Jornal Estado de Minas

Pedestres viram presa fácil de assaltos em BH

Pedestres são os principais alvos de roubos em Belo Horizonte. Pelo menos 60% dos ataques são contra transeuntes. Média de ações criminosas é de 76 por dia

Guilherme Paranaiba Juliana Ferreira
A estudante Camila Braga foi assaltada no fim da tarde por um homem com uma faca, no Bairro Floresta - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press

A cada 20 minutos, uma pessoa é vítima de roubo em Belo HorizonteEsse dado faz parte das estatísticas da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), que registrou, de janeiro a setembro, 20,8 mil ocorrências de roubo na capital, o que resulta numa média de 76 pessoas atacadas por dia, ou seja, mais de três vítimas por horaA situação assusta os moradores e preocupa as autoridades de segurança pública, já que os números deste ano estão 21% maiores que os registrados em 2012, quando 62 pessoas, em média, foram vítimas desse tipo de crime todos os dias nos nove primeiros meses do ano, chegando a 17 mil casos registrados.

O secretário Rômulo Ferraz revela mais uma característica da ação dos criminosos: pelo menos 60% dos casos são de roubo a transeuntes, ligando o alerta principalmente para pedestres que circulam em lugares como o Hipercentro e a Região de Venda Nova (veja matéria na página 22)Segundo a Polícia Civil, essas são as duas áreas consideradas mais visadas para esse tipo de crime na capitalTambém destacam-se os roubos a estabelecimentos comerciais, a pessoas dentro de veículos, a passageiros de coletivos, entre outrosApesar de o secretário afirmar que a meta é atingir a média do ano passado até dezembro, vem aí um período onde historicamente os assaltos aumentamO fim de ano é marcado por uma circulação maior de dinheiro, o que aumenta a ação dos criminosos.

Mensalmente, a Seds divulga os dados da criminalidade a partir de dois grandes grupos: crimes violentos, que incluem homicídios, assaltos e mais cinco tipos, e os violentos contra o patrimônio, que são o roubo e a extorsão mediante sequestroO aumento dos números de roubos consumados, de acordo com dados obtidos pelo Estado de Minas, resultaram no crescimento das estatísticas de violência e representam o maior desafio para as autoridades, uma vez que os índices de assassinato tiveram uma redução quando comparados com 2012 (veja quadro).

Uma das vítimas dos criminosos, a estudante de comunicação Camila Braga, de 21 anos, conta que o medo se tornou seu companheiro desde que foi ameaçada com uma faca por um assaltante no Bairro Floresta, Região Leste, em julhoEla seguia pela Rua Sapucaí quando um homem se aproximou, tirou a arma de uma mochila e anunciou o assalto“Achei que ele iria pedir uma informação, mas pegou meu celular e levou R$ 14 que tinha na carteiraMandou eu não gritar e me ameaçou.” A jovem fez boletim de ocorrência, mas o suspeito nunca foi encontrado
Os dias seguintes foram de muita apreensão“Nunca tive essa cultura do medo, mas vivi momentos ruins, de pânicoO lugar me marcouAndo rápido e procuro sempre me manter perto de alguémParei até de pegar o metrô por um tempo”, conta.

Três assaltos

A violência contra pedestres também atingiu a autônoma Ana Fiuza, de 56, vítima de três assaltosO último foi em janeiro, na Rua Fernandes Tourinho, na Savassi, Bairro Funcionários, Centro-Sul de BHUm adolescente simulou estar armado e pediu sua bolsaEla conseguiu correr e pedir ajuda a quem passava pelo local, mas o bandido fugiu“Estamos pedindo socorro nessa questão da segurançaÉ um absurdo essa situação, tenho pavor de andar na rua
Estamos na mão de Deus”, desabafaOs outros roubos foram na Avenida Bias Fortes e na Rua Viçosa, em 2011 e 2012 , o que, segundo ela, reforça os fatos de que a violência vem crescendo nos últimos anos.

Depois de três ataques, Ana Fiúza resume a sensação: "Tenho pavor de andar na rua. É um absurdo" - Foto: Cristina Horta/EM/D.A PressPara o professor de sociologia e pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Bráulio Figueiredo Alves da Silva, é importante trabalhar com todas as ferramentas que as polícias têm, como o geoprocessamento, para analisar onde estão ocorrendo esses crimes, qual o horário de maior incidência, o perfil das vítimas e também o dos autores, quando identificadosCom isso, ele afirma ser possível desenvolver ações de prevenção"É fundamental usar a informação para subsidiar políticas e estratégias de prevenção criminal", reforça.

O secretário Rômulo Ferraz admite que o número de roubos preocupa e acredita em dois fatores para explicar esse quadro“A legislação é um problema, porque temos casos de ladrões que já foram presos mais de cinco vezes e estão soltosOutro fator é o ambiente do uso de entorpecentesOs jovens precisam fazer dinheiro para adquirir drogas e para isso cometem roubos”, diz eleFerraz lista algumas ações implementadas pelas polícias para tentar baixar a média de 76 roubos por dia em 2013 para 62, a média em 2012.

“Tivemos agora uma renovação da frota de veículos das polícias e vamos ganhar mais 1,3 mil militares nas ruas em todo o estado com a posse dos servidores administrativosPelo menos metade está destinada para a capital”, informaAinda segundo o secretário, uma ação que cabe mais à Polícia Civil é a identificação dos alvos, para que os assaltantes já conhecidos e que praticam muitos roubos sejam recolhidosPor fim, ele cita a ampliação do sistema de câmeras de vigilância em Belo Horizonte“Temos 160 equipamentos, estamos licitando mais 128 e o município vai instalar 160 para o ano que vemSabemos que a redução da criminalidade nos locais cobertos pelas câmeras é de 30%”, completa.

Evolução do crime


18.829 crimes violentos em BH de janeiro a setembro de 2012 *

22.268 crimes violentos em BH de janeiro a setembro de 2013*

Roubo, extorsão mediante sequestro, homicídio, tentativa de homicídio, estupro, tentativa de estupro e sequestro/cárcere privado

Aumento de 18,26%

576 homicídios em BH de janeiro a setembro de 2012

505 homicídios em BH de janeiro a setembro de 2013

Redução de 12,43%