Nas águas, no céu e na terra, moradores de Belo Horizonte deixam a rotina de trabalho, estudo e estresse do asfalto para se aventurar na natureza
O homem peixe
Desde os 13 anos, Fernando Pena busca refúgio nas montanhas e nas cachoeiras do entorno de Belo HorizonteDa Região Sul da Serra do Espinhaço, da famosa Serra do Cipó, para as trilhas do exterior foi um passeioAos 37 anos, o arquiteto e empresário nascido e criado na capital mineira coleciona aventuras: rapel, escalada, mountain bike e stand up paddel
A última modalidade ainda é novidade para muitos mineirosO stand up paddel, também conhecido como SUP, vem do surf das ilhas havaianas e há seis meses se transformou no esporte favorito de FernandoTanto que o arquiteto já aplicou a irmã, Ana, de 40, na nova aventura.
“O mais bacana é que a prancha faz a gente trabalhar todas as partes do corpo e ainda tem o contato com a natureza”, diz FernandoO atleta amador tem remado ao menos uma vez por semana, nos fins de semana.
A paixão pela combinação prancha e água fez o arquiteto até deixar de lado a bicicleta
Para o arquiteto, o melhor a fazer é “quebrar a rotina e fugir dos padrões” para evitar as urgências do mundo pasteurizado“É fazer o que gosta, o que nos dá prazer”Longe do mar, Fernando tem remado na Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima
O remador lamenta a falta de uma lagoa despoluída em Belo Horizonte“É uma pena o estado da Lagoa da PampulhaAqui é maravilhoso, mas não é publicoTodo mundo devia ter acesso e ter condições de praticar um esporte assim na natureza”, defende.
Saiba mais
Stand up paddle (SUP)
O SUP é um esporte completo, que trabalha a parte inferior e superior do corpoÉ importante alongar-se antes da prática para evitar dissabores
Os pássaros inspiraram os homens ao longo de toda a históriaNo alto, no azul mais profundo ao alcance da imaginação, a poesia e o sonho de vencer as distânciasEntre as montanhas de Minas, um ninho de liberdadeHá um condomínio só de voadores ao pé da Serra da Moeda, em Brumadinho, topo do mundo nas cercanias de BHÉ onde pais e filhos, iniciados, passam os dias contando as nuvens
Depois de voar com o pai, Edwar Freitas Souza, piloto de voo livre e de helicóptero, Diogo Toledo Souza, pequeno ainda, aos 6, não quis saber de outra vidaHoje, aos 29, o moço ganhou asas para avançar com os próprios sonhosTornou-se piloto profissionalNo tempo vago de céu azul, Diogo passa horas no comando de seu parapente no Clube de Voo Livre de Belo Horizonte.
“No início, no primeiro ano depois da formatura é um vícioVocê não consegue ficar sem voarVocê já acorda olhando para o céu”, sorri Diogo, pronto para ganhar altura, no alto da montanha, a 1.450 metrosEquipamentos conferidos, parapente aberto, é hora de voar
O momento em que os pés do piloto deixam de tocar o gramado é cinematográfico“Bom voo!” ecoa uma, duas, três vezes, na voz de força dos instrutores e frequentadores do lugarO homem voa.
Diogo sobe sem demora“Ele voa muito alto”, comenta um colega praticanteComo o remador Fernando Pena, do stand up paddle, Diogo não gosta da rotina de estresse dos grandes centros“Aqui é tão perto de Belo Horizonte… as pessoas têm vindo até aqui para sair da rotina da cidade”, considera
No clube, atualmente, já são cerca de 200 pilotos de parapente e 10 de asa delta“Quando era pequeno, e vinha com o meu pai, não era tanta gente como hojeAs pessoas estão descobrindo o voo livre”, avalia.
Para Marcelo Rubbioli, de 49, dos quais 27 dedicados ao voo livre, trata-se de um “esporte de juízo”“Não existe o voo duvidosoSó voamos com 100% de certezaDe segurançaOs dois ambientes precisam estar favoráveisO externo e o interno”, pontua
E continua, ensinando: “Além das condições do espaço aberto, nos precisamos estar bem com nós mesmos”Para o piloto e instrutor, voar é uma sintonia absoluta com a natureza“É o sonho, é o medo… é lindo!”, suspira.
As asas dos homens
O Parapente, também conhecido como Paraglider nos países de língua inglesa, surgiu inicialmente na Europa e era praticado por alpinistas que após escalar as montanhas utilizavam o equipamento para descê-las voandoNo início os parapentes ainda eram experimentais e o seu uso se resumia a pequenos vôosAtualmente, crescem as fábricas em todo o mundo e os projetos têm evoluído, proporcionando vôos mais longos e seguros.
A família de pedal
Está em Palhano, distrito de Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, o recanto de sossego de Sérgio Campos, de 38, de Letícia Marinho, de 33, e do pequeno Pedro Marinho, de 8
É na região de muito verde, terra vermelha e água limpa, que Letícia e Pedro, mãe e filho, pedalam na companhia de Sérgio para dar conta da vida corrida da capitalPara a executiva, a “casinha”, refúgio em Palhano é um ponto de equilibrio, que renova todas as forças“Deixo os saltos altos para a cidadeAqui, tenho os pés vermelhos, descalços…”, sorri.
Letícia gosta de estar entre os micos e tucanos da regiãoDiz se alegrar em poder tirar o filho, ao menos um pouco, da vida estreita de apartamento e video gamesAlém da programação saudável no pedal pelas trilhas naturais do povoado, a família pratica ainda caminhadas ecológicas
Sérgio, sempre que pode e o céu permite, também é piloto no topo do mundoO empresário, desde 1996, é um dos 200 voadores da Serra da MoedaEle vê na bike e na caminhada a vantagem da prática em grupo, embora, vez por outra, pratique voos duplos com Letícia
“Viver, conviver com a paz mais próximo das montanhas faz com que a gente tenha uma relação diferente com o cotidiano”, considera SérgioLetícia credita à relação de intimidade com a natureza a força necessária para lidar com o ano de muitos desafios e responsabilidades profissionais.
No domingo de chuva fina e clarão nos céus em sol de promessa, devidamente equipados, Sérgio, Letícia e Pedro cortam no pedal trecho dos mais belos de Palhano, terra encantada de homens-pássaros.