Jornal Estado de Minas

Cubano diz ganhar R$ 1.260 do Mais Médicos

Já estão em BH 225 profissionais caribenhos que vão fazer curso de acolhimento e avaliação de três semanas. Eles receberão pouco mais de 10% da bolsa mensal de R$ 10 mil do governo

Tiago de Holanda
Os médicos chegaram ao aeroporto com jalecos brancos e bandeiras do Brasil e de Cuba, seguindo para alojamento no Sesc de Venda Nova - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press

 

Com jalecos brancos e bandeiras, 225 cubanos contratados para a segunda etapa do programa Mais Médicos desembarcaram na manhã de ontem no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de BHEles estão entre os 400 profissionais da ilha caribenha que participarão do curso de acolhimento e avaliação em Belo HorizonteA outra metade do grupo deve chegar no domingo, segundo o Ministério da Saúde, que ainda não definiu os estados onde trabalharãoUm dos intercambistas informou que ganhará pouco mais de 10% (cerca de R$ 1.260) da bolsa de R$ 10 mil paga por meio do acordo entre o Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

Os 225 profissionais viajaram no mesmo avião, que partiu na tarde de quarta-feira de Havana e fez uma escala em Guarulhos nas primeiras horas de ontemEles chegaram a Confins com pequenas bandeiras de Cuba e do BrasilHiginio Rodriguez, de 50 anos, graduou-se há 21 na Universidade de Ciências Médicas de Havana e tem especialização em medicina geral integral“Viemos ajudar o povo brasileiro onde a nossa presença for mais necessária”, disse.

Ele informou que a maior parte dos R$ 10 mil mensais pagos pelo Brasil ficará com o governo cubano, responsável por receber as remunerações e decidir quanto repassará aos médicosPorém, ele não se queixou“Continuarei recebendo o salário que ganho em Cuba, de 573 pesos (equivalentes a cerca R$ 1.260, já que o peso cubano vale aproximadamente R$ 2,2)Estudei medicina de graça, me especializei de graça, não gastei nada com minha passagem para cáVim ao Brasil também para ajudar meu povo, minha terra, minha família”, argumentou.

O médico sabe que poderá enfrentar problemas na unidade de saúde para a qual for designado

“As condições podem ser boas ou não, não sei o que vou encontrarVou trabalhar onde quer que seja”, acrescentouEle custou a entender parte das perguntas feitas em português e, em alguns momentos, pediu para respondê-las em espanhol“A língua é uma pequena dificuldade, mas se aprende com a prática”, ressaltou.

Avaliação

Eidelma Rojo, de 39 anos, formou-se há 15 e também se especializou em medicina geral integralEla evitou comentar o fato de o programa provocar disputas judiciais entre o Ministério da Saúde e entidades da categoria, como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Nacional de Medicina (Fenam)“Isso é um problema do governoViemos trabalhar, dar nosso apoio ao povo brasileiro, nossa solidariedade”, disse ela, que em 2004 participou de uma missão de médicos cubanos na Venezuela

A médica contou que em seu país fez um curso de língua portuguesa com professores brasileiros, por causa da participação no programa“Falo portunhol, mas entendo bem portuguêsEspero que o curso (de acolhimento e avaliação) acabe com as dificuldades que existirem”, afirmou.

Em cinco ônibus, os cubanos foram levados para a unidade do Sesc na Região de Venda Nova, onde estão alojados
O curso começará segunda-feira e terá três semanas de duraçãoO currículo, idêntico ao da primeira etapa do Mais Médicos, inclui aulas sobre o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), língua portuguesa e doenças prevalentes no BrasilOs alunos farão testes e apenas quem tiver desempenho considerado satisfatório continuará no programa, segundo o Ministério da Saúde.

"Estudei medicina de graça, me especializei de graça, não gastei nada com a minha passagem pra cá. Vim ao Brasil também para ajudar meu povo, minha terra, minha família" - Higinio Rodriguez, médico cubano, de 50 anos - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A PressCRM-MG libera mais registros

O Conselho Regional de Medicina de Minas (CRM-MG) concedeu ontem mais dois registros provisórios a profissionais formados no exterior que vão trabalhar no Mais Médicos, mas não informou os municípios onde os profissionais trabalharãoNa quarta-feira, o órgão emitiu as primeiras 10 habilitações para bolsistas de Belo Horizonte (5), Passos (2), Sabará (1), Rio Pardo de Minas (1) e Santa Helena de Minas (1)Porém, ao menos na capital e em Passos, os intercambistas ainda não começaram a trabalharOutros 30 pedidos estão sendo analisados pela entidade.

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte não explicou por que ontem os bolsistas ainda não tinham começado a atuarEm Passos, os dois profissionais — uma brasileira formada na Espanha e um mexicano formado em Cuba — passam por treinamento e só devem iniciar segunda-feira o atendimento a doentes, segundo a coordenadora de Atenção Primária da Secretaria de Saúde de Passos, Clarissa Carneiro.

“Desde quando chegaram, em 23 de setembro, eles estão acompanhando o trabalho de um médico do município, que trabalha na área de saúde da família e está acostumado a dar estágio a estudantes de uma universidade de AlfenasA atenção básica trabalha com todos os ciclos de vidaA gente fica inseguroTemos que saber até que ponto eles estão prontos para trabalhar com uma realidade diferenteEles precisam se habituar, por exemplo, com os nomes dos medicamentos brasileiros”, explica.

GOVERNO SÓ CUMPRE A MP

O secretário de Atenção à Saúde do ministério, Helvécio Magalhães, afirmou ontem que não serão informados aos conselhos regionais de medicina os locais de trabalho dos intercambistas e os nomes dos tutores e supervisores“Vamos fornecer exclusivamente o que está na medida provisória, como a Justiça tem determinadoO ministério está dando o endereço de referência, que serve para algum contato, alguma dúvida”, disseA medida provisória que instituiu o Mais Médicos define como “condição necessária e suficiente” para a emissão dos registros provisórios a declaração de que o intercambista participa do programaO Decreto 8.840 prevê que os pedidos protocolados nos conselhos incluam outros documentos, como a habilitação no exterior e o diploma estrangeiroOs conselhos alegam que os outros dados solicitados são necessários para fiscalizarem o trabalho dos intercambistas.