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Estado de Minas

Grupo serve macarronada para todos


postado em 27/10/2013 06:00 / atualizado em 27/10/2013 08:16

Tulio Santos/EM/D.A Press(foto: Luiz de Almeida ajuda a preparar o jantar da turma e canta:
Tulio Santos/EM/D.A Press (foto: Luiz de Almeida ajuda a preparar o jantar da turma e canta: "Minha alegria é triste")
Por volta das 22h está pronta a macarronada do nono. “Desculpe, mas não posso carregar no tempero porque temos pessoas doentes e com colesterol alto. Prove”, oferece Robson da Silva Pereira, de 45 anos, que se apresenta como engenheiro civil e conta já ter sido dono de restaurante na Itália, onde morou por 18 anos. A massa está al dente e o tempero na medida certa. O ponto fraco é a apresentação do prato, servido no pote e colher, ambos de plástico. Como acompanhamento, vinho barato Chapinha, para as mulheres. Para os homens, cachaça com rótulo Alegria da Roça, ao custo de R$ 2,50. Não há como beber cerveja pois, além de ser bem mais cara, não haveria como gelar.

Qual é o segredo da boa comida, Robson? Sem titubear, o sem-teto responde: “Amor”. Por mais cachaça que todos tenham bebido, e por pior que seja a qualidade da bebida, ninguém ri ou ironiza o colega. Apenas olham para ele, espantados. Robson se sente forçado a completar a frase: “Fazer o quê? O ingrediente principal é o amor”. Falando nisso, ele deixa para jantar mais tarde, na companhia da mulher atual, Gleiciane Batista, de 26. Primeiro, serve os ‘pratos’ a cada um dos amigos. A comida é suficiente para todos.

Às 23h, aparecem voluntários distribuindo marmitas. “Atenção, pessoal, ninguém pegue o que não dá conta de comer. Tem gente precisando mais do que nós”, orienta Robson. Antes da macarronada, foi oferecida uma fritada de camarão, cortesia do lavador de carros Amarildo Soares de Souza, o Bebê, a partir da verba do PIS. Ele ganhou a alcunha porque chorava feito um neném no Centro de Referência do Morador de Rua. “Sinto uma dor no peito, sabe?”, conta ele, colocando a mão fechada no lugar do coração. Dito isso, pede para ligar para a casa da filha de 21 anos, mas não encontra o papel com o telefone. Chora.

Na cor vermelha, o rádio AM/FM ajuda a distrair a turma. Perto de meia-noite, no horário antigo, o sono vai batendo. Outros pedem para desligar a música. “Deixa aí, pô. Gosto da voz da Alicia Keys”, pede o serralheiro Márcio Moreira, de 46, esnobando os colegas, que preferem ouvir funk ou pagode. “Moro com minha filha na Floresta. Meu apartamento vale uns R$ 700 mil. O que me traz até aqui é a amizade. Aqui ninguém discrimina ninguém. Tomo minha pinga sossegado e depois vou embora. Só durmo quando fico muito ruim”, diz ele, que ficou viúvo há 10 anos e não se casou de novo. É hora de ir embora. “Voltem sempre. Nossas portas estão abertas para vocês”, grita José Carlos no meio da madrugada, estendendo os braços para a imensidão do viaduto.


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