Jornal Estado de Minas

Começa a borrifação de óleo para salvar os fícus da capital

Clarisse Souza
Óleo de nim, que deu certo em outras áreas, foi aplicado ontem em 50 árvores doentes da Avenida Barbacena - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press


Depois de uma série de testes em folhas e árvores de pequeno porte, o inseticida orgânico óleo de nim começou a ser aplicado nessa seguna-feira em 50 fícus doentes na Avenida Barbacena, no Bairro Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, por agentes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA)Desfolhadas, com galhos e troncos secos, as árvores sofrem há meses a infestação da mosca-branca-do-fícus (Singhiella sp.), praga milimétrica que suga a seiva da planta e pode causar a morte do espécimeNa semana que vem, o tratamento será intensificado com a pulverização de um fungo patogênico que, segundo a secretaria, é capaz de colonizar e matar o inseto.

A aplicação do inseticida é a primeira ação de controle da mosca-branca desde que a praga foi detectada nos fícus na capitalAté a semana passada, só haviam sido feitos testes para comprovar a eficácia do óleo de nim e do fungo Beauveria bassianaOs experimentos se concentraram principalmente nos exemplares atacados na praça da Catedral da Boa Viagem, no FuncionáriosNa sexta-feira, foi feita uma avaliação dos resultados, que comprovou a eficácia do óleo nas árvores doentesSegundo o engenheiro agrônomo Dany Sílvio Amaral, da SMMA, antes da aplicação do inseticida,foram detectadas uma média de 16 ninfas da mosca (etapa anterior à fase adulta) em cada folhaDepois de duas pulverizações do inseticida, feitas em um intervalo de 15 dias, esse número caiu para 0,3.

Nessa segunda-feira, a pedido da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, a BHTrans bloqueou a Avenida Barbacena entre a Avenida Augusto de Lima e a Rua dos TimbirasUm caminhão equipado com um atomizador começou o trabalho de pulverização das copas e do terço superior dos troncos dos fícusO óleo atua principalmente contra os insetos jovens, que têm o crescimento prejudicado pelo inseticida e acabam morrendo antes de atingir a fase adultaO trabalho na Barbacena será realizado até sexta-feira e a previsão é de que todas as árvores afetadas no Barro Preto, na Catedral da Boa Viagem e na Avenida Bernardo Monteiro, na região hospitalar, sejam tratadas até agosto.

Outra forma de controle que se mostrou eficaz foi o uso de adesivos amarelos presos ao tronco dos fícus
A cor atrai as moscas, que ficam presas e morrem, já que não podem se alimentarAs placas já estão sendo usadas nas árvores no Barro Preto e devem contribuir para a redução da população da praga.

A infestação já matou pelo menos 13 fícus em Belo HorizonteA ação da praga sugadora atingiu os galhos e troncos de cinco árvores na Avenida Barbacena e oito na Avenida Bernardo MonteiroSegundo o engenheiro agrônomo da SMMA, elas foram podadas devido ao risco de quedaDany Sílvio garante, no entanto, que nenhum fícus será cortadoAmbientalistas que defendem a preservação dos espécimes continuam a questionar as podasOntem, uma das árvores da Barbacena foi usada para protestarUma pessoa não identificada fez uma colagem simulando a marcação de corte do tronco da árvore e deixou a frase: “Corte aqui, se não tem amor à vida”

A integrante do movimento Fica Fícus, Patrícia Caristo afirma que o grupo vai continuar fazendo avaliações paralelas para evitar podas desnecessárias“Não concordamos com a forma como a prefeitura tem lidado com o problema
Acreditamos que a poda fragiliza as árvores antigas e está aumentando o risco de morte”, afirmaNo sábado, o movimento vai realizar mais um Piquenique do Fica-Fícus”, na Avenida Bernardo Monteiro, para cobrar agilidade no tratamento da espécie

Saiba mais

UMA PRAGA
MILIMÉTRICA

Os primeiros exemplares da mosca-branca-do-fícus foram detectados nas árvores de BH em julho do ano passadoA praga milimétrica atingiu espécies nas regionais Leste e Centro-Sul, o que fez com que a prefeitura criasse uma comissão especial, formada por profissionais da SMMA, Defesa Civil e outros órgãos, para encontrar uma solução para o problemaPodas preventivas foram realizadas nos primeiros meses do ano, mas a demora para a liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária do uso do óleo de nim acabou atrasando o tratamentoEm abril, o Ministério Público estadual chegou a entrar na discussão e cobrou esclarecimento sobre os critérios utilizados para a realização das podas e possíveis supressões.