Jornal Estado de Minas

Indicadores mostram que hipercento de BH está saturado

Indicadores do Centro de BH, por onde a cada dia circulam R$ 22,8 milhões em vendas e 30% do faturamento da cidade, ajudam a explicar por que todos os caminhos levam à região

Flávia Ayer
A referência: apenas pela Praça Sete estima-se que passem 91 mil veículos e 400 mil pedestres a cada dia, atraídos por comércio, serviços e trabalho. Proposta é aliviar a pressão sobre a área - Foto: Crsitina Horta/EM/D.A Press

A meta da Prefeitura de Belo Horizonte de espalhar comércio e serviço pela cidade e desafogar a área central tem como ponto de partida um hipercentro saturado. Todos os dias, 2 milhões de pessoas – 37% da população da Grande BH – passam pelo caldeirão que tem na Praça Sete a principal referência, por onde cruzam 91 mil veículos diariamente. Muitos dos frequentadores estão ali apenas de passagem, levados pelos 3.036 ônibus que têm a área central como destino. Outros vão atrás das conveniências da área, que concentra mais de um em cada 10 pontos comerciais da cidade (10,8%). Segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), o Centro de BH conta com 21.141 estabelecimentos do total de 194.420 na cidade e concentra 30% do total de faturamento da capital. Um dia de vendas na região movimenta R$ 22,8 milhões.


Quando o assunto é comércio especializado, o hipercentro cresce em importância. No coração de BH está cerca de um terço das lojas de eletrodomésticos da cidade, com 286 empresas, do total de 910. Também está lá um quarto das lojas de calçados (316 no Centro, 1.285 em BH), um quarto dos bancos (86 do total de 361), além de um sexto do comércio varejista de vestuário e de acessórios, com 1.434 do total de 9.401 estabelecimentos.

“Tenho que vir ao Centro todos os dias. No meu bairro não tem ótica, não tem opção de comércio de roupa e nem médico que não seja o do posto de saúde. Atualmente, estou fazendo fisioterapia aqui no Centro”, conta a porteira Cleusa Gomes Guimarães, de 53 anos, moradora do Bairro Havaí, na Região Oeste.

Vice-presidente de Centros Comerciais e Shoppings Centers da CDL, Davidson Cardoso, que também tem lojas no Centro, acredita que a variedade, o preço mais acessível do comércio de rua e o fato de a maioria dos ônibus ter a região central no itinerário mantêm o hipercentro como referência. “Sentimos o impacto dos shoppings, mas acho que a descentralização só vai ocorrer se houver uma migração dos ônibus, uma mudança na mobilidade. Percebemos que as pessoas já não estão tão dispostas a se deslocar por grandes distâncias para consumir”, afirma. Cardoso defende também mais cuidado com a região central. “É preciso melhorar a segurança e aumentar as vagas, com a liberação de estacionamentos verticais”, diz.

COMO DESCENTRALIZAR De acordo com o professor Flávio Carsalade, da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a tentativa de explorar novos polos de comércio e serviços fora do hipercentro deve estar em sintonia com a região metropolitana. “Não podemos pensar apenas na capital, mas também nos outros municípios que dependem daqui”, ressalta. “O mais importante é discutir como criar essas novas centralidades. A questão da mobilidade está bastante envolvida e alguns lugares sem vocação tão forte precisam de incentivo maior, como equipamentos de saúde e maior presença de serviços públicos”, afirma.

Vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos, que também é presidente da Câmara da Indústria da Construção, lembra da tentativa do poder público, em 1994, de conciliar o uso comercial e residencial nos bairros, autorizando edificações maiores sob essa condição. O objetivo, assim como atualmente, era incentivar a diversificação das atividades econômicas fora do Centro. “O crescimento de Lourdes e do Santo Agostinho ocorreu muito nessa linha, mas o mercado não sentia vontade real de fazer o lado comercial. Então, depois transformavam as lojas em garagens, pois elas desvalorizavam os prédios”, conta.
Mas ele acredita que os investidores já estão preparados para se voltar para o comércio de bairro. “A questão da mobilidade superou o exclusivismo do uso residencial. Hoje a tendência é morar, servir e comprar em uma mesma área, sem depender do carro”, afirma, lembrando que, em São Paulo, já há no mesmo condomínio torres comerciais dividindo espaço com residenciais.

Treinados para definir o futuro de BH

Começa no próximo sábado a etapa de capacitação da 4ª Conferência Municipal de Política Urbana, em que cidadãos aprovam as mudanças na cara da capital para os próximos anos. Os 243 delegados dos setores popular, técnico e empresarial, eleitos em fevereiro, receberão 32 horas de formação sobre legislação e conhecerão as propostas da prefeitura de alteração do Plano Diretor municipal e da Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo. As duas leis tratam da organização da cidade, para onde vai crescer, quais áreas devem ser protegidas, como devem ser as construções, entre outros pontos.

A capacitação é um preparativo para debater as propostas de mudanças nos grupos de trabalhos, já em abril. Entre as propostas está o incentivo à criação e à intensificação de polos de comércio e serviço nos bairros, fora do Centro. Os grupos serão divididos entre os eixos estruturação urbana, desenvolvimento, ambiental, cultural, habitação e mobilidade. Em maio a conferência termina, com o fechamento das alterações no Plano Diretor e na Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo. Para as mudanças começarem a valer, a prefeitura tem que mandar um projeto de lei à Câmara Municipal para ser votado pelos vereadores.


Menos ônibus

De acordo com a BHTrans, atualmente, 239 linhas de ônibus circulam pela área central originárias das avenidas Cristiano Machado e Antônio Carlos. Com a implantação completa do sistema BRT/Move, que começa a operar no próximo sábado, serão 26 linhas. Atualmente são realizadas 937 viagens de ônibus no horário de pico da manhã (das 6h às 7h) vindos das duas avenidas. Com o novo sistema, serão 297 viagens.

NÚMEROS DO CENTRO

MOBILIDADE


2 milhões -  de pessoas por dia
    
3.036 - ônibus diariamente

470 mil - veículos/dia na área central
    
15.039 - vagas de estacionamento
rotativo (15,8% do total)

91 mil - veículos/dia cruzam a Praça Sete
    
400 mil - pedestres/dia na Praça Sete

ECONOMIA

R$ 22,8 milhões - de faturamento diário
    
10,8% -do comércio de BH
    
31% - das lojas de eletrodomésticos
    
24% - das lojas de calçados
    
23,8% - dos bancos
    
15,2% - do comércio varejista de roupas e acessório

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