Arlindo Afonso Carvalho Neto, de 46 anos, levava a mulher Adriana dos Santos, de 41, ao trabalho na manhã de ontem, de moto, quando o casal foi surpreendido por um carro mudando de faixa no Anel Rodoviário. Eles caíram, mas por sorte, não entraram para as estatísticas do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, para onde foram encaminhados. Quase 10% de todas as pessoas que morreram no ano passado no local foram vítimas de acidentes com motocicletas. As 101 mortes superaram em 17% os 86 óbitos de 2012 relacionados às ocorrências envolvendo motos. “Não consegui levantar e acabei dando sorte que nenhum carro ou caminhão passou por cima de mim”, disse Arlindo, que fraturou dois dedos. A mulher dele teve um corte profundo no joelho.
Para tentar diminuir os números, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) lançou nessa terça-feira a campanha “Eu piloto pela vida”. De acordo com os dados, o mês que mais registrou atendimentos foi julho, e a segunda-feira foi o dia da semana que mais motociclistas e garupas deram entrada na unidade hospitalar, especialmente entre 18h e 20h. Os homens são 80% dos acidentados atendidos no pronto-socorro, sendo que 60% das vítimas têm entre 18 e 30 anos.
O chefe da neurocirurgia do João XXIII, Rodrigo Faleiro, explica que 55% dos 7.131 atendimentos de 2013 foram graves. “Nos casos em que o acidente ocorre em menor velocidade, é comum fraturas nas pernas e demais lesões nos membros inferiores. Já nas batidas mais graves a predominância é de problemas neurológicos causados por lesões na coluna que podem tirar os movimentos das pernas e dos braços”, diz o médico. Faleiro diz que o hospital também recebe casos de motociclistas feridos pilotando sem capacete. “É um dispositivo de segurança imprescindível para evitar a fratura do crânio e deve ser usado por todos os motociclistas”, completa.
O presidente da Associação dos Motociclistas de Minas Gerais, Fábio Pinheiro, acredita que o cenário trágico que envolve pilotos e garupas é responsabilidade também de outros atores. “Temos que dividir a responsabilização entre os demais motoristas de outros tipos de veículos e o poder público, já que muitas vias não garantem a devida segurança para a circulação. A imprudência não é só do motociclista, ela tem que ser compartilhada”, diz. Pinheiro ainda acredita que a carteira de moto é obtida muito fácilmente. “Hoje, o candidato faz a prova com uma moto pequena e só com a primeira marcha. Se for aprovado, está apto a andar em uma motocicleta de 1 mil cilindradas”, afirma.
ACIDENTE NO BAIRRO FLORESTA
Um motociclista ficou ferido em uma batida com um carro na manhã dessa terça-feira no Bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte. De acordo com um soldado da Polícia Militar, a moto Honda CG Titan 125, de cor vermelha, e o Fiat Uno preto subiam a Avenida Assis Chateaubriand quando o motociclista bateu na lateral esquerda do Uno no momento em que o carro fazia uma conversão à esquerda para entrar na Rua Tabaiares. Segundo o policial, a moto estaria em alta velocidade antes da colisão. Consciente e com escoriações pelo corpo, o motociclista foi levado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital João XXIII. Visivelmente nervosa, a motorista do Uno preferiu não conversar com a reportagem. Ela saiu ilesa. O acidente não prejudicou o trânsito na região.
ÓBITOS NO HPS
Atendimentos de motociclistas e garupas:
2013 - 7.131
2012 - 7.177
2011 - 6.981
Óbitos de motociclistas garupas no HPS:
2013 - 101
2012 - 86
Total de óbitos no HPS:
2013 - 1.050