do inglês, que veio para a Copa, encantou a mineira que morou na Europa e fala fluentemente o idioma de Shakespeare. Junto com três amigos, Adam caminhou de Mendoza, na Argentina, a Porto Alegre (RS), num total de 1.966 quilômetros, com o objetivo de arrecadar, no percurso, 20 mil libras para projetos sociais. A saga iniciada em 3 de março e denominada Walk to the World Cup (Caminhada para a Copa do Mundo) ganhou espaço nas redes sociais e teve um fato inusitado. Ao passar pelo Uruguai, a turma foi seguida por uma cão de rua, logo batizado de Jefferson Ramsey Moore, em homenagem aos lendários craques Alf Ramsey e Bobby Moore, respectivamente técnico e capitão do time da Inglaterra campeão do mundo em 1966.
Adam traduz a experiência no Brasil como fantástica. “O período da Copa pareceu um grande festival de música, numa ótima atmosfera”, compara o relações públicas, que adorou a Savassi e aprendeu algumas palavras em português – bom dia, obrigado e “uma cerveja, por favor”. Sentados num banco da Alameda das Palmeiras, os dois se lembraram dos bons momentos nas últimas semanas: o passeio a Ouro Preto – “conheci uma república de estudantes, diz Adam” – banhos de cachoeira em Rio Acima, na Grande BH, e encontro com o príncipe Harry, no Minas Tênis Clube, em BH. “O Adam é um cara legal e virou torcedor do Vila Nova”, entrega Carlos Fernando.
Culturas unidas
Na porta interna do Ginga Hostel, albergue no Bairro Serra, na Região Centro-Sul da cidade, ainda estão placas com as bandeiras de vários países e palavras cordiais escritas pelos ex-hóspedes. Satisfeito, o funcionário Paulo Felipe dos Santos Pessoa, de 23, diz que a ocupação chegou a 100% com visitantes de mais de 20 países. “Estou sentindo falta.
No dia a dia, Paulo Felipe e demais funcionários aprenderam sobre os costumes dos gringos, as rivalidades entre alguns países da Ásia, hábitos alimentares e comportamento de cada um. “Muitos falavam português, o que facilita o contato, embora eu fale inglês. No fim das contas, a melhor palavra para resumir a temporada é bem-vindo.”.