Jornal Estado de Minas

Clima de comoção marca velório de motorista de ônibus morta em tragédia

Hanna Cristina estava no ônibus suplementar da linha suplementar S70 quando o veículo foi atingido por parte de estrutura que desabou no viaduto da Avenida Pedro I

João Henrique do Vale Luciane Evans
O corpo da motorista chegou ao Cemitério Bosque da Esperança por volta das 9h20 - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press
O corpo da motorista Hanna Cristina, de 26 anos, que morreu na queda de um viaduto em obras na Avenida Pedro I será enterrado na tarde desta sexta-feira, no Cemitério Bosque da Esperança, no Bairro Jaqueline, Região Norte de Belo Horizonte.
A mulher era condutora do ônibus suplementar da linha suplementar S70, que teve a parte frontal esmagada pela estrutura de concreto. Além dela, o condutor de um Fiat Uno, Charles Frederico Moreira do Nascimento, também morreu. Outras 22 pessoas ficaram feridas.

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O clima é de tristeza no cemitério. Parentes e amigos estão reunidos desde o início da manhã no local para prestar as últimas homenagens à jovem. O corpo chegou por volta das 9h20. Emocionados, todos bateram palmas.
Quando o caixão foi aberto, a comoção tomou conta do velório. Todos choraram e uma pessoa passou mal. “O minha linda, por quê? Por quê?”, gritavam.

Os parentes de Hanna se emocionaram durante o velório. Indignado, o pai da motorista, José Antônio dos Santos, de 61 anos, diz que ainda sente a presença da filha. " No meu coração, a minha filha não morreu. Ela está viva. Nunca sairá do meu coração ", comentou.

Santos culpou as autoridades pelo acidente. Segundo ele, a correria para fazer a Copa do Mundo tirou a vida da sua filha. O homem diz que, pouco tempo antes do acidente, Hanna ligou para ele para pedir a benção, como fazia todos os dias. "Ela se foi. Nenhuma autoridade me ligou até o momento.
Queremos Justiça.". José conta que soube que a preocupação da prefeitura era a retirada dos entulhos do local para o jogo de hoje. "Desse povo eu não espero mais nada”, afirmou. A filha de Hanna, Ana Clara, de 5 anos, chegou no cemitério e pediu para ver o corpo da mãe. Ao chegar próximo ao caixão, voltou atrás e saiu do velório.

A funcionária da Sudecap, Rosângela Olegária, que é tia de Hanna, não gostou das declarações do prefeito Marcio Lacerda (PSB) . "Eu vestia a camisa da prefeitura e não visto mais. A declaração dele dizendo que acidentes acontecem nos revoltou. Ninguém quer ele aqui", comentou.

A colega de trabalho e cunhada da motorista, a trocadora Débora Nunes Reigada, também prestou as última homenagens a amiga. Ela, que também foi vítima da tragédia, chegou no velório em uma cadeira de rodas e com o semblante abatido.
A mulher quebrou o maxilar com o impacto.

Hanna Cristina tinha 26 anos e dirigia o coletivo para ajudar o pai, motorista aposentado por invalidez - Foto: Reprodução / Facebook

Ana Clara estava no coletivo no momento da tragédia e sofreu ferimentos leves. Segundo informações da Secretaria de Estado de Saúde (SES), a menina deu entrada na unidade de saúde com um hematoma no lado esquerdo da cabeça, cefaleia e perda de consciência. Depois de passar por um exame de raio-x, ela permaneceu em observação na ala de pediatria. A garota recebeu alta nesta manhã.

Companheira de profissão, Rozilene Edlourdes Canuto Silva conta que Hanna era considerada uma excelente motorista, muito tranquila e atenta enquanto estava no trânsito. “Infelizmente, o que aconteceu estava fora do controle dela. Ainda assim, ela conseguiu frear ao perceber que o viaduto estava caindo para impedir que ele atingisse o meio do ônibus. Essa atitude pode ter salvado muita gente”, acredita.

Hanna Cristina fazia parte de uma família de motoristas e começou a conduzir o micro-ônibus para ajudar o pai, ex-perueiro que deixou de dirigir depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Sem horário para trabalhar, ela dividia a direção do coletivo com o irmão, afirma o presidente do Sindpautras, sindicato que reúne os permissionários autônomos do transporte suplementar e alternativo na capital e em Betim, Maurício dos Reis.

Motorista do Fiat Uno

Os trabalhos de retirada do corpo do motorista Charles Frederico Moreira do Nascimento, que estava dentro do Fiat Uno, placa GSZ-5394, de Lagoa Santa, que foi totalmente esmagado pela estrutura, duraram 14 horas. A operação teve sucesso depois que um rompedor hidráulico, um trator com uma broca para perfurar rochas e concreto, chegou ao local. Pouco antes da meia noite, a máquina já havia conseguido fazer um buraco próximo ao veículo. Os escombros foram retirados por uma escavadeira. Em seguida, um bombeiro entrou embaixo do automóvel e prendeu um cabo de aço no eixo do carro com a intenção puxá-lo com uma das máquinas, mas o carro continuava preso.

Os bombeiros continuaram as escavações e usaram um caminhão-pipa para molhar o solo facilitar a retirada do Uno. A estratégia deu certo e, pouco antes das 3h, duas rodas do lado esquerdo do carro foram soltas. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a principal dificuldade em remover o veículo foi em função do peso da estrutura sobre o carro. O viaduto Batalha dos Guararapes pesa 2,5 toneladas e tem 150 metros de extensão. Às 4h40, após oito horas de operação específica para a remoção do Uno, o veículo finalmente foi retirado de debaixo do viaduto. Ao todo cerca 70 homens participaram dos trabalhos.

Drama

A companheira do motorista, Cristilene Pereira Leme, disse que esperava por Charles em um ponto de ônibus perto do local do acidente. “Ele tinha combinado de me pegar por volta das 15h, pouco depois do viaduto. Ligo insistentemente para ele, mas não me atende”, comentou.

A mulher esteve durante boa parte do tempo no local acompanhando o trabalho de resgate. Ainda à tarde ela se sentiu mal e precisou de atendimento médico. Ela também acompanhou o trabalho de remoção durante toda a madrugada. (Com informações de Thiago Lemos, Pedro Rocha Franco e Landercy Hemerson)

Veja como foi o acidente
- Foto: Soraia Piva/em.com.br
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