Jornal Estado de Minas

Estudantes de medicina contrataram 'dublês' para fazer vestibular em Patos de Minas

Quatro alunos serão autuados por falsidade ideológica e documental e estelionato. Eles estão regularmente matriculados, mas pagaram entre R$ 20 e R$ 50 mil para que outras pessoas, usando documentos falsos, fizessem a prova

Luana Melody Brasil - Especial para o EM

Inquérito policial com as assinaturas dos suspeitos que foram usadas como prova pericial - Foto: Maurício Rocha/Patos Hoje

Quatro estudantes de medicina são suspeitos de fraudar o vestibular do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam), no Alto Paranaíba, porque contrataram “dublês” para fazer a prova e conseguir ingressar na instituiçãoSegundo a polícia, os alunos, agora regularmente matriculados, teriam pagado entre R$ 20 mil e R$ 50 mil para que outras pessoas participassem do processo seletivo

De acordo com o titular da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio Tóxico e Entorpecentes, Luís Mauro Sampaio, a Unipam procurou a polícia depois de receber uma denúncia anônima sobre a fraude no processo seletivo, que aconteceu em 18 de novembro de 2012A polícia iniciou a investigação, concluída nesta quinta-feira, data em que o inquérito será repassado ao Ministério Publico de Minas Gerais

Segundo a denúncia, alunos que não fizeram o vestibular estariam matriculados no curso de medicinaCom quatro meses de apurações, a polícia identificou os universitários, que foram ouvidos e tiveram comparadas as letras escritas em atividades realizadas em sala de aula com a tipografia da prova de redação do vestibular, assim como a assinatura no ato da matrículaDe acordo com o delegado, havia discrepância na característica das letras, o que ajudou a comprovar a fraude

- Foto: Maurício Rocha/Patos Hoje

“Ficou categoricamente provado que não foram eles que fizeram a prova de redaçãoEles contrataram pessoas com capacidade melhor para fazerem a prova e depois os verdadeiros candidatos se matricularam”, relata o delegadoTudo indica que os quatro estudantes tenham se conhecido pela internet e que usaram os serviço de um quadrilha especializada em golpes em provas do vestibularEssa organização criminosa é investigada pela Polícia Federal.

Conforme o delegado, os “dublês” usaram carteiras de identidade falsificadas no dia da prova

Porém, as quatro pessoas envolvidas ainda não foram encontradasPor enquanto, a polícia só chegou aos contratantes, que serão autuados por falsidade ideológica, falsidade documental e estelionatoSobre esse último item, o delegado esclarece que há doutrinas do direito que não entendem a tipificação do crime para fraude em vestibulares, mas ficará a cargo do MPM decidir sobre a denúncia que será encaminhada à Justiça

Os acusados são Danilo Barbosa Resende, 18, de Porangatu (GO); Marcos Lázaro Donato Barbosa, 23, de Guanambi (BA); Eduardo Bodanesi Fontana, 33, Lajes (SC); e Artur Queiroz de Oliveira, 28, de Natal (RN)Os quatro atualmente moram em Patos de Minas e ainda estudam na UnipamO delegado repassou o inquérito para o centro universitário ontem, mas a instituição de ensino ainda não se manifestou sobre os procedimentos que serão adotados em relação aos alunosOs quatro não foram detidos pois, segundo o delegado, são réus primários e não caberia nesse momento a decretação da prisãoSe o MPMG solicitar, eles podem ser presos, mas é provável que respondam ao processo em liberdade.

- Foto: Maurício Rocha/Patos Hoje Depoimento x redação

A equipe de investigadores mostrou aos suspeitos trechos da prova de redação, para que eles tentassem reconhecer se escreveram aquelas frasesNa prova de Danilo Barbosa, havia a palavra “iconográfico”, uma citação sobre o ex-ministro e economista, Delfim Neto, e uma referência a “homo sapiens”O delegado perguntou a Danilo se ele sabia o significado das expressões ou se conhecia o profissional citado no texto
O estudante disse que não conhecer as palavras e nem saber quem é Delfim Neto. 

Sampaio destacou a importância da denúncia da Unipam nesse caso“A faculdade prezou pela questão futuraEsses profissionais seriam indivíduos que entraram sem nenhum mérito e ao final se tornariam médicosComo seria o atendimento dessa pessoas?” concluiu Sampaio.