Jornal Estado de Minas

Diplomados em confusão

Sem fiscalização, entorno de universidades em BH é tomado pelo caos

Faltam ônibus e segurança; sobram infrações e transtorno para comunidade acadêmica e vizinhos

Guilherme Paranaiba
Sinal verde para o transtorno: mistura de vans escolares, coletivos e carros particulares no horário de saída dos cursos é garantia de trânsito travado em bairros como o Buritis - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press

O relógio aponta 22h30 em Belo Horizonte, um horário que, na teoria, deveria ser marcado pela calmaria nas ruasMas não é bem o que acontece na prática em regiões da capital que têm uma característica em comum: abrigar universidades que oferecem cursos noturnosA um sinal que indica o fim das aulas, a tranquilidade desaparece como por encantoEm horários específicos entre as 22h e as 23h, na falta de intervenção do poder público, entram em cena o trânsito travado, o estacionamento de qualquer jeito, os furtos e roubos de veículos, o buzinaço, as discussões, os pontos de ônibus lotados e outros tipos de transtornosFoi a situação comprovada pelo Estado de Minas no entorno de grandes faculdades da cidade nos bairros Buritis e Estoril, na Região Oeste, e Coração Eucarístico e Caiçara, na NoroesteA falta de organização e de segurança nesses locais faz com que alunos, professores, funcionários e moradores sofram diariamente em um horário que o restante da cidade normalmente se prepara para dormir.

Marcado por um problema crônico de mobilidade, o Bairro Buritis, na Região Oeste da capital, é um dos que mais sofrem com o tumulto causado pela saída de alunos de cursos universitários noturnosNo coração do bairro está o UniBHNos limites com o Estoril, bairro vizinho, fica um câmpus da Newton PaivaJá na Avenida Raja Gabaglia, também no Estoril, há um câmpus da UNAA soma dessa concentração é um efeito cascata, que começa na Avenida Professor Mário Werneck, onde fica o UniBH, passa pela Rua Paulo Piedade Campos, localização da Newton, e alcança a Raja Gabaglia“A saída é um inferno
A Mário Werneck fica simplesmente intransitável”, diz o estudante de engenharia civil do UniBH Lucas Ramires, de 22 anos“Qualquer lugar é lugar para estacionar, não importa onde seja”, critica Marcus Santiago, de 23, que faz engenharia química na UNA.

Para a maioria das pessoas, as vans de transporte universitário estão entre os maiores vilãos do caos que se instala no entorno de grandes centros de ensino noturnoNa falta de local adequado para estacionar – e de fiscalização –, é comum vê-las paradas na fila dupla, em cima de passeios e em outros lugares proibidosMoradora da Rua Paulo Piedade Campos, no Estoril, em frente à Newton Paiva, a bióloga Lúcia Vasconcellos de Miranda, de 44, já perdeu as contas das vezes que ficou parada à espera de uma oportunidade de chegar em casa depois das 22h“É simplesmente um caosNão há nenhuma ordem nem ninguém para ordenarE a faculdade também não se mostra interessada em resolver o problema”, diz elaNo Coração Eucarístico, onde está localizado o maior câmpus da Pontíficia Universidade Católica (PUC Minas), os moradores também sofremO engenheiro Alyson Albuquerque, de 30, já encontrou mais de uma vez carros estacionados na porta de sua garagem“Costuma travar tudo por aqui
O transtorno é causado pela soma do movimento da escola e dos bares do entorno”, diz ele.

ÔNIBUS
Outro problema comum é a lotação dos pontos e dos de ônibus que atendem as comunidades após as 22hA principal reclamação é a quantidade insuficiente de coletivos para dar conta da demanda de estudantesAluno de engenharia de alimentos do UniBH, Demétrius Dias, de 24, afirma que é comum os veículos ficarem até 10 minutos parados esperando todos entrarem“A gente estuda no período noturno para poder trabalhar e acaba enfrentando a falta de estrutura para desenvolver nossas atividades”, diz ele.

Laís Soares é aluna da UNA da Raja Gabaglia e conta que os coletivos já chegam lotados aos pontos“Os ônibus passam antes em Nova Lima e nas demais escolas do BuritisImagine como estão quando alcançam a Raja”, reclamaComo se não bastasse o problema no transporte coletivo, não é difícil se deparar com uma fila de veículos de passageiros aguardando para chegar aos pontos, o que também complica o tráfego.

O superintendente de Operações da BHTrans, Fernando de Oliveira Pessoa, admite que não há estrutura para fiscalizar o trânsito após as aulas da noite em todos os locais onde há faculdadesMas afirma que há uma escala para fiscalizar os locais, com a presença de agentes da Guarda Municipal e da Polícia Militar, seguindo um rodízio nas faculdadesNa prática, ele diz que os agentes costumam visitar os endereços uma vez por semanaNas falta de maior estrutura, sobram críticas para a população“Gostaríamos que as pessoas tivessem mais consciência e lembrassem que, quando cometem uma infração, elas atrapalham várias outras”, diz.

Sobre a situação dos ônibus, a empresa informou por nota que acompanha o crescimento da demanda gerada pelas instituições de ensino e que são 10 linhas só para a região do Bairro Buritis – onde, aliás, fica a sede da empresa municipalMas não explicou o motivo da redução drástica nos horários da maioria das linhas, o que contribui para o caos no sistema na saída de alunos.

Ainda segundo o texto, duas linhas foram criadas no Buritis devido a essa demanda: 205 (Metrô Calafate-Buritis) e SE02, executiva que faz o trajeto até a SavassiDe acordo com o site da BHTrans, os coletivos da linha 205 rodam apenas de 20 em 20 minutos depois das 21hJá os executivos param após as 19h30.

Personagem da notícia:
Thiago Mafra Lara, 24 anos, universitário
Piora sensível em seis anos


Já formado em ciências contábeis pelo UniBH, Câmpus Buritis, onde passou quatro anos da vida acadêmica, Thiago resolveu voltar à faculdade para cursar administraçãoClaramente, ele vê a piora da situação nas vias do entorno, especialmente a Rua Líbero Leone e a Avenida Professor Mário WerneckSegundo ele, é comum ficar parado até mesmo dentro do estacionamento da instituição por muitos minutos, coisa que não acontecia no início de seu primeiro curso, em 2007Do lado de fora, o contador afirma que quando os agentes de trânsito da Polícia Militar e da BHTrans estão presentes, a situação é bem melhor“Quando vem polícia, o trânsito costuma fluirO problema
é que eles vêm poucas vezes e aí sempre enfrentamos problemasSem fiscalização, todo mundo faz o que quer”, afirma