Jornal Estado de Minas

Atraso em obras de prevenção obriga moradores de áreas nobres de BH a mudarem

Comerciantes tentam improvisar estruturas para impedir inundação em lojas

Flávia Ayer
Francisco Sá: Bernardete e a Spasso escola de circo vão embora em dezembro - Foto: JOÃO MIRANDA/EM/D.A PRESS
Com a temporada de chuva batendo à porta e sem obras de prevenção à vista, a população de áreas com risco de enchentes começa a tomar providências para enfrentar novos temporaisNas proximidades da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Primeiro de Maio, Norte de BH, moradores estão construindo estruturas para impedir inundaçãoNa Avenida Francisco Sá, no Prado, Oeste, galpões vazios indicam a mudança de empresasJá na Avenida Prudente de Morais, na Cidade Jardim, Centro-Sul, o adiamento da obra em quase um ano causou surpresa.

São mais de 15 imóveis para alugar na Francisco Sá, que ficou debaixo d’água pela última vez em janeiroEm dezembro, será a vez de a Spasso Escola de Circo se despedir da rua onde funcionou por 15 anosDesde 2008, o galpão da escola é inundado pela chuvaO problema mais recente foi em 7 de janeiro“Cansamos de perder materiais e equipamentosVários vizinhos foram embora por não aguentar maisVamos sair em dezembro”, conta uma das coordenadoras da Spasso Bernadete Sette Câmara.

Freezer, som, iluminação, computadores integram a lista de perdas“A prefeitura vem e faz um relatório, mas nada acontece
Põem a placa alertando sobre a chuva e é como se o problema estivesse resolvido”, reclama BernadeteEm janeiro, o prefeito Marcio Lacerda disse que comerciantes e moradores ficariam livres dos alagamentos em 2014, mas a Secretaria Municipal de Obras tem nova data: 2015.

Orçada em R$ 14,5 milhões, a intervenção prevê a ampliação da captação e escoamento do Córrego dos Pintos com conclusão prevista para janeiro de 2015Quem continua na Francisco Sá tenta se proteger de enchentes“Vamos aumentar a altura do portão de ferro que protege das enchentes”, diz o gerente de uma loja de enfeites de festas Eduardo Moisés Lopes, de 42

No Primeiro de Maio, perto da Cristiano Machado, quem passa nas ruas percebe o desânimo dos moradoresDesde 2010, a região sofre com enchentes, mas, segundo a Secretaria de Obras, a solução só chegará em outubro de 2016As obras nos córregos Cachoeirinha, Pampulha e Onça, orçadas em R$ 442,3 milhões, estão no pacote de recursos liberados pelo governo federal em setembro de 2012Além da ampliação dos canais e adequadação de declividades dos córregos, a intervenção vai retirar 1,3 mil famílias de áreas de risco e criar um parque.

Até lá, cada um se vira como podeA salgadeira Núbia Botelho, de 28, começou este mês a construir o segundo andar da casaUma mureta na porta dos cômodos do primeiro andar também foi construída para impedir a passagem da água
“Já fiz faculdade, pós-graduação e mestrado sobre como sobreviver em enchentes e até hoje nada foi feito por aquiSe for esperar 2016, ninguém estará mais aqui para contar história”, afirma.