Jornal Estado de Minas

Grupo serve macarronada para todos

Sandra Kiefer Túlio Santos
Tulio Santos/EM/D.A Press - Foto: Luiz de Almeida ajuda a preparar o jantar da turma e canta: "Minha alegria é triste"
Por volta das 22h está pronta a macarronada do nono“Desculpe, mas não posso carregar no tempero porque temos pessoas doentes e com colesterol altoProve”, oferece Robson da Silva Pereira, de 45 anos, que se apresenta como engenheiro civil e conta já ter sido dono de restaurante na Itália, onde morou por 18 anosA massa está al dente e o tempero na medida certaO ponto fraco é a apresentação do prato, servido no pote e colher, ambos de plásticoComo acompanhamento, vinho barato Chapinha, para as mulheresPara os homens, cachaça com rótulo Alegria da Roça, ao custo de R$ 2,50Não há como beber cerveja pois, além de ser bem mais cara, não haveria como gelar.

Qual é o segredo da boa comida, Robson? Sem titubear, o sem-teto responde: “Amor”Por mais cachaça que todos tenham bebido, e por pior que seja a qualidade da bebida, ninguém ri ou ironiza o colegaApenas olham para ele, espantadosRobson se sente forçado a completar a frase: “Fazer o quê? O ingrediente principal é o amor”
Falando nisso, ele deixa para jantar mais tarde, na companhia da mulher atual, Gleiciane Batista, de 26Primeiro, serve os ‘pratos’ a cada um dos amigosA comida é suficiente para todos.

Às 23h, aparecem voluntários distribuindo marmitas“Atenção, pessoal, ninguém pegue o que não dá conta de comerTem gente precisando mais do que nós”, orienta RobsonAntes da macarronada, foi oferecida uma fritada de camarão, cortesia do lavador de carros Amarildo Soares de Souza, o Bebê, a partir da verba do PISEle ganhou a alcunha porque chorava feito um neném no Centro de Referência do Morador de Rua“Sinto uma dor no peito, sabe?”, conta ele, colocando a mão fechada no lugar do coraçãoDito isso, pede para ligar para a casa da filha de 21 anos, mas não encontra o papel com o telefoneChora.

Na cor vermelha, o rádio AM/FM ajuda a distrair a turma
Perto de meia-noite, no horário antigo, o sono vai batendoOutros pedem para desligar a música“Deixa aí, pôGosto da voz da Alicia Keys”, pede o serralheiro Márcio Moreira, de 46, esnobando os colegas, que preferem ouvir funk ou pagode“Moro com minha filha na FlorestaMeu apartamento vale uns R$ 700 milO que me traz até aqui é a amizadeAqui ninguém discrimina ninguémTomo minha pinga sossegado e depois vou emboraSó durmo quando fico muito ruim”, diz ele, que ficou viúvo há 10 anos e não se casou de novoÉ hora de ir embora“Voltem sempreNossas portas estão abertas para vocês”, grita José Carlos no meio da madrugada, estendendo os braços para a imensidão do viaduto.