Jornal Estado de Minas

Fiéis se reúnem em paróquias de BH para comemorar canonização dos papas

Canonização dos papas João XXIII e João Paulo II é recebida como sinal dos novos tempos da Igreja, mais aberta e próxima dos católicos

Márcia Maria Cruz

Na Catedral da Boa Viagem, muita gente se uniu para orar pelos novos santos - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A PRESS


Ao beijar o solo dos países por onde passou, o papa João Paulo II se religava ao céu e conectava os fiéis à sua igreja. Seguindo os passos de João XXIII, João Paulo deu um rosto mais popular à Igreja Católica. Admirados por milhares de fiéis, os dois papas, canonizados no domingo, foram festejados nas missas das paróquias de todo o Brasil. Em Belo Horizonte, a importância de ambos para a abertura da igreja foi tema dos sermões do pároco e reitor do Santuário Boa Viagem, padre Marcelo Silva, e do pároco da Igreja Nossa Senhora do Carmo, frei Evaldo Xavier. Para eles, não foi por acaso que os dois papas foram canonizados no mesmo dia, um fato inédito na tradição da Igreja Apostólica e Romana.

A missa de canonização foi celebrada pelo papa Francisco na Praça de São Pedro, no Vaticano, para cerca de 1 milhão de fiéis. Nas paróquias mineiras, João XXIII foi lembrado por liderar o Concílio Vaticano 2º, em 1962, que despertou a Igreja para os tempos modernos. “A Igreja passou a dialogar com as questões, exigências e desafios das sociedades contemporâneas”, lembrou padre Marcelo. Uma das principais mudanças foi o fim da celebração das missas em latim.
O pontificado de João XXIII foi rápido, de 1958 a 1963, mas definidor dos caminhos da Igreja moderna. Ao deixar de celebrar em latim, a Igreja ficou mais próxima da cultura de cada país. Os padres lembraram que também ele é considerado o papa da alegria por sua postura descontraída e seu desejo de que a igreja fosse menos sisuda.

Durante a celebração, os fiéis cantaram, aplaudiram e se abraçaram, em comemoração às canonizações. Na Igreja Nossa Senhora do Carmo, um quadro com a imagem de João XXIII foi apresentado na procissão de entrada. O papa foi lembrado por frei Evaldo por falar com muita proximidade às famílias. “No balcão da Praça de São Pedro, ele dizia aos pais que, quando chegassem em casa, fizessem um carinho nos filhos e dissessem a eles que era o carinho do papa.” A maneira sorridente e afável de João 23 lhe rendeu a alcunha de o “papa bom”.

Na Igreja do Carmo, um retrato de João Paulo II foi levado ao altar - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A PRESS
A bacharel em direito Maria Auxiliadora Xavier da Silva, de 46 anos, lembra a história do dia em que João XXIII usou uma batina de padre e foi visitar um amigo que estava internado em um hospital no entorno do Vaticano. “A madre superiora o reconheceu e ficou tão atrapalhada que se apresentou como a superiora do Espírito Santo. Ele riu e disse a ela que ela tinha conseguido um cargo muito elevado. Na verdade, ela era a madre superiora da congregação do Espírito Santo."

IGREJA SERVIDORA

João Paulo II foi exortado no sermão de padre Marcelo por ter sido o papa que fez com que a Igreja se tornasse mais servidora. Para ele, a canonização dos dois papas aponta o caminho que o atual líder da Igreja, o papa Francisco, pretende seguir. “João Paulo II era um exemplo de espiritualidade e de carisma.

João XXIII era o papa da alegria. A canonização mostra o rosto de uma igreja feliz, mais samaritana, servidora e que não seja centrada em si mesma, mais voltada para o povo de Deus.”

Para frei Evaldo, João Paulo II deu continuidade ao processo de abertura da Igreja iniciado no Concílio Vaticano 2º. “Ele viajou pelo mundo todo. Foi um missionário.” Para o frei, a quantidade de fiéis na Praça São Pedro indica o quanto os sacerdotes foram amados. “A santidade dos papas atinge centenas de milhares de pessoas. São modelos de fé, amor, de vivência do evangelho e catequese”, reforça.

Os fiéis também lembraram a maneira com que o papa João Paulo II lidou com o homem que atirou contra ele na Praça São Pedro em maio de 1981. Na época, o turco Mehemed Ali Agca disparou três vezes e feriu gravemente o estômago, a mão esquerda e o cotovelo do pontífice. Tempos depois ,já recuperado, João Paulo foi visitar o turco na prisão. Com o pontificado de 1978 a 2005, o polonês Karol Wojtyla visitou 129 países.
No Brasil, esteve quatro vezes. Embora o gesto que tenha marcado sua passagem por aqui tenha ocorrido em 1980, João Paulo II esteve pela primeira vez em solo brasileiro em 1979, na cidade do Rio de Janeiro.

DEPOIMENTOS

“Vou procurar me informar sobre os novos santos com os meus pais, Valdir e Vanessa, que são bem religiosos. Quando João Paulo II esteve aqui eu ainda não era nascido”
Vinícius Woelffel Ferreira, 17 anos, estudante

“Foi maravilhoso a canonização de João XXIII e João Paulo II. JJoão XXIII não conheci, mas tive oportunidade de ver João Paulo II  celebrar duas vezes, quando ele veio ao Rio e a São Paulo. Em 2008, estive no túmulo dele no Vaticano e foi uma emoção muito grande. Realmente, foi um papa diferenciado. Olha quanto misericórdia perdoar quem atentou contra a vida dele. Chefes de estado e religiosos de outras crenças passaram a admirar João Paulo II por sua humildade”
Maria José Mascarenhas, 53 anos, designer de interiores

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