Jornal Estado de Minas

BH tem cada vez mais mulheres pilotando motos

Cada vez mais mulheres tomam as pistas de Belo Horizonte e dão demonstrações de educação e respeito no caótico trânsito da capital mineira em cima de duas rodas

Jorge Macedo - especial para o EM

Jefferson da Fonseca Coutinho

- Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press.


Elas estão na pistaE dão lições de respeito no caótico trânsito brasileiroSobre duas rodas, em lambretas ou em supermáquinas, mulheres motociclistas encaram o asfalto com a responsabilidade de quem dá valor à vidaCom paixão, charme e elegância, as belas das motocas se multiplicam estrada aforaNos passeios em rede social ou no dia a dia de trabalho, as motoqueiras responsáveis são exemploConscienciosas, elas nada têm a ver com a estupidez nos corredores das grandes metrópoles, que, em 10 anos, fez o número de mortes em acidentes de trânsito com motos no Brasil subir 263,5% – de 3,1 mil para 11,3 mil –, segundo o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Impossível Riesa Barbosa de Senna, de 40 anos, não roubar a cena por onde passaA engenheira fica ainda mais bonita em cima de sua Harley Davidson luminosaDesde os 27 anos, quando teve sua primeira máquina 250cc, a engenheira, de olhos verdes e sorriso cativante, já passou por seis modelosMoradora do Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital, Riesa considera péssimo o trânsito de Belo HorizonteDiz não gostar de pilotar nas ruas da cidade e, na medida do possível, procura usar a moto apenas para os passeiosEm maio, durante nove dias, Riesa e outros 16 motociclistas brasileiros percorreram 2 mil quilômetros da célebre Route 66, de Chicago até Los Angeles, nos Estados Unidos.

A engenheira comenta a “diferença gritante” da educação e condição de trânsito percebidas no exterior
“Nos EUA, as pessoas param para você passarNem é obrigatório o uso de capacete e as pessoas usam os equipamentos de segurança por cuidado e respeito à vida.” Riesa destaca que as vias são “todas muito bem cuidadas”Entretanto, revela que o que mais a impressiona fora do Brasil, em terras de mais cuidado entre os cidadãos, é a educação“As pessoas se respeitam e, no trânsito, isso faz toda a diferença”, avaliaSobre o prazer no guidão, a bela suspira: “Quando você está de carro, você vê a paisagemDe moto, você faz parte dela”.

Paixão

Alice Castro Monteiro, de 46, há 35 anos em Brasília, no Distrito Federal, começou a vida sobre rodas na garupa do avô, numa lambretaA bancária é uma das administradoras de grupo de sucesso na internet, com centenas de seguidoras no Brasil e no exterior – Mulheres Motociclistas e Apaixonadas por MotosMineira de Belo Horizonte, diz-se orgulhosa da condição de “motoqueira”Motoqueira ou motociclista? “MotoqueiraNão tenho nenhum preconceito

Antigamente, todo mundo era motoqueiroAgora é que criaram essa distinção, por causa dos motoboysNosso grupo é inclusivoNão tratamos ninguém com diferença”, ressalta.

Apaixonada por máquinas desde a infância, Alice tem carteira de habilitação AB“Dirijo caminhão tambémPor que não?”, sorriEla critica as escolas de direçãoPara a bancária, nenhuma autoescola prepara o motoqueiro para o trânsito“Se não bater num cone e colocar o pé certo no chão, você está habilitadoNão pode ser assim.” A bancária considera a moto o menor problema“O mais grave está no entorno de quem está no comando de uma motocicletaÉ tudo que envolve o trânsito: educação, comportamento e postura.”

“Para nós, mulheres, não basta pilotarTemos que pilotar bonitoÀs vezes, até nos recriminam pela nossa falta de ousadiaA gente se cuida e cuida do outroNossa ousadia fica para a hora certa”, diz AliceAna Lobo, de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é outra administradora do grupo Mulheres Motociclistas e Apaixonadas por Motos, do qual Alice faz parteAna, o marido e o filho, todos empresários, não abrem mão de suas máquinasEla tem uma BMW R800FO marido, Marcelo, de 43, tem duas Harleys, uma 1.200 e outra C.V.O.

No carnaval, o casal pilotou até Recife, em PernambucoNo ano passado, Ana esteve em Daytona, cidade do estado da Florida, nos Estados UnidosLá, participou do Daytona Bike Week, o maior encontro de motociclistas do mundo“É uma sensação incrível de liberdadeÉ maravilhoso quando estou pilotando”, considera a ladieA paixão da família é tamanha pelas máquinas que a casa em que moram, no Condomínio Alphaville, acaba de passar por reforma para integrar as motocicletas ao ambiente“Agora, nossas motos ficam dentro de casa”, alegra-se.


