Jornal Estado de Minas

Organizador da Parada Gay pode ser punido por causa de banheiros

Sanitários químicos são instalados em cima de passeio e ciclovia da Rua Professor Moraes, no Funcionários, para a Parada Gay. Segundo prefeitura, organizador do evento pode ser multado

Márcia Maria Cruz Sandra Kiefer - Especial para o EM

Pedestres e ciclistas foram parar na rua ao verem passagem impedida pelas estruturas no Funcionários - Foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press

Os locais escolhidos para instalar os banheiros químicos desagradaram quem passou pela Rua Professor Moraes, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, horas antes de o local ser fechado para a Parada GayAutorizada pela Prefeitura de Belo Horizonte para atender o fluxo de pessoas que participaram do evento, a estrutura impedia a circulação em uma das rotas de ciclovias

As cerca de 80 cabines foram colocadas no passeio e na ciclovia, dificultando a circulação tanto de ciclistas quanto de pedestres na tarde de ontem, quando o trânsito ainda não havia sido fechadoAlguns banheiros também foram colocados no passeio da Rua Gonçalves Dias esquina com Professor Moraes

Antes de os ativistas chegarem ao local, quem passou pela região ficou sem entender o porquê de os banheiros estarem na cicloviaO trânsito de veículos ainda estava liberado e os pedestres tiveram que desviar e mudar de passeioNa ciclovia, foram instaladas 34 cabines e, na calçada, outras 38A maneira como elas foram dispostas deixava um corredor estreito, o que dificultava a circulação dos pedestres e também o uso dos sanitários.

A BHTrans mudou a circulação de trânsito na regiãoO tráfego na Rua Rio Grande do Norte entre a Santa Rita Durão e a Tomé de Souza foi interditado no fim da tardeA Avenida Getúlio Vargas entre a Avenida Cristóvão Colombo e Professor Moraes também foi fechada em ambos os sentidos.

O tecnólogo em ressonância magnética Darlênio Júnior, de 33 anos, foi um dos que, devido à presença dos banheiros químicos, desviou do passeio e atravessou a rua“É horrível

Esses banheiros estão atrapalhandoA prefeitura precisa tomar mais cuidado ao colocá-los”, avaliouA médica Marina Hanashiro, de 29, que passava pela rua, também estranhou a quantidade de banheiros químicos colocados na ciclovia

Em sua opinião, a instalação demonstra o descaso do poder público com um planejamento para tornar a capital mineira menos hostil aos ciclistas“Da forma como as ciclovias foram feitas, parecem não ter sentido nenhum para a prefeituraForam feitas sem planejamento, por isso eles não devem se preocupar em colocar os banheiros químicos ali”, criticou

Um manobrista de um restaurante da região, que pediu para não ser identificado, também questionou a colocação dos banheiros químicos“Todo ano eles colocam os banheiros aqui sem nenhum planejamentoComo podem instalá-los na ciclovia?”, questionou

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Belo Horizonte informou que a instalação dos banheiros é de responsabilidade da organização da marcha
Um fiscal iria orientar para que fossem colocados da maneira corretaCaso as orientações não fossem cumpridas, a prefeitura podia multar com base no anexo 2 do Decreto 14.060, artigo 160A reportagem tentou falar com a organização do evento, mas não conseguiu.

Beijaço contra preconceito


A chuva inesperada na primavera tirou muito da purpurina e das cores do arco-íris da 16ª Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte, reduzindo o número de participantes a 5 mil pessoas reunidas na Praça da Estação ontem, na Região Central da capitalNo ano passado, o público atingiu perto de 50 mil presentesNem o frio e a garoa impediram, porém, de ocorrer o ponto alto da festaPor volta das 16h, milhares de casais de mesmo sexo aderiram ao chamado beijaço, liberando carinhos em público.

Veja  galeria de fotos

O preconceito contra a homossexualidade provoca um assassinato a cada 36 horas no BrasilEm Minas Gerais, 12 travestis já foram mortos em circunstâncias violentas nos primeiros nove meses do ano“O mineiro é tão conservador que demora a aceitar até a própria homofobiaEle não manifesta a raiva de forma descarada, como fazem nos outros estados, mas as estatísticas mostram que ela existe”, alerta Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT)

Para a drag queen Manuza Leão, caracterizada por uma fantasia de abelha, “BH está se abrindo bem mais, mas ainda há muitas barreiras”Ela equilibra as contas fazendo performances em festas de casamentos, despedidas de solteiro e boates da cidade“No ano passado, ao voltar de uma festa, fui atacado por três filhinhos de papai, armados com pausPara mim, isto não é homofobia, é falta de berço”, resumiu ela.

Para Carlos Magno, a única maneira de acabar com a homofobia é por meio o Projeto de Lei 122/2006, que considera crime qualquer tipo de manifestação preconceituosa contra os gaysAprovado na Câmara, o projeto precisa passar agora pelo Senado.

Depois da concentração na Praça da Estação, os participantes seguiram pela Rua da Bahia em direção à Avenida Afonso PenaDebaixo de uma bandeira nas cores do arco-íris, a multidão foi conduzida por dois trios elétricosDe lá, a parada seguiu para a Região da Savassi.