Jornal Estado de Minas

Debate sobre legalização da maconha divide opiniões

Médicos de Minas alertam para explosão de consumo e efeitos negativos na saúde de uma legalização da maconha. Defensores citam uso medicinal e possível impacto sobre violência

Flávia Ayer
Argumentos contra e a favor da legalização da maconha se multiplicam como o consumo da droga
Considerada mais leve entre as substâncias ilícitas, a Cannabis sativa, nome científico da erva, já fez a cabeça de pelo menos 7% dos adultos brasileiros, cerca de 8 milhões de pessoas, segundo o último Levantamento Nacional do Consumo de Álcool e Drogas, de 2012, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)O debate em torno de sua regulamentação esquentou depois de o Uruguai aprovar, em dezembro, a produção e a venda da maconha, droga mais consumida no mundo.


O professor do Departamento de Saúde Mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Frederico Garcia considera que o “lobby positivo” em relação à droga tem contribuído para que mais pessoas a experimentem“Parece algo menor, menos danosoAcredito que a legalização poderia criar um boom de consumo e levar a uma epidemia mais graveQuanto maior o acesso, maior o consumo”, afirma Frederico, que trabalha com dependentes químicos.

Também contrário à legalização, o psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Uso de Outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais, afirma que o risco é produzir doentes para um sistema de saúde já falido, porque a maconha pode desencadear esquizofrenia, levar à perda de memória, favorecer o abandono escolar e levar ao câncer, entre outros prejuízos“Sabemos que é prejudicial, então não há motivo para legalizarA maconha tem 400 substâncias em sua composição, a maioria maléfica ao organismo”, afirma Valdir, para quem o uso científico da planta para o desenvolvimento de remédios não pode ser confundido com a legalização.

Pesquisas
Na outra ponta, pessoas e movimentos favoráveis ao consumo listam razões para a regulamentação da ervaO mais forte deles é o uso medicinalProfessor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, o médico Dartiu Xavier desenvolveu estudo que, na avaliação dele, derruba a tese de que a maconha seja porta de entrada para drogas“É um mito e, na verdade, ela ajuda a sair

Nossa pesquisa com usuários de crack mostrou que 68% deles conseguiram largar a droga com uso da maconha”, diz.

A proibição, na avaliação de Dartiu, é um empecilho a pesquisas científicas“Não conseguimos desenvolver muitos remédiosEstudos já demonstraram a eficácia da maconha em casos de esclerose múltipla, glaucoma, Aids, câncer”, citaSegundo ele, 9% das pessoas que fumam maconha se tornam dependentes, enquanto no álcool esse percentual é de 15%“Além de toda dificuldade de um dependente, ele tem o status de ilegalVocê trata um doente como criminoso”, afirma o professor


A violência gerada com a proibição é uma das principais críticas do Movimento pela Legalização da Maconha (MLM) e da Rede Nacional de Coletivos e Ativistas Antiproibicionistas“As disputas de pontos de venda, a quantidade de homicídios e prisões têm a ver com a ilegalidade do mercado das drogasIsso cria violência e leva também à corrupção dos agentes públicos”, afirma Thiago Vieira, do MLM“A proibição não impede ninguém de usar e ainda cria uma situação de que quem decidirá se a pessoa pega com a droga será presa por tráfico é o policial da rua, com critérios questionáveis”, acrescenta.

Guerra de estudos
Argumentos contra a droga

» A fumaça tem substâncias cancerígenas
» Pode desencadear esquizofrenia em pessoas com tendência a desenvolver a doença
» Baixa a testosterona e favorece a infertilidade
» Traz prejuízos em atenção e memória

Fonte: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina


Argumentos a favor da droga

» Ajuda a reduzir náusea e vômitos
provocados pela quimioterapia em pacientes com câncer
» Diminui as dores em portadores de esclerose muscular múltipla
» Aumenta o apetite em vítimas de Aids ou câncer, evitando a desnutrição
» Auxilia viciados em crack a largar a droga

Fonte: Dartiu Xavier, professor da Unifesp


Enquanto isso...
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