Jornal Estado de Minas

Médicos estrangeiros visitam centros de saúde e consideram idioma maior dificuldade

Bolsistas estiveram em centros de saúde do Barreiro e Região Noroeste

Tiago de Holanda
Natural de BH, Fausto Carvalho reclamou de recepção de médica - Foto: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS
Entre os estrangeiros escolhidos para Minas pelo programa Mais Médicos, alguns acreditam que a maior dificuldade que enfrentarão será ampliar a compreensão da língua portuguesaOntem, eles e bolsistas brasileiros estiveram em três centros de saúde do Barreiro e da Região Noroeste de BHA visita faz parte do curso de acolhimento e avaliação que prepara o grupo para começar a trabalhar em 16 de setembroEles conversaram com funcionários e líderes comunitários e aprovaram a estrutura das unidades.


Os 20 médicos, incluindo 10 brasileiros, se dividiram em três grupos, enviados para os centros de saúde dos bairros Vila Cemig, Vale do Jatobá e Bom JesusO objetivo era fazer com que entendessem melhor o funcionamento de unidades básicas e tivessem contato com equipes de saúde da família, prévia do que poderão encontrar quando começarem a trabalhar“A ideia é que eles associem o que observaram nos centros e ouviram das equipes com o que aprenderam nas aulas sobre o funcionamento do Sistema Único de Sáude (SUS), saúde da família”, explicou o coordenador pedagógico do curso em BH, Rodrigo Chávez Penha.

A colombiana Fanny Viviana Paz Furtado, de 36 anos, tem dificuldade para entender portuguêsFormada no Equador, ela trabalhava na VenezuelaNa entrevista concedida ao Estado de Minas, não conseguia compreender algumas perguntas e foi ajudada por um colega brasileiro como intérpreteSem achar as palavras certas, às vezes a médica respondia em espanhol, como quando elogiou as pessoas que receberam seu grupo no centro de saúde da Vila Cemig: “La gente es muy amable”Fanny dá nota cinco ao seu português“Sei ler, minha dificuldade é falar

Com o tempo vou melhorando”, disse ela, designada para trabalhar na unidade da Vila Cemig.

O boliviano David Paz, de 29, considera a língua o principal desafio: “Não vou deixar de compreender o que o paciente diz, não vai haver confusãoSe eu não souber a palavra, vou me expressar com gestos, fazer mímicaSe precisar, pergunto a meu colegaMorando aqui, vou me acostumar às palavras diferentes, à pronúncia”.

Ele se graduou na Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), em CubaTrabalhava no país natal até vir para MinasVai atuar em BH, mas ainda não sabe em qual unidade de saúde“Estou ansioso para conhecer um sistema de saúde novoÉ um processo de adaptaçãoNo começo, vamos ter que perguntar muito para não errar”, disseE acrescentou, em “portunhol”: “Tenho ganas de trabalhar”
Segundo o ministério, a língua pátria dos estrangeiros é o espanhol (há médicos da Colômbia, México, Bolívia, Argentina e Venezuela, e uma profissional de Portugal).

PRECONCEITO Os médicos acharam calorosa a recepção recebida nos centros de saúde, mas reclamaram de uma colega da unidade da Vila Cemig“Ela nos recebeu muito malLógico que foi por preconceito”, conta o belo-horizontino Fausto José Solis Carvalho, de 34, que se formou na Bolívia e trabalhou oito anos na Argentina“Ela foi muito grosseira”, reforça Fanny, que, no entanto, gostou do que encontrou no centro de saúde: “A estrutura é muito boa, tem todos os equipamentos necessários”.

“É possível que o pessoal sofra resistência de colegasSe isso ocorrer, o gerente do centro de saúde terá de conversar com o médico que agir assimQualquer ocorrência, a gente tem como agir com diálogo”, afirma a gerente do Distrito Sanitário do Barreiro, Renata Mascarenhas, que acompanhou a visitaEla se preocupa com o fato de alguns bolsistas não entenderem bem o português“A comunicação é de suma importância na relação entre médico e pacienteOs dois têm de se entender claramenteCaso isso não ocorra, vamos informar à coordenação do programa”, prometeSegundo Renata, centros de saúde do Barreiro receberão sete bolsistas diplomados no exterior.