Jornal Estado de Minas

Lazer na mira dos fiscais em Belo Horizonte

Depois de interditar 21 brinquedos no Parque Municipal, força-tarefa para barquinhos por falta de segurança. Inspeção se estende a outros centros de diversão e ao Mercado Central

Paula Sarapu Guilherme Paranaiba
César, de 5 anos, queria andar no cavalinho e foi levado pela avó, Aparecida, para ver barcos parados e peixes - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press

 

Belo Horizonte já conta com uma força-tarefa para fiscalizar áreas de lazer e entretenimento, a começar pelos parques de diversãoA pedido da prefeitura, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, em parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea/MG), deu início à verificação da segurança dos brinquedos e outros equipamentos, para evitar risco às criançasSó no Parque Municipal Américo Renné Gianetti, no Centro da capital, 21 brinquedos foram interditados até que três concessionárias apresentem laudo técnico que ateste as condições de segurança das partes elétricas

A suspensão das atividades no parque, segundo duas empresas responsáveis, pode deixar os brinquedos parados por cerca de 45 dias, até que os novos projetos sejam executadosOntem, os tradicionais barquinhos do lago do Parque Municipal também foram interditados e um engenheiro naval deverá atestar a responsabilidade pelo funcionamento seguroNa agenda da fiscalização, que poderá ser integrada por fiscais do Ministério do Trabalho e Renda e militares do Corpo de Bombeiros, estão o Parque Guanabara, na Região da Pampulha, e até o Mercado Central.

No Parque Municipal, dois brinquedos – os cisnes e as lanchas – foram interditados no sábado por falta de aterramento elétricoSegundo os fiscais, esse sistema evitaria, em caso de fiação desencapada, riscos de choque para as crianças, se a carga não fosse direcionada direto para a terraOs brinquedos pertencem à empresa Auto Mirim, mas o gerente não quis se pronunciarSegundo o administrador das empresas Dewal Diversões e Viúva Walfrido Araújo Cunha & Filhos, que se identificou apenas como Vagner, 14 brinquedos já têm esse sistema, mas ele deverá ser ampliado para cada dois ou três metros, criando uma rede de proteção

Laudo

Ele disse que o contrato com a Fundação de Parques e Jardins da prefeitura não exige o laudoSegundo ele, houve uma mudança na legislação e um novo documento ainda não foi emitido

Ontem mesmo ele já contratou uma empresa de engenheira elétrica, por R$ 7,5 mil, para elaborar o projeto, a ser concluído em 15 diasPara executá-lo, o prazo é de mais 30 dias“O que vamos fazer com tantos brinquedos fechados por todo esse tempo? Pedi a ao engenheiro elétrico que assine um laudo mostrando que não há nenhum problema com a estrutura atual, para tentar manter o funcionamento enquanto fazemos os ajustes e as melhoriasSó quero mais prazo porque, senão, o prejuízo será muito grande”, explicou Vagner.

De acordo com a gerente do parque, Tatiana Cordeiro, os laudos devem ser apresentados semestralmente e todos estão em diaAlguns venceriam só no fim do mês, mas o Crea-MG constatou que o laudo mecânico perdeu validade no fim de semana, o que já seria passível de notificação por parte dos órgãos competentes“Os brinquedos recebem manutenção frequente a parte elétrica tem uma nova normaOs órgãos inclusive terão de orientar a prefeitura a mudar seus contratos, mas essa interdição foi preventivaOs brinquedos nunca apresentaram problema de curto-circuito e sei que as empresas fazem um trabalho bastante responsável”, acrescentou a gerente

O engenheiro Nilson Luiz da Silva, da Defesa Civil, responsável pela interdição, informou que houve um acordo de cooperação mútua e abordagens em conjunto nas áreas de lazer da cidadeReuniões periódicas estão traçando o cronograma, para que cada órgão cuide do que é de sua responsabilidade
Na semana que vem, as visitas ocorrerão no Parque Guanabara“Todos estão sujeitosAqui no Municipal não é um risco iminente, mas é imprevisívelE, se existe o risco, pode haver dano.”

Crianças ficam decepcionadas

Com os brinquedos interditados, quem foi ao parque acabou frustrado por não poder brincarA manicure Almira Pereira, de 29 anos, levou o filho, Renan, de 2, para curtir a manhã no parque e acabou surpreendida pelos avisos deixados da Defesa Civil“Pelo visto não vai darAté eu queria andar na roda-gigante”, disseA criança não tem dúvidas na hora de escolher o brinquedo preferido e aponta para o bate-bate“Ele gosta muito de carrinho, o jeito agora é esperar resolver os problemas e voltar.”

A avó de César, de 5 anos, prometeu que o levaria aos brinquedos depois do exame de coração que ele fez ontem à tarde na Santa CasaO menino fará cirurgia e foi ao médico motivado pela diversão“Queria ir no cavalinho”, contou eleO jeito foi a diarista Aparecida Pinto, de 53, levá-lo para ver peixes e barcosJá o operário Wagner Maia, de 30, que estava de folga ontem, deixou os três filhos brincando no carrossel desligado“Saímos de Ribeirão das Neves para aproveitar o parque e eles acharam que a culpa era minhaSerá que consertam até domingo?”, indagou

A vendedora de pipoca Márcia de Fátima, 61, trabalha desde 1966 no parque e diz que foi pega de surpresa“São famílias inteiras que dependem da nossa atividadeNunca ocorreu issoTomara que os brinquedos voltem logo a funcionar”, dizO colega dela Eduardo Sena calcula queda brusca no faturamento“Se os brinquedos não funcionarem, o prejuízo vai ser alto.”