Enquanto a BHTrans anuncia medidas para restringir o espaço para carros particulares em Belo Horizonte, nas ruas e avenidas da capital eles são cada vez mais numerosos e crescem em velocidade maior que a população, o que revela o desafio que a administração municipal tem pela frente
Especialistas concordam que privilegiar o transporte público é a única forma de impedir que a parcela da população não adepta do serviço coletivo – hoje estimada em 46% – cresça assustadoramente nos próximos anos, fazendo com que as retenções tripliquem pelas ruas da cidade em apenas uma décadaMas, segundo fontes ouvidas pelo Estado de Minas, as ações anunciadas pela Diretoria de Planejamento da BHTrans não serão suficientes para convencer os belo-horizontinos a alterar sua forma de deslocamento“O transporte público tem que ser confiável, cumprir horários
Contradição O engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade Puty Filho diz que a principal contradição está na oposição entre as políticas de mobilidade urbana do governo federal e da prefeitura: enquanto o país investe na indústria automobilística, a administração municipal programa medidas que buscam espremer os automóveis como forma de empurrar seus condutores para o transporte coletivoO especialista destaca que o reflexo da cultura do automóvel se revela em congestionamentos intermináveis pela capital, onde a média é de duas pessoas para cada veículo e caminha para uma, em 2020.
O primeiro passo para diminuir os gargalos no trânsito, para o especialista, é diferenciar a posse do uso: “As duas coisas devem ser distintasNos Estados Unidos e Europa, a taxa de motorização é alta, como em São Paulo e em Belo HorizonteMas lá o uso do carro particular é baixoTemos que entender que o uso não é irrestrito, permitido a qualquer hora e momentoHá um ônus, gera mais congestionamento, poluição, atrasos”Ele não hesita em afirmar que o carro é o grande responsável pelo caos no trânsito de BHMas, para que o quadro seja alterado, Silvestre de Andrade afirma que o sistema coletivo tem que estar à “disposição para o uso, com o mínimo de esforço e custo”.
Quem fica parado por horas nas principais avenidas da cidade e sente na pele os transtornos de sair de carro, representados por problemas como a falta de vagas de estacionamento, optaria facilmente pelos ônibus ou pelo metrô
Estratégias
Em entrevista ao EM, o diretor de Planejamento da BHTrans, Célio Freitas, informou que pesquisas mostram que, se um transporte coletivo rápido for oferecido, as pessoas deixariam seus carros na garagemÉ o argumento para investir em uma rede classificada como de alta capacidade, que engloba BRT, ônibus e metrô“Com as faixas exclusivas, vamos conseguir aumentar a velocidade desses ônibusTambém vamos melhorar a qualidade dos pontos e dos veículos, é um programa completo”, argumenta.
Porém, estudiosos como o doutor em engenharia de transporte e professor da UFMG Nilson Tadeu Ramos Nunes alertam que é preciso maisEle chama a atenção para a falta de um plano metropolitano nos últimos 25 anos que privilegiasse uma rede abrangente de transporte público de alta capacidade, como metrô e trens: “Não dá para atender toda a demanda com o ônibusO BRT já vai começar com capacidade saturadaÉ preciso investir em meios diferenciadosSenão, as vias vão continuar entupidas”(Colaborou Flávia Ayer)