
São mais de 15 imóveis para alugar na Francisco Sá, que ficou debaixo d’água pela última vez em janeiro. Em dezembro, será a vez de a Spasso Escola de Circo se despedir da rua onde funcionou por 15 anos. Desde 2008, o galpão da escola é inundado pela chuva. O problema mais recente foi em 7 de janeiro. “Cansamos de perder materiais e equipamentos. Vários vizinhos foram embora por não aguentar mais. Vamos sair em dezembro”, conta uma das coordenadoras da Spasso Bernadete Sette Câmara.
Freezer, som, iluminação, computadores integram a lista de perdas. “A prefeitura vem e faz um relatório, mas nada acontece. Põem a placa alertando sobre a chuva e é como se o problema estivesse resolvido”, reclama Bernadete. Em janeiro, o prefeito Marcio Lacerda disse que comerciantes e moradores ficariam livres dos alagamentos em 2014, mas a Secretaria Municipal de Obras tem nova data: 2015.
Orçada em R$ 14,5 milhões, a intervenção prevê a ampliação da captação e escoamento do Córrego dos Pintos com conclusão prevista para janeiro de 2015. Quem continua na Francisco Sá tenta se proteger de enchentes. “Vamos aumentar a altura do portão de ferro que protege das enchentes”, diz o gerente de uma loja de enfeites de festas Eduardo Moisés Lopes, de 42.
No Primeiro de Maio, perto da Cristiano Machado, quem passa nas ruas percebe o desânimo dos moradores. Desde 2010, a região sofre com enchentes, mas, segundo a Secretaria de Obras, a solução só chegará em outubro de 2016. As obras nos córregos Cachoeirinha, Pampulha e Onça, orçadas em R$ 442,3 milhões, estão no pacote de recursos liberados pelo governo federal em setembro de 2012. Além da ampliação dos canais e adequadação de declividades dos córregos, a intervenção vai retirar 1,3 mil famílias de áreas de risco e criar um parque.
Até lá, cada um se vira como pode. A salgadeira Núbia Botelho, de 28, começou este mês a construir o segundo andar da casa. Uma mureta na porta dos cômodos do primeiro andar também foi construída para impedir a passagem da água. “Já fiz faculdade, pós-graduação e mestrado sobre como sobreviver em enchentes e até hoje nada foi feito por aqui. Se for esperar 2016, ninguém estará mais aqui para contar história”, afirma.
