Jornal Estado de Minas

Atitude de manifestantes da linha de frente prenunciava conflito

Tiago de Holanda e Pedro Rocha Franco

  - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

“Rumo à Abrahão Caram!”, incitou um rapaz, sorrindo, pouco depois de a passeata sair do Centro de Belo Horizonte e chegar à Avenida Antônio Carlos“Hoje a gente passa”, dizia outro, referindo-se à barreira composta por homens da Polícia Militar e da Força Nacional de SegurançaNo grupo em que os dois estavam, quase todos tinham máscaras ou cobriam o rosto com camisas, mesmo figurino usado por mais de 40 jovens que caminhavam na linha de frente da multidão.

A linha de frente da passeata parece ser o ponto com maior concentração de pessoas preocupadas em ocultar a identidadeAlguns jovens deixavam apenas os olhos à mostraEsse não era o único aspecto que justificava a suspeita de que estavam mal-intencionadosEm um grupo, rapazes tinham mãos e pulsos envolvidos por atadurasEles estavam vestidos de preto e alguns, sem camisa, tinham pintado nas costas o símbolo do anarquismo.

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CENAS DE GUERRA: QUEBRADEIRA E VANDALISMO



A poucos metros, em outro grupo, um rapaz carregava um bastão de madeiraOutros dois tinham escudos feitos de papelão e madeiraAlguns jovens andaram quase todo o percurso com óculos de proteção e máscara de defesa contra gás lacrimogêneo, como se ansiassem pela luta com a polícia.

Veja minuto a minuto das manifestações desta quarta-feira, dia do jogo do Brasil em BH

Quando chegavam perto de um local onde ficava a barreira policial, como nas avenidas Abrahão Caram e Santa Rosa, muitos começavam a andar olhando para o chão, à procura de pedrasNa chegada da passeata à Avenida Abrahão Caram, parte desses manifestantes lamentaram o fato de, inicialmente, quase toda a multidão ter decidido continuar pela Antônio Carlos, conforme havia sido acordado na véspera“Passeata vendida”, xingou um

Mesmo assim, não desistiramForam até a barreira composta por grades e começaram a provocar os policiais.

Passagem forçada em outro bloqueio

Quando a multidão que subia a Avenida Antônio Carlos, passando direto pelo bloqueio da Abrahão Caram chegou ao cruzamento com a Avenida Santa Rosa, houve indecisão sobre qual rumo seguirUma parte queria continuar na via, seguindo a orientação de quem usava o microfone do carro de somMas outro grupo preferia virar à esquerda e gritava: “Rumo ao Mineirão”E seguiram pela avenida que dá acesso à orlaMenos de um quarteirão à frente, uma barricada impediu a sequência dos manifestantes e as primeiras balas de borracha foram disparadasPor cerca de 10 minutos eles tentavam furar o bloqueio e segundos depois retornavam correndo.

Por volta das 16h, depois de três bombas caseiras estourarem na Antônio Carlos, cerca de cem manifestantes começaram a atacar policiais que faziam barreira na entrada da Alameda das LatâniasA maioria tinha o rosto coberto com camisasMuitos jogaram pedras e bombas nos militares, que em poucos minutos reagiram com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha.

Os agressores recuavam e voltavam a atacar, mas em 20 minutos a Polícia Militar conseguiu conter o grupo, com a ajuda de manifestantes, que gritavam: “Sem pedra! Sem pedra!”Para facilitar a identificação dos participantes violentos, muita gente pedia: “Senta no chão! Senta!”
Cinco rapazes foram presos, segundo o comandante do Policiamento Especializado, coronel Antônio Carvalho Pereira.

Pedras de um estacionamento na esquina da Santa Rosa com Antônio Carlos eram usadas como armaMuitos vândalos tentavam amarrar bombas às pedras, para que o artefato ganhasse peso e fosse lançado a distâncias maioresAo perceber que o conflito não teria fim, a PM decidiu abrir a passagem para que os manifestantes pudessem seguir pela orla da lagoa até o MineirinhoA cada cruzamento, dezenas de policiais faziam barreiras para que fosse feita uma rota sóAo chegar nas proximidades do Mineirinho, o número de manifestantes era bem menor, enquanto dezenas de policiais faziam uma barricada

Reforços para a frente de combate


Ao saber que havia conflito pesado na Avenida Abrahão Caram, manifestantes decidiram retornar para dar apoioOs últimos da fila, ao se deparar com um carro da Guarda Municipal, sentaram-se no chão, impedindo a passagem do veículo oficial e de mais dois ônibus da linha 504Os veículos foram obrigados a dar meia volta e procurar novo caminhoNa volta para a Antônio Carlos, pelo menos três ônibus parados em um ponto final foram depredadosQuase todos os vidros foram quebradosSegundo testemunhas, dois vândalos passaram com paus e pedras destruindo os veículos.

Quando esse foco de manifestação chegou de volta à Antônio Carlos, os ativistas se depararam com uma cena de pura destruiçãoTrês pontos de incêndios, o céu coberto por uma nuvem preta de fumaça e bombas e tiros a todo instanteDois soldados da Força Nacional, logo que desceram a avenida tiveram que voltar correndo para evitar confronto com manifestantesUm deles, no entanto, não conseguiu escapar e acabou sendo cercado por mais de uma dezena de pessoas, que o acompanharam até a esquina com a Avenida Santa RosaUm helicóptero acompanhou o grupo com flashes de luz e dando rasantes, fazendo com que a poeira nos olhos impedisse a continuidade da quebradeira.

Vândalos se espalharam pela avenidas Antônio Carlos e Professor Magalhães Penido, aumentando a destruiçãoMesmo com o risco de explosão em duas concessionárias totalmente tomadas por fogo e de um posto de combustível, eles não temiam o riscoMuitos pegavam mais material para contribuir para a queimaCadeiras, pedaços de madeira e folhas das palmeiras da avenida eram lançadas e a arruaça só se espalhava um pouco quando helicópteros davam rasantes.

Mais tarde, equipes do Corpo de Bombeiros conseguiram se posicionar em frente à concessionária da Kia para tentar apagar parte do fogo e impedir que se alastrasse para imóveis ao ladoO trabalho só teve êxito porque, na sequência, um ônibus da tropa de choque chegou ao local, contribuindo para dispersar os vândalos.