Jornal Estado de Minas

Antigos cines de BH vão da restauração ao abandono

Destino dos espaços variam do resgate, que devolveu o luxo aos prédios de Brasil e Palladium, à completa degradação, como é o caso das ruínas do Candelária, na Praça Raul Soares

Flávia Ayer

Donos do Candelária terão de recuperar a fachada do imóvel, tombado após incêndio - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Os belo-horizontinos andam em lua de mel com o Cine Theatro Brasil, que reabriu as portas em outubro depois de 15 anos fechadoO espaço, um dos ícones da arquitetura da capital, exibiu na reabertura a exposição Guerra e paz, de Candido PortinariO público compareceu em massa e mostrou que BH tem sede de culturaDa mesma forma ocorreu com o Cine Palladium, reaberto há dois anos como complexo culturalMas nem todos os cinemas de rua de Belo Horizonte conseguiram reencontrar sua vocação artísticaO exemplo mais recente é o prédio do antigo Cine Pathé, que, apesar do projeto para voltar a exibir filmes, abre as portas na segunda-feira como shopping popular, depois de ser igreja e até estacionamento.

Destino pior teve o Cine Candelária, na Praça Raul SoaresInaugurada em 1952, a sala viveu seu apogeu entre 1950 e 1970Fechou as portas em 1995, quando já exibia apenas filmes pornográficosEm 2004, foi destruído por um incêndio em circunstâncias até hoje não esclarecidasO tombamento só ocorreu em 2009, quando só haviam sobrado ruínasEste ano, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte determinou a recuperação da fachada pelos proprietários

Um projeto com a definição do novo uso do espaço e com detalhes da revitalização ainda não foi apresentado.

No primeiro semestre do ano que vem, o Cine México, na Avenida Oiapoque, famoso pelos filmes de faroeste e de artes marciais na década de 1970, volta a abrir as portasTombada pelo patrimônio municipal em 1994, a construção em art-decó do renomado arquiteto italiano Raffaello Berti está sendo adaptada para receber um shopping popular“É um projeto com terraço, praça de alimentação e 187 boxesA edificação foi toda preservada”, explica a arquiteta Edwiges Leal, do escritório B&L Arquitetura, à frente da revitalização.

O mesmo escritório foi responsável pela transformação do Cine Odeon em um spa masculino voltado para o público homossexualNa Avenida do Contorno, no Bairro Floresta, Região Leste, era considerado o cinema de bairro mais charmoso da cidade, especializado em filmes considerados alternativosO prédio, tombado, é original de 1947“Restauramos todo o telhado, a fachada e a portaria e mantivemos a cortina vermelhaA caixa interna do cinema está toda preservada e a obra é reversívelSe houver interesse, há como retornar com o cinemaAs cadeiras foram recuperadas e estão guardadas”, conta Edwiges

A exemplo do Cine Brasil e do Palladium, o Cine Santa Tereza voltará ao circuito de exibições no próximo ano e deixará de ter apenas participação pontual em festivaisO espaço, na Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, Região Leste, está em obras e será transformado em centro cultural, com sala de exibição para 150 pessoas, espaço multiuso, biblioteca e cafeteriaParte da revitalização é de responsabilidade da Prefeitura de BH e outra está sendo custeada pela Vale, com investimento de R$ 1,8 milhão, parte do pacote de intervenções no trecho ferroviário entre BH e Sabará.