Jornal Estado de Minas

Mais degraus podem virar risco para passageiros na rota do BRT

Desnível entre estações e os ônibus do novo sistema ficam evidentes durante os primeiros dias de testes do corredor Antônio Carlos e podem se transformar em risco para passageiros

Jorge Macedo - especial para o EM
Mateus Parreiras

Manobra conhecida como atracagem, na qual ônibus emparelha portas com acessos da plataforma, é umas das preocupações no treinamento... - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press

Degraus de até meio palmo de altura que podem provocar tropeços de passageiros ficaram evidentes em pelo menos metade das seis estações de transferência do BRT/Move de Belo Horizonte no corredor da Avenida Antônio Carlos. As estações pré-moldadas de metal, instaladas sobre bases de concreto, serão responsáveis por permitir embarques, desembarques e baldeações no corredor e estão quase prontas, com previsão de operar com usuários em abril. A via ainda está em fase de ajustes e de treinamento dos condutores das empresas que atuarão no transporte dos passageiros, mas o desnível entre a plataforma e o piso dos coletivos já é nítido nas chamadas manobras de atracagem realizadas pelos motoristas.

As estações em que a equipe do Estado de Minas verificou o obstáculo para usuários são as chamadas São Francisco, perto do viaduto de mesmo nome, a UFMG e Mineirão, próximas ao câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais. Nenhum motorista, técnico ou operário no local quis comentar os motivos do desnível, ainda que nítido durante as medições de distância das plataformas que eram realizadas por agentes durante o treinamento dos motoristas e o emparelhamento dos veículos com as estações. Ontem, no segundo dia de testes do corredor Antônio Carlos, o trajeto dos ônibus articulados contemplou as estações São Francisco, Colégio Militar, Liberdade, UFMG, Mineirão e Santa Rosa, além da Estação de Integração Pampulha.

...que revelou diferenças de altura entre estrutura e o piso do coletivo - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A PressA Estação Mineirão – que fica em um aclive e onde a diferença da plataforma para a porta do coletivo chegou a quase um palmo de altura no sábado, de acordo com agentes que acompanharam as manobras, mas não quiseram se identificar – foi pouco usada ontem. Motoristas evitaram paradas no terminal, mas quando o fizeram foi possível observar a diferença.

ALERTA

Para o presidente da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra), o médico Fábio Nascimento, esse tipo de equívoco é considerado gravíssimo em um sistema de transporte de massas.

“No alvoroço no qual se dão os embarques e desembarques, as pessoas mal veem onde estão pisando e por isso se arriscam caso se deparem com degraus, podendo ser derrubadas e sofrer lesões nos tornozelos e membros inferiores em geral”, afirma. Para o médico, uma solução seria a implantação de rampas móveis que ligassem os veículos às plataformas, sem deixar vãos. “Se um equipamento tipo rampa estivesse acoplado aos ônibus, isso impediria acidentes perigosos. Mas era preciso que se tivesse pensado nisso antes”, alerta.

Não há ainda informações sobre possíveis obras ou soluções técnicas para corrigir o problema. A BHTrans se limitou a informar, por meio de sua assessoria de imprensa, que ainda não recebeu os corredores da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que é quem realiza as obras de implantação do BRT/Move. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou apenas que relatórios sobre o desempenho e eventuais problemas que tenham ocorrido nos dois primeiros dias de testes serão analisados hoje. A assessoria de imprensa do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que neste primeiro momento as informações sobre possíveis ajustes serão geradas pelos motoristas e operadores do sistema.

Expectativa e preocupação

Passageiros que ainda esperavam os ônibus em pontos tradicionais, abertos e expostos ao sol forte de ontem, gostaram de ver os articulados que logo estarão disponíveis, mas criticaram os problemas nas obras. “Se tiver degrau para embarcar, as pessoas podem tropeçar e se machucar. Quando o ônibus fica cheio você mal vê direito onde está pisando. Imagino que deve ser pior ainda para os mais velhos e para quem anda carregando muitas coisas”, disse o mestre de obras Antônio Roberto Santos, de 40 anos, que levava os filhos para passear na Pampulha.

Muitos locais de travessia de pedestres ainda não tiveram faixas pintadas, apesar de as grades que deveriam segregar o corredor do BRT terem aberturas por onde pessoas atravessam durante os teste dos veículos articulados, em meio ao tráfego de táxis e ônibus comuns, que continua ocorrendo nas pistas exclusivas.

No canteiro central, em frente ao número 3.520, nas proximidades do Bairro Cachoeirinha, mais imprevistos: o piso de concreto teve de ser quebrado mais uma vez. “Isso tem ocorrido em várias estações. O intenso tráfego de carros e ônibus por aqui tem estragado o piso, que não está aguentando o movimento. Em muitos pontos da Avenida Antônio Carlos há rachaduras”, comentou um trabalhador da obra, que não quis se identificar.


Não é a primeira ocasião em que partes do piso no corredor tem que ser refeitas. Em maio do ano passado, a empreiteira contratada para construção das estações também precisou quebrar o concreto no corredor central, na altura do número 3.590, no Bairro São Francisco. A destruição do trecho – que antes era de asfalto e já havia sido quebrado uma vez para a instalação do piso de concreto – foi feita para construção de terminais de embarque e desembarque do novo sistema. Especialistas apontaram falha de planejamento
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No mesmo mês, outro problema, mas na Avenida Cristiano Machado, onde uma estação teve de ser demolida, no Bairro União. Na época, a Sudecap afirmou que o terminal destruído era um “protótipo”. Laudos feitos no equipamento detectaram erros e novo terminal teve de ser erguido. A explicação oficial era de que foram feitos dois protótipos na avenida para que a prefeitura escolhesse a melhor das opções. (Com Luciane Evans)

  

Enquanto isso...

... mudanças para liberar o caminho

Novas alterações de trânsito relativas ao Move entraram em vigor ontem.
Uma delas no quarteirão da Avenida Afonso Pena, no Centro, entre a Ruas Pernambuco e a Avenida Carandaí, antes da Feira de Arte e Artesanato, que perdeu as vagas de estacionamento com as mudanças de circulação e implantação de uma mão-inglesa no sentido hospitais-Barro Preto. Para tentar contornar os problemas de baixa velocidade de circulação do BRT Cristiano Machado quando deixa o Complexo da Lagoinha e entra no tráfego misto, a BHTrans providenciou a pintura de uma faixa exclusiva na pista da direita do Viaduto Leste.
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