Jornal Estado de Minas

Tesouro sacro é descoberto em Minas

Peças de igrejas de Berilo, no Vale do Jequitinhonha, foram encontradas em cofre num posto de saúde desativado 30 anos depois de desaparecerem. Moradores comemoraram

Gustavo Werneck
Dentro do cofre, aberto na presença de autoridades, estavam castiçais, lampadário, coroas e vários outros objetos - Foto: PAULA NOVAIS/MPMG/DIVULGAÇÃO
Tesouro trancado a sete chaves abre as portas para o conhecimento e admiraçãoUm achado surpreendente enriquece a cultura de Berilo, no Vale do Jequitinhonha, a 537 quilômetros de Belo Horizonte, e põe fim a uma história de mistério que já durava mais de três décadasConforme foi divulgado ontem, mais de 30 peças sacras foram encontradas num cofre localizado num antigo e desativado posto de saúde no Centro da cidade de 13 mil habitantesA população comemorou a descoberta do patrimônio, que inclui imagens, castiçais, lampadário, resplendores, coroas, objetos usados em festas do congado, um ex-voto e outros objetos de prata e madeira“Estamos muito felizes, pois há muito tempo os moradores vêm cobrando que o armário fosse aberto”, disse o titular da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, padre Charleston Pereira Lima


Segundo padre, as peças foram transportadas para um local fora da cidade a fim de garantir a segurança do acervo“Muitas delas, principalmente as de madeira, estão bem deterioradas, necessitando de restauraçãoEstamos providenciando uma forma de recuperá-las”, explicouO pároco contou que a abertura do armário-cofre, que tem 2 metros de altura e 90 centímetros de largura, foi possível graças a uma solicitação do ex-promotor da comarca de Minas Novas Wagner Aparecido Rodrigues Dionísio e posterior condução do procedimento pelo atual promotor Erick Anderson Caldeira CostaPara abrir o cofre, que tinha um segredo e não tinha cadeado, foi chamado um especialista de Araçuaí.

“A abertura do cofre provocou uma verdadeira comoção em BeriloAs pessoas ficaram esperando na praça, perto do antigo posto de saúde, até que o serviço do chaveiro terminasse”, disse, ontem, a historiadora Paula Novais, da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC)

Paula explicou à população o que estava sendo feito e teve a oportunidade de ouvir histórias envolvendo o misterioso cofre“Havia muita lenda em torno do assuntoAlguns acreditavam até que o armário guardasse ossadas”, afirmou a historiadora, que elaborou um laudo sobre todo material encontrado.

Acervo

As peças ganharam a “liberdade” em 14 de junho na presença do padre Charleston, do promotor Erick, do bispo de Araçuaí, dom Marcelo Romano, o prefeito de Berilo, Igor Coelho, representantes da Polícia Militar e outrosAs primeiras investigações mostram que o acervo pode ter pertencido à antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, do século 18 e demolida em 1988, e à Matriz de Nossa Senhora da ConceiçãoSegundo o coordenador do CPPC, promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, o tesouro será agora incluído na relação dos bens recuperados em Minas“Trata-se de uma descoberta de grande relevância, mas o maior desafio é a restauração do acervo”, afirmou.

Para os moradores e gestores culturais, a abertura do cofre foi da maior importância“Desde a demolição da Igreja de Nossa Senhora do Rosário a nossa cultura popular ficou mais pobreA coroa agora encontrada pode ser da imagem, que é reverenciada pelos integrantes do congadoNo lugar onde havia a igreja, hoje existe uma praça e todo mundo se lembra do adro onde sempre ocorreu a festa do Rosário”, conta o agente cultural Alessandro Borges AraújoAs peças estão sob guarda da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição