Jornal Estado de Minas

Manifestação em BH reuniu muita gente e mostrou diferentes tipos de insatisfação

Muita gente, muitos pedidos: no quarto dia de passeatas na capital mineira, 20 mil pessoas se reúnem no Centro e na Câmara Municipal

Jorge Macedo - especial para o EM

Tiago de Holanda, Mateus Parreiras, Alice Maciel, Landercy Hemerson e Luciane Evans

- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


CuidadoQuerem tirar nosso focoO protesto é contra a roubalheira”, dizia um dos cartazes expostos ontem na Praça Sete, no Centro de BH, onde se reuniram cerca de 20 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia MilitarPorém, no quarto dia seguido de manifestações na capital, mais uma vez ficou claro que as queixas são diversas, muitas, incontáveisParte delas parece ser unânime, como o combate à corrupção, mas outras são bem controversasAlgumas, um tanto imprecisas, exigem mudanças vagasA variedade de reivindicações pode incomodar, mas muita gente prefere que seja assimO Brasil, dizem, tem problemas em abundânciaNa manifestação de ontem, que passou pela Praça da Liberdade e pela Câmara Municipal, no Santa Efigênia, houve menos incidentes do que nas anterioresUma pessoa foi presa por tentar roubar um manifestante.

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“Tem tanta coisa errada, que nem cabe em um cartaz”, lia-se na cartolina erguida por Stephanie Messias, de 18 anosNo ato de ontem, ela estava acompanhada de outros sete estudantes de direito

“A grande quantidade de objetivos não é ruimNão dá pra resolver tudo de uma vez, mas aos poucos as coisas mudamA partir de agora, vamos ficar no pé dos políticos”, diz a moçaOs colegas concordam“Acho que a principal meta é reduzir o preço da passagem de ônibus, mas há muita coisa erradaA gente está indignada, por exemplo, com o excesso de dinheiro gasto com a Copa do Mundo”, disse Blenda Lopes, de 19“Na verdade, é a união de tudo: corrupção, a falta de saúde, de educaçãoA gente não aguenta mais”, opina Luiz Fernando, 19Ele carregava um cartaz criticando a imensa carga tributária brasileira“Pagamos um monte de impostos e não temos retorno nenhum”, apontou.

 
- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


Como tantos outros, o cartaz segurado pelo vestibulando Wallaggy Ribeiro, de 22 anos, atacava a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que retira do Ministério Público o poder de investigar crimes

Já o primo dele, o estudante de ciências contábeis Michel Warley, de 26, levantava outra bandeira: “Não à Copa, sim à saúde”“Há uma mês, fiquei um dia inteiro esperando em um centro público de saúde e, quando fui atendido, o médico errou o diagnósticoDisse que eu tinha virose, mas depois descobri que era um princípio de pneumonia”, contou o jovemA amiga que os acompanhava, a estudante de biomedicina Jéssica Carvalho, de 21, tinha outro alvo: “Não ao Ato Médico”A moça se refere ao projeto de lei que, à espera de sanção da presidente Dilma Rousseff, amplia o escopo de atividades exclusivas dos médicosOs três aprovam o fato de os protestos terem tantas reclamações“Os vários objetivos mostram que há muitos problemas para resolver”, constata Michel.

O cartaz da estudante de publicidade e propaganda Luísa Teles, de 20 anos, tinha dizeres irônicos: “Por uma saúde e uma educação nos padrões Fifa”Apesar disso, a mudança mais urgente que deve ocorrer no país é outra, na opinião dela“O principal é tirar o Marco Feliciano (deputado federal que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara)Você não constrói uma democracia recriminando as pessoas por causa da opção sexual delas”, alegouA cartolina exposta por uma amiga, a estudante de direito Luiza Barros, de 20, celebrava a realização dos protestos: “País mudo não mudaO gigante acordou”Para a moça, a meta mais importante é outra: “É diminuir o salários dos políticos, os gastos que eles têm à nossa custaEsse dinheiro precisa ser investido em saúde e educação”, opina Luiza“A galera percebeu que tem muita coisa para ser corrigidaNão tem como concentrar em um único objetivo”, acredita.

Perto dali, um jovem passou com um cartaz ambicioso: “Precisamos mudar: política, educação, saúde, transporte, caráter”Um rapaz pedia o “fim do financiamento privado de campanha”Outro queria a “cabeça” do presidente do Senado: “Fora, Renan Calheiros”Com uma rima de gosto duvidoso, uma moça exigia mudança: “Não quero tchu, nem quero tcha, quero revolução e quero já”Outro dizia que “não está certo o que o governo faz com nosso dinheiro”Havia quem antevisse um promissor futuro, ainda que incerto: “Amanhã vai ser outro dia”E outro ameaçava: “Só sairemos da rua quando o último corrupto cair”Como que em resposta a essa promessa, uma garota anunciava: “Milagres acontecem quando a gente vai à luta”Inscrita em um cartaz, talvez apenas uma mensagem fosse apoiada por todos os manifestantes: “O Brasil tem conserto”.

Sem incidentes

Apesar dos poucos incidentes, a manifestação de ontem deu mais trabalho à Polícia Militar para organizar o trânsitoA falta de uma coordenação do ato se refletiu em diversos impasses e desvios de trajeto que dificultaram o esquema de segurança da PM para acompanhar o protesto e provocaram engarrafamentosA primeira indecisão de percurso ocorreu na Praça da Liberdade, na esquina da Avenida Brasil com Avenida Cristóvão ColomboAlguns manifestantes queriam descer para a Praça da Savassi e outros queriam ir para a CâmaraFoi preciso retornar para a esquina, onde, depois de alguns minutos, o impasse foi resolvido com uma votação que decidiu por uma caminhada até o prédio do Legislativo Municipal

Ao longo do caminho os manifestantes conclamaram a população a piscar as luzes de suas casas, buzinar e seguir com a multidãoChamou a atenção a consciência dos manifestantes, que fizeram silêncio ao passar na área hospitalar, próximo aos hospitais Santa Casa e São LucasAo chegar à Câmara, não havia policiais esperando, uma vez que tropas de choque e outras unidades ficaram presas no trânsitoMas não houve vandalismoOs manifestantes cantaram o hino nacional, escalaram a laje da entrada do prédio e hastearam uma bandeira do Brasil nos mastros do edifícioTambém entoaram lemas de apoio à redução das tarifas de transporte.