Pedro Ferreira
No vizinho Bairro Santo Agostinho, pelo menos dois assaltos a prédios foram frustrados este ano graças ao alerta dado por porteiros vizinhos, que avisaram os colegas sobre a presença de suspeitos na rua“O rádio tem sido muito importante para o bairroE tudo é feito corretamente, dentro do programa Rede de Vizinhos Protegidos”, disse o vice-presidente da Associação do Bairro Santo Agostinho, André Teixeira Gontijo“Todos os bairros têm condições de fazer isso, cada um com seu modo de operarAlguns usam apitos para alertar os vizinhos”, completa
No Santo Agostinho, segundo André, a rede já chega a 30 condomínios equipados
Jeferson Rios conta que ajudou a implantar o sistema de rádio também em condomínios do Cidade Jardim“Vamos nos reunir com moradores do Bairro Funcionários esta semanaEles vão criar uma associação de bairro e implantar o sistema de rádio, que tem dado resultados positivos”, disse JefersonSegundo ele, no Belvedere há duas associações de bairro, uma do setor que tem prédios, e que conta com o sistema de rádio e menos assaltos, e a área das casas, que tem sido o principal alvo dos ladrões.
Há dois anos, o porteiro Wesley Gadelha Vieira, de 20, trabalha equipado com rádio em um prédio do Santo Agostinho
O comandante do 22º Batalhão, tenente-coronel Alfredo Veloso, responsável pelo policiamento na Região Centro-Sul da capital, disse que a PM deu as orientações de como a Rede de Vizinhos Protegidos deveria ser operada e os moradores agregaram o rádio para facilitar a comunicação entre eles“No passado, havia o telefone celular comunitárioCom o rádio, o custo é menor e são mais pessoas conectadas ao mesmo tempo, o que amplia o contato entre vizinhos”, disse o coronel“O principal conceito do rádio é a comunicação entre eles e todo acionamento da PM deve ser pelo telefone 190, que tem o diálogo gravadoSe cada associação deixar um rádio no quartel, não teremos condições de escutar todo mundo”, alertou Veloso.
Vítimas se abalam ao falar da tortura
As regiões Centro-Sul, Noroeste e Pampulha, em Belo Horizonte, têm enfrentado uma onda de ataques a prédios residenciais, em ações na maioria das vezes muito violentasHá uma semana, mais de 15 vítimas de roubos reconheceram três acusados presos no Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul, como integrantes da quadrilha que as atacouA comerciante GMBde 47 anos, não conseguiu conter o choro ao avistar, na delegacia, dois dos cinco presos, que a torturaram por uma hora e meia, na manhã de 27 de março, em sua casa, no Bairro Bandeirantes, na Pampulha“Um verdadeiro terrorEles me violentaram emocionalmente, me torturaram o tempo todo Apanhei do portão até dentro da minha casaFizeram barbaridades comigo e a empregadaPegaram o motoqueiro da rua e também o fizeram refém na minha casaEram coronhadas, roleta-russa na minha cabeça, o medo de levar um tiroApanhei mais porque tentei defender a minha filha de 17 anos, que eles tentaram estuprar”, disse a vítima“Apanhei tanto que não aguentei ficar sentada depois, no Instituto Médico Legal, para onde a polícia me levou para o exame de corpo de delitoEstou toda roxa até hoje”, relatou a comerciante
Uma engenheira de 28 anos também saiu da sala de reconhecimento aos prantosHá duas semanas, o prédio dela, no Bairro Castelo, na Região Noroeste, foi invadido pela segunda vez, por quatro homens fortemente armados“Entraram em 22 apartamentos e levaram mais de 15 reféns para a minha casa, entre moradores e prestadores de serviço”, disse“O tempo todo eles ameaçavam matar a genteA tortura psicológica foi muito grande”, disseO vizinho dela, o volante do Atlético Leandro Donizete, não estava na horaO apartamento dele foi arrombado
Um americano teve o apartamento invadido no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-SulEle foi espancado pelos ladrões, que ameaçavam cortar a sua orelhaA funcionária da vítima acompanhou tudo“Eu tentei correr, mas fiquei com medo de morrerPerdi o jogo das pernasEram agressivos demais, xingavam muito, mas não maltratara a mim e nem a filha adotiva do meu patrãoEle, sim, apanhou demaisÉ mais velho, levou coronhadas, socos, chutesSentia a dor calado, pois eles ameaçavam arrancar sua orelha com o alicate”, disseEnquanto os criminosos agiam, a mulher, a filha da vítima e o vigia da rua foram mantidos deitados na cama, com o rosto virado para o colchão e com um cobertor jogado por cima.