O Brasil engordou e, pela primeira vez, mais da metade da população está acima do peso ideal. Os números da balança subiram mais que o recomendável para 51% dos brasileiros no ano passado. Em 2006, o índice era de 42,7%, ou 8,3 pontos percentuais a menos. Apesar de estar abaixo da média nacional, Belo Horizonte não tem muito a comemorar. Nos últimos sete anos, a população com excesso de peso na capital mineira cresceu 10,8 pontos percentuais, passando de 37,3% para 48,1%.
Divulgados ontem, os dados são da pesquisa Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde. O estudo entrevistou por telefone 45 mil pessoas com mais de 18 anos, em 26 capitais e no Distrito Federal. Os homens continuam sendo mais gordos que elas. Em BH, 44,7% das mulheres estão fora do peso ideal, enquanto 52% deles se encontram nessa situação.
A gravidade do problema se traduz também no aumento no número de obesos no país, definição adotada quando o Índice de Massa Corporal (IMC) – peso dividido pela altura ao quadrado – extrapola os 30kg/m². De acordo com a pesquisa, 17,4% dos brasileiros são considerados obesos. Nos tamanhos extragrande, as mulheres se sobressaem. Segundo o Vigitel, 18,2% delas são obesas, contra 16,5% dos homens.
A obesidade também avança na capital mineira, onde a estimativa da população obesa é de 14,5%, índice 5,7 pontos percentuais acima do registrado em 2006 (8,8%). Assim como no Brasil, o problema está mais presente entre as mulheres (15,5%), em relação aos homens (13,3%). A Vigitel identifica que o sobrepeso é mais comum a partir dos 35 anos e entre os brasileiros com menor escolaridade. “A obesidade é uma tendência global, relacionada à mudança no padrão alimentar, mais industrializado, e à diminuição da prática de atividade física, com facilidades como carro e elevador”, diz o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa.
O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional Minas, Paulo Augusto Carvalho Miranda, chama atenção para a necessidade de mudança de postura. “Estamos assistindo de forma passiva à evolução do sobrepeso e da obesidade e todas as medidas têm sido ineficazes”, afirma. O especialista alerta para o fato de que o problema não é de estética, mas de saúde. “O excesso de peso está relacionado ao aumento de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, infarto e derrame”, afirma Miranda, reforçando a importância da prática de exercícios físicos e de uma alimentação balanceada.
A arquiteta Aléxia Amaral, de 40 anos, sabe bem o peso da obesidade. Com 1,70m, ela passou dos 70 quilos na juventude para os 145 quilos. Hoje na fila da cirurgia bariátrica, Aléxia conta que o ganho de peso a levou a uma forte depressão. “Quando comprei um carro, depois que me formei, parei de fazer exercícios e engordei 15 quilos. A partir daí, fiz dietas malucas com drogas pesadas e só piorei”, diz. Livre da depressão, Aléxia comemora vitórias. “Comecei a frequentar o Núcleo Mineiro de Obesidade (Nuobes) e minha relação com os alimentos mudou. Aprendi a comer de três em três horas”, diz.
Prato
Os hábitos alimentares ajudam a entender os quilos a mais na balança. Em Belo Horizonte, 38,2% da população come carne gordurosa e 54,2% consomem leite integral, com maior teor de gordura, regularmente. Os refrigerantes estão na mesa de 27,3% dos belo-horizontinos pelo menos cinco vezes por semana.
Mas há também boas notícias. O consumo de hortaliças e frutas cinco vezes por semana cresceu na capital e passou de 34,4%, em 2006, para 42,9%. BH também continua liderando o consumo de feijão no país, sendo que 85,6% da população consome uma porção diária do grão, contra 67,5% dos brasileiros.
A prática de atividades físicas também cresce na capital. Enquanto em 2006, 15,9% da população se exercitava no tempo livre, esse percentual subiu para 36,4%. Os homens (45,5%) são mais ativos em relação às mulheres (28,7%). O secretário municipal-adjunto de Saúde, Fabiano Pimenta Júnior, ressalta que as políticas públicas direcionadas para a questão são recentes e que o prazo ainda é curto para atingir resultados. “Expandimos de oito para 59 o número de academias da cidades. Até o fim do ano vamos passar de 91 para 176 academias a céu aberto nas praças e parques. Os nutricionistas também estão presentes nos centros de saúde, mas o tempo é curto para ver o reflexo dessas ações”, afirma.
Saúde da mulher
Elas estão se prevenindo mais. A pesquisa Vigitel 2012 mostrou aumento no número de mamografias e exames de papanicolau entre as mulheres. Em 2012, 77,4% das brasileiras e 86% das belo-horizontinas entre 50 e 69 anos haviam feitos mamografia nos dois anos anteriores.
No penúltimo levantamento, o percentual era de 73,3% e 81,5%, respectivamente. No ano passado, 82,3% das mulheres de 25 a 59 anos no país e 84% delas em BH haviam feito papanicolau nos três anos que antecederam a pesquisa, contra 80% e 81,1% em 2011.
O que você tem feito para evitar o ganho de peso

Anderson Matias
gerente de vendas, 33 anos
“Por falta de tempo, não pratico atividades físicas e também não adoto nenhum tipo de restrição com a alimentação. O assunto precisa ser tratado com atenção, mas ainda não consigo conciliar minha rotina de trabalho com algum exercício físico”

Cíntia Pereira
cuidadora, 20 anos
“Não como carne vermelha. E desço a Afonso Pena inteira a pé todos os dias. Fora isso, não tenho tempo para me exercitar”

Jurandir Magalhães,
aposentado, 75 anos
“Caminho diariamente pela Avenida Bandeirantes por cerca de uma hora. Nos fins de semana faço trilha pelas imediações de Nova Lima”
