Jornal Estado de Minas

Despejo de esgoto e lixo dificulta despoluição da Lagoa da Pampulha

Os principais poluidores da lagoa são moradores e invasores de terras em Contagem

Guilherme Paranaiba
Lixo próximo à ocupação William Rosa, em Contagem: situação é ameaça ao Córrego Sarandi, diz Copasa - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A.Press

A sete meses da Copa, o despejo de dejetos e lixo em afluentes da Lagoa da Pampulha por parte de moradores e invasores de terras em Contagem, na Grande BH, ainda é entrave à despoluição de um dos principais cartões-postais de Belo HorizonteUm dos problemas ocorre no lote que fica às margens da Avenida Severino Ballesteros, no Bairro Jardim Laguna, onde estão 3,9 mil famílias da ocupação William RosaSem estrutura de água, esgoto e lixo, parte dos detritos produzidos pela comunidade vai direto para o Córrego Sarandi, um dos principais tributários da PampulhaOutra situação que preocupa envolve cerca de 6 mil imóveis, quase todos em Contagem: há rede coletora na rua, mas ainda não estão ligados ao sistema da CopasaHá, também, endereços em Contagem nos quais as obras para coleta e interceptação do esgoto ainda não foram concluídas.

A Copasa informou que até o fim de dezembro conclui as nove obras restantes para captar 95% do esgoto de ContagemDessas nove intervenções, a principal delas é a canalização do Córrego Colorado, por onde vai passar a nova Avenida DoisO problema é que no meio do caminho das obras necessárias estão moradores que vivem às margens do curso d’águaAli, dejetos são despejados de maneira irregularA dona de casa Olinda Nunes de Oliveira, 32, mora em um imóvel que terá que ser demolidoNo andar de baixo moram a mãe e os irmãosEla vive na parte de cima, mas o esgoto produzido por todos cai no Córrego Colorado
“Já veio advogado conversar com a gente, mas ainda não foi fechado nenhum acordo para sairmos daqui”, diz.

Há casos em que a obra está concluída, mas os moradores continuam jogando o esgoto em cursos d’águaNa Avenida Nacional, o Córrego Xangrilá, no bairro de mesmo nome, divide duas fileiras de moradoresDe um lado, a maioria tem a rede própria de esgoto na porta de casa, mas não há conexão com a rede da ruaÉ o caso do imóvel da funcionária pública Maria das Graças Ferreira Matos, 59“A obra está pronta, mas ainda ligaram a minha casa na rede de fora”, afirmaNo mesmo Córrego Xangrilá, só que na Rua Bom Retiro, no Bairro Tijuco, esgoto também é jogado no córregoUma moradora de uma casa de alto padrão disse que há uma rede construída pela Copasa, mas não soube explicar porque seu esgoto continua sendo lançado no córregoNo local há canos e manilhas expostos.

Na Avenida Severino Ballesteros, onde cerca de 3,9 mil famílias ocupam desde outubro um terreno federal às margens do Córrego Sarandi, há problemas com esgotos e lixoMoradores usam fossas comunitárias, mas o lixo normalmente fica espalhado perto do córregoCom as bocas de lobo tampadas, a preocupação é que as chuvas contribuam para carregar mais lixo e sujeira até o Sarandi
“Sabemos que há pessoas que jogam lixo e esgoto no córrego, mas não é nossa orientaçãoTemos as fossas e o lixo deve ficar acondicionado longe do córrego”, diz Eliete Alves Moreira, uma das representantes da ocupação

Esgoto no Córrego Xangrilá: há imóveis que não se conectaram com rede e outros ainda à espera de obras - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A.Press

Medidas

Dentro das ações previstas para a despoluição da Lagoa da Pampulha, a principal delas é a coleta e interceptação do esgoto gerado por cerca de 500 mil pessoas, metade em Belo Horizonte e metade em ContagemSegundo o gestor da Meta 2014 da Copasa, Valter Vilela Cunha, os R$ 102 milhões destinados para a captação do esgotos foram aplicados em 37 obras nas duas cidades – nove ainda precisam ser concluídas em Contagem“Para terminarmos a obra do Bairro Colorado, ocupantes de três imóveis têm de ser removidosOs processos estão na Justiça de ContagemAs oito demais intervenções são relativas à instalação de coletores e interceptores, de complexidade bem menor do que a canalização do Córrego Colorado”, afirma.

Ainda segundo o gestor, para resolver o problema dos 6 mil imóveis considerados “factíveis” – aqueles que têm a rede da Copasa na porta, mas ainda não fizeram a conexão – a Copasa está implementando na bacia o Projeto Técnico de Trabalho Social (PTTS), para esclarecer e conscientizar a população sobre a necessidade de interligar os imóveis à rede coletora de esgoto e, com isso, evitar o lançamento em ruas e cursos d’água“No caso de famílias de baixa renda, estamos fazendo as conexões”, diz VilelaEle explica que esse tipo de ligação é de responsabilidade da Copasa até o muro das residênciasDo muro para dentro quem deve fazer é o moradorDepois que todas as obras estiverem concluídas, aqueles que não conectarem o esgoto serão notificados pela vigilância sanitária de cada prefeitura.

Sobre a situação da ocupação William Rosa, Vilela acredita que o maior impacto no local pode ser causado pelo lixoSe o material não for acondicionado e coletado de forma correta, pode se tornar um perigo para o Sarandi e sobrecarregar a Estação de Tratamento de Águas Fluviais (Etaf) PampulhaO terreno é alvo de disputa com a CeasaminasHá decisão judicial para reintegração de posse, mas moradores, governo do estado e Prefeitura de Contagem negociam a destinação das famíliasSobre a situação do lixo, a Prefeitura de Contagem não se manifestou.

ENQUANTO ISSO..
...DRAGAGEM EM ANDAMENTO


Além das intervenções da Copasa para despoluir a Lagoa da Pampulha, estão previstas outras duas medidas de responsabilidade da Prefeitura de Belo HorizonteSegundo a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, o serviço de desassoreamento, que consiste na dragagem, desidratação, transporte e destinação final de sedimentos, começou em outubro e terá duração de 8 meses, ao custo de R$ 109 milhõesA expectativa é que sejam retirados 800 mil metros cúbicos de material sólido do fundo da lagoa, 8% do volume totalJá o procedimento de recuperação do espelho d’água ainda está na fase de licitaçãoA previsão de duração das obras é de 10 meses.