O Viaduto José Alencar, que liga a Avenida Antônio Carlos à Abrahão Caram e dá acesso ao Estádio do Mineirão, na Região da Pampulha, nunca mais será o mesmo desde a manifestação da quarta-feira, dia 26 de junho, que reuniu 100 mil jovens contra a realização da Copa das Confederações e culminou na morte do jovem Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21 anosPela primeira vez desde a perda do filho, há 11 dias, Neide Caetano de Oliveira Souza, de 43, esteve ontem no local exato onde o jovem despencou de uma altura de cerca de cinco metros“Coitadinho! É muito alto!”, murmurou ela, emocionada, evitando olhar diretamente para o vãoEm contraste com a multidão, que naquele dia assistiu à queda do rapaz, a mãe fez um ato de protesto solitário, depositando flores no concreto.
“Não quero nenhuma manifestação, não chamei ninguém para vir aqui comigoMeu clamor é para que mãe nenhuma precise sentir esta angústia”, explicou, com os olhos embotados de cimento e lágrimas, como na canção de Chico BuarqueEra amparada pelo amigo Aldemiro Rodrigues Paulino, de 46, que levou as floresSegundo ele, Neide cancelou na sexta-feira a festa de aniversário de um dos três filhos, além de Douglas, por não se sentir em condições de participar“Ela passa a maior do tempo deitada na cama, reclama de tremedeira nas mãos e nos pésEstá arrasada”, explica
“Douglas não abraçava ninguém frouxo, sabe? Quando chegava do serviço, antes de abraçar os irmãos, o primeiro abraço era o meuVocê pode imaginar a falta que esse abraço está fazendo para mim?”, desabafou, lembrando que no dia da manifestação, o rapaz trabalhou até o meio-dia
Faltou a Neide coragem para subir na parte de cima do viaduto e conferir de perto o desnível da construção do pavimento, de onde caiu o filhoDe fato, dependendo do trecho, a ilusão de ótica induz o pedestre a pensar que dá conta de pular de um lado para o outro
Por mais que quisesse, Neide não estava sozinhaAlguns poucos parentes, amigos e representantes de movimentos sociais se fizeram presentes para prestar solidariedade no momento de dor, caso da Assembleia Popular Horizontal, Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, Sindicatos dos Advogados de Minas Gerais, Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil seção Minas Gerais“Estou aqui para prestar uma homenagem ao meu companheiro”, disse o metalúrgico Bernardo Lima, de 30, coordenador da Central Sindical e Popular (Comlutas)
Prisão em protesto
Um jovem foi preso no começo da tarde de ontem durante protesto na Praça Sete, Centro de Belo HorizonteWilliam Silvério Dias, de 23 anos, deu um soco no parabrisa de um ônibus, que trincouDepois de medicado, já que sofreu lesões na mão, ele foi levado para a Central de Flagrantes (Ceflan) da Polícia Civil, para ser ouvido e autuado por danos.De acordo com a Polícia Militar, a manifestação começou pouco depois das 13h e reuniu mais de 500 pessoas