Jornal Estado de Minas

O caos chegou, o fiscal sumiu

Achar PMs, guardas ou agentes da BHTrans nas obras do BRT é tarefa difícil

Enquanto isso, motoristas fazem o que querem e até operários controlam o tráfego

Tiago de Holanda Guilherme Paranaiba
Fechamento de faixas da Rua Curtitiba aumentou confusão no Hipercentro, onde pedestres e carros disputam espaços cada vez menores - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press


 

Entre as 13h e as 15h de ontem, um dos horários mais complicados para o trânsito no Centro da capital, o Estado de Minas percorreu o entorno das obras do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) e não encontrou qualquer agente da BHTrans, do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) ou da Guarda MunicipalTanto que, quando um trator precisou sair do canteiro de obras da Avenida Santos Dumont e atravessar a Rua Curitiba para chegar à Praça Rio Branco, foram dois operários, com apitos na boca, que interromperam o tráfegoDiante da ausência de fiscalização, motoristas que cometem infrações dificultam ainda mais o fluxo de carros.

Na Rua Curitiba, logo após o cruzamento com a Avenida Santos Dumont, quando a via volta a se alargar, é comum ver veículos parados junto à calçada da direita, apesar de haver placa proibindo estacionar no localPouco depois das 13h de ontem, o agente de segurança André Luiz Rodrigues, de 31 anos, deixou o carro ali, com o pisca-alerta ligado, e saiu para comprar lâmpadas em uma loja próximaCerca de 15 minutos depois, voltou, apressado“Aqui já era difícil estacionar e piorou depois que obstruíram uma parte da Curitiba”, argumentouO taxista Rodrigo Andrade, de 40, também aproveita para encostar onde não pode e se defende: “Não tem como fazer diferente com esse afunilamento”.

Quem precisa fazer operação de carga e descarga no comércio local também sofre para conseguir vaga, mesmo que seja por poucos minutosO motorista Jonathan Júnior, de 27, precisou entregar encomenda em uma drogaria e, como não havia lugar junto à calçada, parou em fila dupla, na faixa de trânsito que está interditada“Estou vindo do Gutierrez (Região Oeste) e o tempo no trânsito aumentou demaisJá teve dia em que demorei meia hora a mais do que o normal, que é de cerca de 20 minutosComo tem muito carro nas vagas para descarregar, o jeito é ficar por aqui mesmo”, disse.

O motorista Joaquim Fidelis, de 63, presta serviço à Prefeitura de BH e também sofre para estacionar o caminhão na Curitiba

Às vezes, ele também para em fila dupla“Ficou muito mais difícilJá fiquei 40 minutos rodando até surgir uma vagaAcho que parte do trânsito tinha que ser desviado, para desafogar a rua”, sugere.

Muitos pedestres aproveitam o tráfego lento no cruzamento da Curitiba com a Avenida Santos Dumont para andar entre os veículosÀs vezes, precisam correr para não ser atingidos pelos carrosAlguns se confundem com o labirinto que se formou nos passeiosNa tarde de ontem, a comerciante Edir Serra, de 53, queria chegar a uma loja na esquina das duas ruasAndou em uma calçada, parou, olhou para os lados e achou que estava indo na direção errada“Ai, meu Deus”, exclamouDeu meia volta, atravessou a Curitiba e descobriu que o caminho certo era o outro
“Está horrívelA gente anda uma distância enorme para chegar aonde quer”, queixou-se“Mas, para consertar, tem que atrapalhar, né?”, resignou-se.

A BHTrans nega a falta de fiscalização na área central e, por meio de nota, afirma que “o monitoramento do trânsito está sendo feito pelos agentes da Unidade Integrada de Trânsito”, composta por pessoal da empresa, da Polícia Militar e da Guarda MunicipalOs agentes ficam “nos pontos mais afetados pela obra” do BRT, segundo o texto“De acordo com a necessidade, estão sendo deslocados para outros pontos que merecem monitoramento mais efetivo.” As medidas incluem o “controle da programação semafórica”, para permitir mais fluidez ao trânsito, explica a BHTransAlém disso, são feitos “desvios operacionais de acordo com a situação”.

Segundo a assessoria de comunicação da PBH, diferentemente do que foi constatado pela reportagem, guardas municipais estão presentes de forma ostensiva para controlar o trânsito do Hipercentro, usando motocicletas e viaturas da corporaçãoSobre o assunto, o tenente-coronel Roberto Lemos, comandante do BPTran, afirma que o controle de tráfego tem ficado principalmente a cargo da Guarda e da BHTrans, enquanto os militares se concentram em ações que evitem o fechamento das vias.

O EM entrou em contato com a Secretaria de Obras da Prefeitura de BH, mas os pedidos de entrevista com o secretário José Lauro Nogueira e de explicações sobre os problemas de cronograma das obras do BRT não obtiveram resposta.