Estresse, ansiedade, raiva, tempo perdido, compromissos atrasadosO drama de quem depende do trânsito no dia a dia não tem fimEnquanto o transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês), promessa para melhorar a qualidade do transporte em Belo Horizonte, não passa de um canteiro de obras e a polêmica implantação de rodízio de veículos e pedágio ainda está em discussão, muita gente se vira como pode e busca alternativas, como mudar horário e até o próprio estilo de vida para fugir do trânsito cada vez mais congestionado.
O analista financeiro Amaro Francisco do Nascimento Júnior, de 35 anos, se cansou de ficar parado em longas filas de carros no trajeto de ida e volta de casa, no Barreiro, para o trabalho, na Região Centro-Sul, e resolveu fazer parte do percurso de bicicletaHá um ano, ele leva a mulher ao emprego, na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Luxemburgo, deixa o carro em uma rua sem estacionamento rotativo, no Bairro Cidade Jardim, e segue de bike para o Bairro Santa EfigêniaA empresa onde Amaro trabalha fica no cruzamento das avenidas Brasil e Francisco Sales, região com grande movimento de pessoas e veículos“Gastava tanto tempo para conseguir uma vaga no rotativo e parado no trânsito que decidi dividir o percurso usando a bicicleta”, conta.
Segundo Amaro, para estacionar eram quase 40 minutos e, no mínimo, mais 40 para chegar ao local onde hoje deixa o carro, após o expediente“Em dias de chuva, a situação era ainda piorAgora consigo fazer o percurso sempre no mesmo horário, com 15 minutos para ir e o mesmo tempo para voltar”, dizEle apoia quem pretende usar a bicicleta.
A estudante de farmácia Tâmara Souza, de 25, também teve que mudar a rotina para sobreviver ao trânsito em BHA solução foi madrugar no ponto de ônibus para fugir dos congestionamentos das avenidas Portugal, Dom Pedro I e Antônio Carlos, no caminho para a UFMG: “Há um ano e meio, eu saía às 7h e conseguia chegar às 7h30 na faculdadeAgora, pego o ônibus às 6h20 para chegar a tempo
A servidora pública Érika Dorze, que trabalha como assessora no Tribuna de Justiça, no Centro, ainda não abriu mão do carro, mas mudou sua rotinaHá um ano ela trabalhava das 8h às 18h e usava o intervalo para almoçar em casa, no Bairro Cidade Nova, Região Nordeste, e frequentar academia“Começou a ficar muito corrido e estressante, porque o trânsito está cada vez piorAgora faço tudo durante a manhã, entro no trabalho às 13h e vou até a noite”, afirma
Quem também teve de abrir mão de almoçar em casa foi o advogado Thiago Monteiro, de 30 anos, que mora no Bairro Itapoã e trabalha no Planalto, ambos na região da PampulhaPelo menor quatro vezes por semana ele vai a audiências no Tribunal de Justiça, no Centro, ou no Fórum Lafayette, no Barro Preto, quando não pode almoçar com a família.
“Muitas vezes tenho até três horas de intervalo entre uma audiência e outra, mas ir em casa e voltar fica inviável, por causa do trânsitoSem contar que a gente nunca sabe se vai ser tranquilo ou um verdadeiro transtorno”, dizEle é contrário ao pedágio e ao rodízio, “Não adianta restringir o uso do carro particular, porque não temos transporte de qualidadeSe o rodízio for implantado nas atuais condições, por exemplo, as pessoas vão revezar o carro entre familiares ou amigos e até mesmo comprar outro carro”, avalia.