Jornal Estado de Minas

Prédio mais alto da capital é mirante para a região central

Edifício Acaiaca, com 120 metros de altura, oferece visão privilegiada e revela belezas e problemas da capital

Jorge Macedo - especial para o EM

 Não é fácil chegar ao alto do Edíficio Acaiaca, que pode ser reconhecido pelas carrancas de índios esculpidas na fachada de cimento cru, em exposição na esquina de Avenida Afonso Pena com Rua Espírito Santo

Exatos 70 anos depois da construção, em 1943, o prédio continua sendo o mais alto de Belo Horizonte, com cerca de 120 metros

Primeiro, é preciso enfrentar 25 andares de elevador (superiores em altura aos 36 andares do Edifício JK, com 100m aproximadamente)Apesar de manter o design antigo, com arabescos dourados, a engrenagem das máquinas surpreendeA subida é rápida e inspira segurançaAo transpor o primeiro portão, lê-se na placa de ferro fundido: Administração do Condomínio do Edifício Acaiaca

Na recepção, é necessário assinar um protocolo, sob a supervisão de um segurança encarregado pelo síndico de vigiar os visitantes durante todo o percursoÉ sabido que o Acaiaca já foi palco de inúmeras tentativas de suicídio, consumadas ou nãoO homem parece tenso, evita dizer o próprio nome e alega que os funcionários são proibidos de dar entrevista

Depois de atravessar o pórtico da administração, surgem 37 degraus e quatro portões, no caminho até o telhadoDois deles estão trancados à chave e os outros dois a cadeado
No último obstáculo, o rangido da porta se abrindo e a ruga profunda na testa do encarregado indicam que o fim está próximoDe repente, a escada torna-se estreita, lembrando o acesso ao campanário de uma igrejaSão quatro lances de oito degraus cada um

É preciso coragem e fôlego para dar conta da escalada ao topo do AcaiacaEstamos quase láA escada chumbada na parede dá acesso ao alçapãoSó mais 12 degrausLá em cima, uma espécie de pirâmide de vidro oferece a última proteção ao visitanteAcabouVencidas todas as barreiras, apenas uma grade estreita, pintada de branco, nos separa do céu de Belo Horizonte
As pernas tremem, instintivamenteDá vertigem

Lá embaixo, a cidade ficou pequenaO Pirulito da Praça Sete parece caber entre o polegar e o dedo indicadorFormiguinhas correm para cá e para lá, freneticamenteAtravessam a faixa de pedestres da Avenida Afonso PenaO Parque Municipal lembra um pulmão verde para a cidade, mas está sufocado entre prédios espetados no entornoAo fundo, céu e montanhas azuis

Zonzo de tanta beleza, o porteiro quebra o silêncio regulamentar: “Daqui, a capital mostra toda a sua bonitezaPor outro lado, tudo isso me lembra estresse, agitação, trânsitoPrefiro a tranquilidade das pequenas cidades do interior”

A pobreza desvelada

Nem só do bom e do belo vive a capital vista de um ângulo superiorNos telhados, marquises e coberturas de pontos de ônibus, há uma cidade oculta que muitos moradores de BH ignoramUm dos inesperados encontros fica bem ali, na Praça Sete, no quarteirão fechado entre as ruas Carijós e São PauloCerca de 15 adolescentes e jovens moradores de rua dormem em cima da marquise revitalizada, em forma de meia-lua, a uma altura de cerca de quase 4 metros do chão“Não tem adulto aqui, nãoTem de ser jovem para conseguir subir na árvore e chegar lá em cima”, diz M., de 23 anosSegundo ele, apesar da altura, é mais seguro cochilar na marquise do que na rua.