Riesa Barbosa de Senna, de 40 anos, engenheira - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press.Integração além das montanhas de Minas

Motociclista desde os 19 anos, Isabel Meirelles Rezende, de 54, acabou de ter a moto Honda Falcon 250cc roubada num estacionamento da Avenida Cristiano MachadoO aborrecimento só não foi maior porque em casa também tem uma Harley Davidson 1.200, com a qual tem viajado pelo BrasilO último passeio foi para Florianópolis, em Santa CatarinaIsabel não tem carro por opçãoProcura manter sempre duas motosUma para passeio e outra para a cidadeA professora de história, além de participar do grupo Mulheres Motociclistas…, faz parte do motoclube Medusas, com 26 integrantes além das montanhas de Minas.

“Uma paixão sem razão”Assim, a bela Fabíola Evelyn, de 31, define seu amor pelas motocicletasDona de uma Harley de 1.600 cc e 310 quilos, a policial civil faz duras críticas ao motorista brasileiro, especialmente o de Belo Horizonte, cidade que ela conhece muito bem“Muitos não aceitam a gente pilotando corretamente atrás dos carrosEles jogam a gente para os corredoresÉ muita maldadeA palavra é essa: maldade.” Para Fabíola, corredor é apenas para o trânsito paradoA policial vê o motorista como “egoísta”, preocupado apenas com o próprio umbigo.

Fabíola é outra motociclista, dama de cuidados e responsabilidade, que não acredita no ensino das autoescolasEla revela que, consciente, logo que conseguiu sua habilitação, aos 25 anos, passou duas semanas pilotando na companhia de amigos experientes para ganhar segurançaIntegrante do grupo Diablos, a policial sugere reforço em matéria de cidadania nas escolas“A questão passa pela educaçãoEm muitas autoescolas, por exemplo, os instrutores não estão preparados para ensinar”, critica.

ANTIQUADOS A empresária Ana Paula Moura, de 48, concorda com Fabíola em relação à falta de educação no trânsito“O problema é o mineiroEle é tão antiquado que, quando é ultrapassado por uma mulher, acelera, incrédulo, só para conferir se foi ultrapassado por uma mulher mesmoOs motoboys são ainda piores”, consideraHá um ano sobre uma BMW GS 650, Ana Paula diz que o amor pela velocidade está no sangueFilha e neta de motoqueiras, a empresária lamenta a fama de irresponsabilidade que a estupidez de muitos acaba promovendo.

Alice Castro, de 46, bancária - Foto: Maria AliceUma filosofia de vida

É uma mulher a presidente do Aguias de Aço em Minas GeraisDesde 1980, o grupo reúne 70 motociclistas e é muito respeitado em todo o BrasilJacqueline Lipovetsky, de 50, é filha do lendário Capitão Senra, motociclista até hoje na ativa, que já rodou meio mundo pilotandoQuando ganhou seu primeiro ciclomotor, sem dar conta de tamanha euforia, a bióloga rodou 80 quilômetros num único quarteirãoHoje, emociona-se ao falar do sonho motorizado herdado do pai, seu ídolo maior, fundador do Águias de Aço.

Jacqueline, com a autoridade de quem vive o assunto desde criança, lamenta o uso indevido e irresponsável das motocicletas no Brasil“Quem não conhece o nosso jeito de pilotar pensa que somos todos iguaisO motoqueiro criou um estigma para o motociclistaTenho medo dos motoboysEsta semana mesmo um deles chutou o retrovisor do meu carro.” A bióloga defende penas maiores para os infratores no trânsitoLonge da estupidez, na mesma rede social, Júnia Baroni Rainato, de 50, ainda comemora o sonho realizado há dois anos, quando entrou para o seleto grupo das motociclistas“Um sonho de liberdadeUma família”, ressalta.

Renata Perigolo Guerra, de 33, vê na paixão pelas motocicletas um forte laço de união com o marido, Marcelo Penna GuerraA engenheira e o economista, parceiros dos “melhores passeios”, estão ainda mais próximos por meio das motocas“De início, em Belo Horizonte, queria uma moto para trabalharÉ gostoso, barato, rápido e práticoComecei com uma scooterHoje, com nossas Harleys, descobrimos um outro lado, em grupos, com amizades sólidas e muito bonitas”, comentaÉ uma grande família, segundo Renata, unida por duas rodas e um sonho de liberdade.