Jornal Estado de Minas

Agressões coletivas

Motoristas e cobradores são vítimas de pelo menos quatro agressões por dia

Jorge Macedo - especial para o EM
Juliana Ferreira



- Foto: Leandro Couri/EM DA Pres

Além de enfrentar o trânsito estressante, motoristas e cobradores de ônibus reclamam de agressões diárias de passageirosEles são vítimas de pelo menos quatro ataques verbais ou físicos por dia, segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de BH e Região MetropolitanaAs estatísticas são confirmadas pelas ocorrências dos últimos diasNa quarta-feira à noite, um homem que se disse policial parou o carro na faixa central da Avenida Getúlio Vargas, na Savassi, e ameaçou prender um motorista da linha 9250, insatisfeito com a forma como dirigiaNo dia anterior, um coletivo foi queimado e quatro apedrejados em Santa LuziaEm Betim, a violência chegou ao extremo no fim de janeiro, quando o motorista de ônibus Hueberto Andrade, de 27 anos, foi morto com um tiro na cabeça por um rapaz que queria se vingar de uma briga de trânsitoA consequência da sensação de insegurança é o abandono frequente de postos de trabalho.

“Essa discussão não é somente com os patrões, mas com órgãos de segurança públicaCobramos fiscalização nos veículos, mas há deficiênciaA gente precisa de ação preventivaApós a agressão ou o homicídio, não adianta”, diz o diretor de comunicação do sindicato, Carlos Henrique MarquesSegundo ele, a entidade se reúne constantemente com a Polícia Militar, mas as conversas não são suficientes
“Falta punição”, reclama

A reportagem do EM embarcou na linha 9250 (Caetano Furquim-Nova Cintra via Savassi), a mais longa da cidade, com 112 pontos de parada, e ouviu as queixas“É uma profissão horrível”, reclama a cobradora Luciana Pimentel, de 21 anosTodos os dias, ela diz que ouve palavrões, insultos e cobranças sobre atrasos de horárioSem contar os passageiros que têm segundas intenções: assaltarA jovem já foi ameaçada por bandidos armados

Colega de profissão, o motorista Ênio Lopes conta que a paciência é essencial para não perder a razão“Aumentou também o vandalismoMuitos surfam no carro, quebram janelas e fumam drogas aqui dentroE não posso fazer nada”
É com muita tristeza que ele vê a situação da profissão, herdada do pai, aposentado como motorista de ônibus

São poucos os que chegam láAlguns não aguentam a pressão e nunca mais voltam ao volanteA linha 9250 tem um histórico longo de motoristas que abandonam o veículo em meio à viagemUm deles foi Rodrigo Coelho Gomes Jorge, de 35, após ter a passagem bloqueada por uma caminhonete na Avenida Getúlio VargasA solução foi pedir demissãoJá A.P.S., de 60, começou tratamento médico depois de fazer o mesmo na Avenida Mário Werneck, no Bairro Estoril, ao ser chamado de mentiroso por uma passageira

 

SEGURANÇA A PM informou que faz operações periodicamente em coletivosEm BH, segundo a coronel Cláudia Romualdo, comandante do Policiamento da Capital, militares atuam nos grandes corredores e fazem abordagens quando há suspeitaAlguns andam nos veículos em parte do trajeto para verificar o ambiente

O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que faz reuniões com a polícia e aconselha os trabalhadores a não se envolverem em brigasJá o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana (Sintram) diz que investe em ações preventivas para amenizar o estresse causado pelo trânsito, como atividades recreativasDepois de uma reunião na quarta-feria, o Ministério Público do Trabalho (MPT) convocou audiência com os sindicatos patronais e outras autoridades para discutir o problema em 31 de março.