Jornal Estado de Minas

Tragédia na BR-040 infla números da violência nas estradas durante o feriado

Corpos de pai, mãe e filha são achados em carro esmagado sob caminhão. Recesso teve 38 mortes nas estradas de Minas

Restos de carro foram descobertos depois de encerrado o resgate. Retroescavadeira teve que retirar sucata - Foto: Beto Novaes/Em/D.a Press



Quase 10 horas depois de um grave acidente em que foram identificadas quatro pessoas mortas e sete feridas no km 604 da BR-040, em Congonhas, na Região Central – no qual se acreditava inicialmente estarem envolvidos um caminhão, um Celta e um Palio –, a vigilante Antônia Aurineide Souza, de 45 anos, levou um susto na manhã de ontem ao descer de um ônibus na rodovia, voltando do trabalho, e perceber que existia mais um carro debaixo da carcaça do caminhão que havia pegado fogo“Dei a volta por trás e vi sinais de que havia alguém entre as ferragens”, disse ela, que chamou a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Corpo de BombeirosCom as vítimas, chegou a 38 o número de pessoas que morreram nas estradas de Minas durante o recesso da Proclamação da República, quatro a mais do que no feriado do ano passado, que caiu em uma quinta-feira.

Na noite anterior, ninguém havia percebido que um Siena, dirigido pelo comerciante Ernani Moreira César, de 43, que voltava do interior com a mulher, a dona de casa Valdete Maia Cipriano Moreira, de 40, e a filha, Flávia Cripiano Moreira, de 16, havia sido esmagado pelo caminhão carregado de sucataOs bombeiros começaram o resgate dos corpos às 14h de ontem, com ajuda de um retroescavadeiraAs buscas foram suspensas às 19h30 e recomeçam às 7h de hojeSegundo a perícia, a identificação das vítimas somente será possível com exame de DNA.


O motorista do caminhão, Albino Pereira dos Santos Filho, de 31, e o passageiro Geovani Costa Pereira sofreram várias queimaduras e foram socorridos em CongonhasOntem, os dois aguardavam vagas no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), em BH, para serem transferidos para o setor de queimados.


Ernani, Valdete e Flávia estão entre as 20 pessoas que morreram em 72 horas de operação nas estradas federais mineiras, cinco a mais do que no mesmo feriado de 2012Nas rodovias sob jurisdição da Polícia Militar, em 84 horas de operação foram 18 mortes, uma a menos que em 2012


Em Congonhas, a vigilante Antônia conta que desceu de um ônibus às 7h30 de ontem, na BR-040, voltando do trabalho“Moro na comunidade dos Pires e fui olhar a gravidade do acidenteAchei documentos, carteiras, chaves e um relógio

Telefonei para a Polícia Rodoviária Federal para avisarMas resolvi olhar os destroços do caminhão que pegou fogo e vi umas rodas de carro pequeno entre as ferragensOlhei mais de perto, passando por trás, e percebi um corpoTelefonei de novo para a polícia e também para os bombeiros.”


A família voltava de Cipotânea, Zona da MataValdete tinha ido à missa de um ano da morte do pai, que sofreu derrame em 15 de novembro do ano passado“O irmão dela morreu 22 dias depois do pai, em um acidente com moto, e agora perdemos mais três da família”, lamentou o irmão de Ernani, o comerciante Edson Vander Moreira César, de 43.


Edson conta que o irmão saiu de Cipotânea às 19h de domingo e deveria ter chegado a Belo Horizonte às 22h30Ontem pela manhã a família entrou em contato com a PRF em busca de informações, mas não havia relato de acidente envolvendo o casal e a adolescente“Não sabiam de nadaNão sabiam que o carro do meu irmão estava debaixo do caminhão que pegou fogoUm absurdo a polícia não ter visto isso e ir embora”, revoltou-se Edson

Segundo ele, Ernani era trabalhador e estava feliz com a sua empresa de manutenção de portas“Havia comprado um sítio em Cipotânea, construiu uma casa e reformou a outra no Bairro Serrano, em Belo Horizonte”, disse.


O irmão de Valdete, Alex Maia Cipriano, de 34, também não se conforma com o que aconteceu“Ernani deixou uma filha do primeiro casamento, que mora em Juiz de ForaAté agora, não consigo acreditar que os três morreramÉ muita tragédia para uma família só”, lamentou.


O sócio de Ernani, Nilton Júnior de Souza, de 40, conta que a vítima estava feliz com o título do Cruzeiro“Ele participou de uma passeata no interior comemorando o título do seu time”, disseUma bandeira do Cruzeiro e cadernos escolares da adolescente foram algumas das poucas coisas que não foram destruídas pelo incêndio.


O perito da Polícia Civil de Congonhas Renato Nunes concluiu que o caminhão, que trafegava no sentido Rio de Janeiro, invadiu a contramão e atingiu um Celta e um PalioDepois, bateu no Siena e o arrastou para a pista contráriaO caminhão e o Siena foram parar a cerca de 20 metros da rodovia, dentro de um buracoA carga de sucata ficou espalhada sobre eles e houve o incêndio.


O policial rodoviário Evandro Campos acredita que houve problemas nos freios do caminhão, mas somente o laudo da perícia pode confirmar a suspeita“Na semana passada houve outro acidente neste mesmo local e o motorista de um caminhão morreuO caminhão carregado de madeira saiu da estradaJá foram vários desastres aqui”, disse o policial, mostrando pedaços de veículos no meio do mato e a mureta de concreto destruídos em vários pontos“São sete quilômetros de descida, do km 598 ao 603Quando o veículo chega aqui em baixo, o motorista não consegue fazer a curva”, disse EvandroDe acordo com a PRF, no acidente envolvendo o caminhão de sucata não foi possível chegar perto até que o fogo acabasse, por isso não foram encontradas as três vítimas