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Estado de Minas VIZINHOS CIDADÃOS

Moradores de BH deixam o conforto do lar para buscar melhorias para o bairro

Amigos da vizinhança muitas vezes passam por chatos, mas são eles que acionam o poder público quando necessário.


postado em 20/01/2014 06:00 / atualizado em 20/01/2014 07:20

Jefferson da Fonseca Coutinho

Para uns, um chato. Para outros, o cara. Aquele que entende bem de direitos e deveres e não deixa barato o vizinho vacilão. É, naturalmente, o sujeito mais atento da rua, aguerrido, generoso e boa-praça, do tipo que não se cala diante do serviço público ineficiente e tem os números de linha direta com a polícia e com os órgãos de defesa dos homens de bem. É o vizinho cidadão. O melhor amigo da rua e a assombração de quem não sabe nada a respeito da vida em comunidade.

(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
A praça é nossa

Há 14 anos, “naturalmente”, a microempresária Elisângela Aparecida Almeida, de 41 anos, faz amizades no Bairro Buritis, Região Oeste, e age pela família e pela comunidade. Já são algumas conquistas importantes no entorno do endereço em que vive na Rua Stella Hanriot. Entre elas, o quebra-molas conquistado no ano passado para diminuir o risco de acidentes na região.

“Nosso maior empenho é por uma convivência cada vez mais harmoniosa em família. Na medida do possível, promovemos encontros para aproximar as pessoas”, diz. Entretanto, a microempresária reconhece que seu ideal não é tarefa fácil, já que muitas vezes precisa se passar por chata em assuntos delicados, como o trato com animais de estimação. “A gente fala com o maior cuidado e pede sempre que as pessoas colaborem com a limpeza dos cocôs nos nossos passeios”, conta.

 Juntamente com alguns aliados, ela também está sempre em campanha de cuidados com os micos do bairro. Dos maiores feitos em comunidade, Elisângela fala do “Clube da Pracinha”, hoje, com mais de 140 integrantes no Facebook. O grupo faz uso da rede social virtual apenas para facilitar a comunicação do coletivo, porque o objetivo principal, segundo a microempresária, são os encontros presenciais na pequena praça vizinha, adotada pelos moradores. “No ano passado, fizemos uma festa junina, que foi um sucesso. Agora, estamos batalhando para adotar oficialmente a praça”, diz.

O espaço público conquistado no encontro da Rua Stella Hanriot com Rua Cônsul Walter, de acordo com Elisângela, era uma praça inacabada, sem nome, deixada por uma construtora há cerca de três anos. “Passei a cuidar da praça e logo apareceram outros vizinhos com a mesma intenção. Daí, ela virou um ponto de encontro e criamos o ‘Clube da Pracinha’”, explica.

(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Sempre alerta


Para Cláudio José Zanon, de 44, estar atento à comunidade, a tudo que ocorre no Bairro Jardim Pirineus, onde vive, é pensar no outro, na família e fazer o melhor pelo futuro do filho, Marcos Vinícius, de 7 anos. O espiríto comunitário do taxista é o que o faz “sempre alerta”. Entre outras tantas posturas de vizinho cidadão, Cláudio, “na medida do possível”, procura monitorar a ação do poder público. Em contato direto com a polícia, o taxista participa regularmente das reuniões dos moradores do Bairro Jardim Pirineus, na Região Leste de Belo Horizonte. Sabe dia e hora da coleta do lixo, da varreção e não vacila com o movimento dos estranhos na Rua André Batista dos Santos.

Comprou o lote em 2000, maior investimento em economias pelo sonho da casa própria ao lado da noiva, Flávia Roberta, com quem se casou em 2003. Desde o princípio, as preocupações da família nunca ficaram apenas nos limites do patrimônio. Do outro lado da porta da rua, há bastante a ser pensado. “Conversamos muito sobre a possibilidade de dar ao bairro um modelo de condomínio, com mais segurança e qualidade de vida, mas sem a adesão de todos, especialmente pelo rateio que isso exigiria, não foi possível. Quando é necessário colocar a mão no bolso, muita gente acaba recuando”, comenta.

De acordo com o taxista, a coleta do lixo e ausência de área de lazer para crianças são problemas para os moradores. “De um tempo para cá, o lixo é recolhido no fim da tarde. Antes, durante anos, era bem cedinho, por volta das 7h. Agora, como a maioria coloca o lixo para fora na parte da manhã, os restos são remexidos por animais durante os dias de coleta”, lamenta.
Mas o ponto mais preocupante, para Cláudio, é a segurança. “Outro dia, a casa de um policial foi invadida. Renderam a empregada e a filha dele. Os assaltantes tiveram a ousadia de estacionar o carro na garagem do policial e fazer a limpa na casa em 15 minutos”, relata. “Todos nós, com o movimento de suspeitos nas nossas ruas, entramos em contato com a polícia”, diz. Para o taxista, estar atento aos assuntos gerais do bairro não é chatice, é respeitar a comunidade, pensando no bem-estar de cada família.

(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press.)
(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press.)
À moda antiga


No currículo, além de produções artísticas, consultorias e locadora com filmes de arte da melhor qualidade, ele tem processo contra o poder público, reclamações e sugestões das mais diversas pela comunidade. Com tantas impressões sobre as ruas da cidade, foi preciso um endereço na rede mundial de computadores, um blog batizado “Beagá que eu vejo”, para dividir olhares, ouvir e propor reflexões. Algumas bem cidadãs. O número de seguidores e os comentários nos posts mostram a audiência da iniciativa. Luiz Hippert, de 52, é do tipo antenado, espirituoso e dono de atitudes e boas ideias sobre a vida e o bem comum.

Hippert é nascido e criado no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte. “A gente anda nas ruas e cumprimenta todo mundo. Minha mãe abraça as pessoas pelo caminho. Na região da Floresta, as pessoas ainda têm um convívio mais próximo, à moda antiga”, diz.

Da Avenida do Contorno, Hippert aponta, no cruzamento com Avenida Assis Chateaubriand, o semáforo mal resolvido, com tempo e espaço inadequados ao pedestre. “Já fotografei, escrevi e enviei carta de reclamação sobre o sinal. Ali, as pessoas sempre estão correndo algum risco. Não adiantou nada”, lamenta. Das brigas com a prefeitura, a maior delas partiu de um dissabor em família. Hippert entendeu que o assunto se tratava de interesse público e resolveu encarar o embate com o poder do município. “É o caso das calçadas. Sou 100% a favor da calçada padrão e da atenção à acessibilidade. Mas não acho que a prefeitura pode cobrar isso da população. É um absurdo”, critica.


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