Jornal Estado de Minas

Rede de rádio ajuda no combate ao crime na Região Centro-Sul de BH

Sistema de comunicação que une porteiros de condomínios se espalha por bairros de alto padrão como resposta a onda de assaltos, em esquema que resulta em acionamento da PM

Jorge Macedo - especial para o EM

Pedro Ferreira


Funcionários como Wesley Vieira ganharam um aliado na prevenção de crimes, e acabam ajudando até vizinhos que não integram o grupo - Foto: (Alexandre Guzanshe/Em/D.A Press)

Uma rede de comunicação via rádio se espalha entre porteiros e vem ajudando na prevenção de assaltos a prédios residenciais da Região Centro-Sul de Belo HorizonteA iniciativa da Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Amalou), que surge como resposta ataques cada vez mais frequentes a condomínios na capital, começa a se espalhar por outras regiões“Temos 60 rádios de comunicaçãoO que um porteiro fala, os outros 59 escutamUm avisa o outro sobre suspeitosAlém disso, um rádio foi entregue aos policiais militares da Patrulha do Bairro”, disse o representante da entidade, Jeferson Rios.

No vizinho Bairro Santo Agostinho, pelo menos dois assaltos a prédios foram frustrados este ano graças ao alerta dado por porteiros vizinhos, que avisaram os colegas sobre a presença de suspeitos na rua“O rádio tem sido muito importante para o bairroE tudo é feito corretamente, dentro do programa Rede de Vizinhos Protegidos”, disse o vice-presidente da Associação do Bairro Santo Agostinho, André Teixeira Gontijo“Todos os bairros têm condições de fazer isso, cada um com seu modo de operarAlguns usam apitos para alertar os vizinhos”, completa

No Santo Agostinho, segundo André, a rede já chega a 30 condomínios equipados
“Os porteiros têm conseguido abortar várias tentativas de rouboRecentemente, conseguimos impedir dois assaltos, na Rua Ouro Preto com Matias Cardoso e na Rua ParacatuNesse último, ladrões tentavam entrar num prédio que não tem rádio na portaria, mas o vizinho que tinha chamou a polícia e os ladrões fugiramOs prédios também têm câmeras e as imagens foram passadas para a polícia”, disse AndréSeguindo ele, os responsáveis pelas portarias formam um circuito de comunicação“Há um código de perigo entre elesO alerta vai se espalhando para toda a rede e também para a polícia”, explica André.

Jeferson Rios conta que ajudou a implantar o sistema de rádio também em condomínios do Cidade Jardim“Vamos nos reunir com moradores do Bairro Funcionários esta semanaEles vão criar uma associação de bairro e implantar o sistema de rádio, que tem dado resultados positivos”, disse JefersonSegundo ele, no Belvedere há duas associações de bairro, uma do setor que tem prédios, e que conta com o sistema de rádio e menos assaltos, e a área das casas, que tem sido o principal alvo dos ladrões.

Há dois anos, o porteiro Wesley Gadelha Vieira, de 20, trabalha equipado com rádio em um prédio do Santo Agostinho
“Já consegui alertar os colegas e a polícia sobre um roubo na drogaria ao ladoOs ladrões já tinham fugido e o pessoal da loja pediu minha ajudaQuando tem algum suspeito rondando os carros, olhando demais para motos ou para estabelecimentos comerciais, eu logo aviso os outros porteirosA polícia vem e faz a abordagem”, explica.

O comandante do 22º Batalhão, tenente-coronel Alfredo Veloso, responsável pelo policiamento na Região Centro-Sul da capital, disse que a PM deu as orientações de como a Rede de Vizinhos Protegidos deveria ser operada e os moradores agregaram o rádio para facilitar a comunicação entre eles“No passado, havia o telefone celular comunitárioCom o rádio, o custo é menor e são mais pessoas conectadas ao mesmo tempo, o que amplia o contato entre vizinhos”, disse o coronel“O principal conceito do rádio é a comunicação entre eles e todo acionamento da PM deve ser pelo telefone 190, que tem o diálogo gravadoSe cada associação deixar um rádio no quartel, não teremos condições de escutar todo mundo”, alertou Veloso.

 

 Vítimas se abalam ao falar da tortura

As regiões Centro-Sul, Noroeste e Pampulha, em Belo Horizonte, têm enfrentado uma onda de ataques a prédios residenciais, em ações na maioria das vezes muito violentasHá uma semana, mais de 15 vítimas de roubos reconheceram três acusados presos no Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul, como integrantes da quadrilha que as atacouA comerciante GMBde 47 anos, não conseguiu conter o choro ao avistar, na delegacia, dois dos cinco presos, que a torturaram por uma hora e meia, na manhã de 27 de março, em sua casa, no Bairro Bandeirantes, na Pampulha“Um verdadeiro terrorEles me violentaram emocionalmente, me torturaram o tempo todo Apanhei do portão até dentro da minha casaFizeram barbaridades comigo e a empregadaPegaram o motoqueiro da rua e também o fizeram refém na minha casaEram coronhadas, roleta-russa na minha cabeça, o medo de levar um tiroApanhei mais porque tentei defender a minha filha de 17 anos, que eles tentaram estuprar”, disse a vítima“Apanhei tanto que não aguentei ficar sentada depois, no Instituto Médico Legal, para onde a polícia me levou para o exame de corpo de delitoEstou toda roxa até hoje”, relatou a comerciante

Uma engenheira de 28 anos também saiu da sala de reconhecimento aos prantosHá duas semanas, o prédio dela, no Bairro Castelo, na Região Noroeste, foi invadido pela segunda vez, por quatro homens fortemente armados“Entraram em 22 apartamentos e levaram mais de 15 reféns para a minha casa, entre moradores e prestadores de serviço”, disse“O tempo todo eles ameaçavam matar a genteA tortura psicológica foi muito grande”, disseO vizinho dela, o volante do Atlético Leandro Donizete, não estava na horaO apartamento dele foi arrombado

Um americano teve o apartamento invadido no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-SulEle foi espancado pelos ladrões, que ameaçavam cortar a sua orelhaA funcionária da vítima acompanhou tudo“Eu tentei correr, mas fiquei com medo de morrerPerdi o jogo das pernasEram agressivos demais, xingavam muito, mas não maltratara a mim e nem a filha adotiva do meu patrãoEle, sim, apanhou demaisÉ mais velho, levou coronhadas, socos, chutesSentia a dor calado, pois eles ameaçavam arrancar sua orelha com o alicate”, disseEnquanto os criminosos agiam, a mulher, a filha da vítima e o vigia da rua foram mantidos deitados na cama, com o rosto virado para o colchão e com um cobertor jogado por cima.