Jornal Estado de Minas

No trote da memória

Hipódromo marcou época a partir do começo do século passado em BH

Espaço foi cenário de glamour, mas no início dos anos 2000 viveu crise e parou atividades. Área abriga a Cidade Administrativa

Ivan Drummond
Transferência para o Serra Verde ocorreu em 1965: pista era de areia, com formato oval - Foto: Arquivo EM D.A Press - 1965

 

Existia um lugar em Belo Horizonte onde o glamour imperavaAs mulheres colocavam seus melhores vestidos e chapéus, enquanto os homens iam de ternoPassar no arremate para conhecer os cavalos mais cotados era obrigaçãoO Hipódromo Serra Verde marcou época em Belo Horizonte recebendo as corridas, o turfe, como a modalidade é pomposamente chamadaMas esse tempo já vai longe e hoje não passa de uma lembrança guardada na cabeça dos apaixonados pelo esporte

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A história das competições na capital mineira começa em 1906, quando foi criado o Jockey Club de Belo Horizonte em uma área no Bairro Prado destinada às provasO local, onde hoje está a Divisão de Infantaria da Polícia Militar (DI), ficaria conhecido como Prado MineiroNum curto espaço de tempo, abrigaria também o Campo de Aviação, que precederia o aeroporto da Pampulha (do início da década de 1930).



O Prado Mineiro se dividia, assim, entre os cavalos e os aviõesEra comum, aos domingos, as pessoas se deslocarem até lá para ver as disputas e fazer suas apostas e piqueniques, tendo como pano de fundo algumas aeronavesComo a divisão do terreno era um problema para os animais, em 1909 as atividades foram oficialmente paralisadas, passando a haver apenas eventos de forma esporádica até 1939.

A perda de espaço voltou a ocorrer em 1942Com a II Guerra Mundial, a prioridade era o campo de pouso

Assim, o turfe estaria fora do programa esportivo da capital por três anos, sendo retomado em 1944 por iniciativa de Menotti Mucelli, que em 16 de setembro daquele ano assumiu a presidência da entidade, já com o nome de Jockey Club de Belo HorizonteIsso durou até 1951, quando o espaço passou a ser exclusivo da Polícia MilitarPor 14 anos o morador de BH estaria privado das corridas, que só voltariam a ocorrer 14 anos depois, com a criação do Hipódromo Serra Verde.

A inauguração oficial se deu em 4 de abril de 1965Como estava começando do zero, isso só foi possível graças à cidade de Curvelo, a 160 quilômetros de BH, que tinha corridas regulares com cavalos mestiçosToda a infraestrutura turfística daquele município foi importada: cavalos, jóqueis, treinadores, proprietários e aficionados.

Em 13 de junho foram iniciadas as disputas com os cavalos da raça puro-sangue inglês, a mais tradicional para a prática deste esporte em todo o mundoMas os problemas não haviam terminadoEm 1967, paralisação para a reforma total do hipódromoForam três anos inativosA reabertura viria em 17 de maio de 1970, com o Serra Verde mostrando instalações que o colocavam entre os melhores do paísA pista era de areia, em formato oval, e tinha cerca de 1.700 metros
As arquibancadas eram amplasAs cocheiras tinham capacidade para cerca de 200 animais.

A partir daí, as corridas se tornaram regulares, sempre nas tardes de sábado, com programas que variavam entre quatro e seis páreos, dos quais participavam entre cinco e 10 puros-sanguesNa década de 80 o lugar viveu a sua melhor faseGrande parte dos animais pertencia a proprietários cariocas, um reduto clássicoO Serra Verde realizou em toda a sua existência 20 Grandes Prêmios Minas Gerais, os mais importantes promovidos em suas pistas, que valiam para as apostas via Loteria Federal

No início do século 21 (anos 2000), o clube enfrentaria sua mais séria crise financeiraSediou a última corrida em 7 de fevereiro de 2002Passou a operar como centro de preparação para aqueles que corriam no Rio de JaneiroEm 15 de fevereiro de 2006 o então governador Aécio Neves desapropriou o Hipódromo Serra Verde para a construção do centro administrativo projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para ser a nova sede do governo do EstadoSua fundação foi em abril de 2010.


CRISE FINANCEIRA
No início dos anos 90, o Jockey Club de Minas Gerais conheceria sua maior crise financeiraNa Justiça corriam nada menos que 57 ações trabalhistasPara 40 delas já não havia mais recursoUma das tentativas de salvação foi a diversificação de atividadesEm 1995, parte da área foi arrendada para a construção de um kartódromoAssim, de 1998 a 2000, BH e o Serra Verde sediaram o Mundial dessa modalidadeDois anos depois, com a persistência dos problemas de caixa, veio o acordo com o governo do Estado para a construção da Cidade Administrativa.


DAQUI PARA O FUTURO: Promessa de volta

O presidente do Jockey Club de Minas Gerais  é o médico Adelmar CadarDesde que foi feito o acordo com o Governo do estado e cessão da área do Hipódromo Serra Verde para a construção da Cidade Administrativa, todas as contas de ações na Justiça, a grande maioria trabalhistas, foram pagasO restante do dinheiro foi utilizado para a compra de parte de um prédio, hoje arrendado, na Zona Sul de BHE o dinheiro investido, hoje avaliado em cerca de R$ 20 milhões, permite à atual diretoria sonhar com a volta das corridasO pensamento, segundo Cadar, é a compra de um terreno em torno de 200 mil m2 (o anterior é de 800 mil), que permitiriam a construção de uma hípica e a volta das corridas voltariam ainda em 2014.


LINHA DO TEMPO
1906 – Fundação do Jockey Club de Belo Horizonte, no Bairro Prado, onde é hoje o DI
1942 – Paralisação das corridas no Prado Mineiro
1945 – Retomada das provas
1951 – Nova suspensão e fechamento definitivo da pista
1965 – Fundação do Jockey Club de Minas Gerais e criação da pista do Serra Verde
1968 – Paralisação das corridas no Serra Verde, para reforma
1969 – Reinauguração da pista, que se torna uma das mais importantes do país
1978 – Inauguração da iluminação da pista
1996 – Reformas das instalações, o que permite a modernização
1995 – Inauguração do Motódromo no Serra Verde
1997 – Inauguração do Kartódromo no Serra Verde
2002 – Em 7 de fevereiro é disputada a última corrida
2010 – Em 4 de março é inaugurada a Cidade Administrativa